Há 25 anos, TG mostrava pela 1ª vez comportamento de reprodução do galo-da-serra


Equipe foi pioneira no registro da espécie na televisão brasileira; confira os bastidores. Há 25 anos, TG mostrava pela 1ª vez comportamento de reprodução do galo-da-serra
Há 25 anos, em uma sexta-feira de verão, era exibida uma reportagem do Terra da Gente sobre uma das aves mais bonitas do Brasil. O material, divulgado pelo Globo Repórter, trazia pouco mais de onze minutos inéditos sobre o cortejo e o ninho do galo-da-serra (Rupicola rupicola), na Amazônia.
Poucos meses antes, em novembro de 1999, começava a aventura do repórter Ciro Porto e do cinegrafista Carlos Alberto Coutinho para conseguirem capturar momentos nunca antes mostrados na televisão brasileira.
“O galo-da-serra não tinha sido gravado antes, então nós fomos lá para a região de Presidente Figueiredo, no Amazonas, atrás dele. Só que a gente não queria simplesmente achar a ave, mas sim mostrar o ritual de acasalamento, que é bem específico”, relembra o jornalista Ciro Porto.
Mais de 2.700 quilômetros foram percorridos, do Sudeste até o Norte, até a equipe adentrar na floresta atrás de pequenos pontos laranjas em meio à imensidão verde e densa. Acompanhados de um ornitólogo, que atraiu a espécie replicando o canto em um gravador, avistaram o macho, todo colorido, e posteriormente a fêmea, em tons marrons.
A equipe do Terra da Gente passou dias em Presidente Figueiredo, no Amazonas, gravando o galo-da-serra
Carlos Alberto Coutinho
O primeiro passo tinha dado certo. Agora, era necessário achar a chamada “arena”, local em que os machos do galo-da-serra limpam o solo com as asas para criar o ‘palco’ ideal para realizar o cortejo. Como o objetivo principal da ave é exibir as penas especiais localizadas nas costas, nada no chão pode grudar na região e atrapalhar, por isso fazem a varredura.
“Depois de muito custo, finalmente achamos a arena e ficamos lá parados, uns dois dias, em pé, esperando todo display acontecer. Só que nada acontecia, os machos não desciam ao chão e chegamos a conclusão que estavam estranhando a gente e o equipamento grande”, conta o cinegrafista Carlos Alberto Coutinho.
A solução foi ir até a cidade comprar tecidos para montar uma barraca. Não acharam, então improvisaram. Com quatro redes de dormir de estampa camuflada, a equipe montou um esconderijo bem próximo do espaço onde as aves supostamente fariam a apresentação. O jeito era se esconder na estrutura e esperar, em silêncio, a movimentação acontecer.
Esconderijo foi montado pela equipe para conseguir filmar as aves
Carlos Alberto Coutinho
A estratégia funcionou, e sem perceber a presença humana ali, as aves começaram a ensaiar as apresentações. “Eu ficava o dia inteiro na barraca tentando capturar as cenas e o Ciro e o resto da equipe ficavam andando pela floresta atrás de outros galos-da-serra. Às vezes, eles queriam saber alguma informação que estava acontecendo, então assoviavam e, se eu a assoviasse na sequência, eles podiam vir”, diz Coutinho.
Nesses rápidos encontros, baterias eram trocadas e ocorria o abastecimento de água e comida para o cinegrafista. Foram três dias de gravação dentro da barraca, mas cada momento valeu a pena. As câmeras capturaram toda a dança dos machos para a fêmea que, pouco acima, nas árvores, observou o show até escolher o parceiro.
Enquanto isso, outra descoberta foi feita. Em uma caverna próxima, no alto de uma rocha, a equipe conseguiu encontrar um ninho do galo-da-serra, que também foi filmado rapidamente para não estressar a fêmea. Na ocasião dois ovos, em meio a um ambiente úmido e escuro, eram chocados e esperavam pelo momento de eclodir.
“A gente tinha uma câmera pequenininha e amarramos, em um bambu, para poder fazer uma imagem do ninho mais de cima, mas não demorávamos muito para não atrapalhar”, conta o cinegrafista que diz que, apesar de possuírem equipamento de qualidade, os recursos na época eram escassos.
Fêmea de galo-da-serra chocando ovos
Carlos Alberto Coutinho
Testemunhar o clico de renovação da vida de uma das aves mais encantadores da floresta amazônica foi um marco na época e sempre será lembrado pela a equipe do TG com muito carinho e entusiasmo.
“Foi aquela sensação de dever comprido, de ter conseguido gravar um momento difícil, quase impossível de conseguir. Foi uma alegria muito grande”, finaliza Ciro Porto.
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