Pacientes renais não conseguem marcar consultas por aplicativo em Roraima e temem perder TFD


Eles precisam das consultas para marcar viagens e realizar Tratamento Fora de Domicílio. Marcação e acompanhamento de consultas pelo Meu SUS Digital ocorre desde julho de 2024. Pacientes renais não conseguem marcar consultas por aplicativo em Roraima
“A gente mal tem energia aqui, vive falhando, e a internet é pior ainda”, desabafou o paciente renal e transplantado Sílvio Teixeira sobre os problemas enfrentados com o aplicativo Meu SUS Digital. Ele é um dos pacientes que protestaram nessa sexta-feira (10), na Policlínica Coronel Mota, em Boa Vista, onde exigiram melhorias e soluções para as falhas do sistema.
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A falta de conexão com o aplicativo preocupa os pacientes, que temem perder o acesso ao Tratamento Fora de Domicílio (TFD), já que as consultas são essenciais para agendar as viagens fora do estado. O TFD exige que os beneficiários comprovem, entre outros documentos, a realização das consultas.
Procurada, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) informou que o SISREG, sistema de dados utilizado pelo SUS, está fora do ar e acionou o Ministério da Saúde para as providências cabíveis. Quando for normalizado, a pasta deve informar ao público.
“O telefone WhatsApp (95) 98416-6166 está disponível para consulta por meio de mensagem escrita (não enviar áudio e nem efetuar ligação)”, completou.
🏥 Administrado pelo governo por meio da Sesau, o Coronel Mota é única unidade no estado que disponibiliza médicos especialistas na modalidade consulta eletiva – quando o paciente não apresenta quadro de urgência ou emergência. Atualmente, o aplicativo é a única maneira de agendar e acompanhar consultas médicas.
Ailza tem 2 trasnaplantes e está com riscos de comprometer seus enxertos pela falta de medicação
Ailton Alves/Rede Amazônica
Ailza Batista é uma das pacientes prejudicadas. Ela passou por dois transplantes e desde dezembro está sem medicamento, pois não consegue marcar a consulta pelo aplicativo. Pela regras do TFD, ela deve viajar a cada 90 dias para ser examinada por um especialista, que fornece o laudo para retirar os medicamentos.
“Eu estou no meu segundo transplante, eu vou acabar perdendo o meu enxerto [rim transplantado]. E é isso que jamais um transplantado quer, porque nós transplantados dependemos dessa consulta em dia para poder ter um novo laudo, para poder pegar nosso remédio e entrar no TFD para viajar novamente”, disse, ao explicar que a principal queixa é o aplicativo fora do ar.
Como funciona o agendamento
👉 Para o retorno do TFD, o que precisa ser feito a cada 90 dias, os pacientes vão à unidade de saúde e pedem que a consulta seja marcada. Depois, recebem uma senha para registrar o pedido de consulta no aplicativo e só então são informados se foi marcada ou não. Nesta etapa, eles não conseguem conexão com o aplicativo.
A marcação e acompanhamento de consultas pelo Meu SUS Digital ocorre desde julho de 2024. À época, o governo de Roraima informou que a mudança era para seguir orientações do Ministério da Saúde e seria para “acolher melhor os pacientes”.
🔎 Em geral, o agendamento no aplicativo é feito nas UBSs, que são os postos de saúde das prefeituras, mas, as consultas são marcadas para o Coronel Mota, que é a unidade estadual onde a população de Boa Vista, do interior e até da Guiana e da Venezuela é atendida.
Pacientes relatam que aplicativo fica fora do ar quando precisam ver consultas
Ailton Alves/Rede Amazônica
Ao procurar a unidade, os pacientes recebem a resposta de que os atendimentos estão normalizados, segundo Silvio Teixeira. Eles devem ir ao Ministério Público de Roraima (MPRR) para cobrar investigações.
“Essa semana teve uma paciente que fez uma denúncia quanto a isso e a Sesau respondeu o que estava tudo normal, tava funcionando tudo normal. Na verdade não tá, entendeu? Porque se tivesse normal ninguém reclama”, disse Silvio Teixeira.
‘Complicado para o paciente’
Para Silvio Teixeira, se a nova modalidade de atendimento funcionasse, seria uma vantagem para os pacientes que, além de ganharem mais tempo para a prestação de contas do TFD, também não precisariam se deslocar somente para marcar as consultas.
“Isso é complicado para o paciente. Imagina quem mora no interior, ter que vir para a capital só para pegar uma informação dessa [saber se a consulta foi marcada]. Às vezes o aplicativo sai do ar e quando volta para o paciente olhar o prazo já passou.”
Daliana é transplantada há 16 anos e está com apenas 20% dos seus rins funcionando
Ailton Alves/Rede Amazônica
Outro problema relatado é a falta de medicamento na rede de saúde. Daliana Silva de Oliveira é transplantada há 16 anos e atualmente seus rins estão passando por uma rejeição, com apenas 20% deles funcionando. Ela precisa do medicamento Azatiopinia, porém desde outubro de 2024 o medicamento está em falta e nem existe previsão para ser reposto.
“É complicado porque a gente tem que comprar e uma caixa custa R$ 250 reais, é difícil porque a gente não tem condição de comprar essa medicação […] Eu necessito dessa medicação. E as consultas também que a gente precisa para pegar o laudo, para renovar, a gente está fazendo tudo certo, mas o aplicativo também não ajuda.”
Em outubro do ano passado, o g1 mostrou que pacientes perderam suas consultas com diversas especialidades devido ao mau funcionamento do aplicativo. À época, o Ministério da Saúde disse que a ferramenta “Solicitações Reguladas” passa por uma atualização e que os estão em constante evolução tecnológica para garantir a qualidade no atendimento.
Já a Sesau responsabilizou o Ministério da Saúde e disse no local “foi instituído o setor ‘Posso Ajudar’ que faz a consulta individual e o paciente deve aguardar o atendimento para efetuar a pesquisa, que pode ser feita inclusive na recepção da unidade hospitalar.”.
Os Pacientes se reuniram pela manhã na frente do Coronel Mota
Rede Amazônica
*Estagiário sob supervisão de Samantha Rufino, do g1 RR
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