Anabolizantes ilegais vendidos online continham repelente para inseto; entenda riscos do uso para fins estéticos


A prescrição de anabolizantes para ganhos de rendimento, massa muscular ou fins estéticos foi proibida pelo Conselho Federal de Medicina. A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu suspeitos de fabricar e vender anabolizantes clandestinos.
Entre os 15 presos está Miguel Barbosa de Souza Costa Júnior, conhecido como Boss. Segundo a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio, ele é responsável pela produção e venda ilegal de pelo menos oito marcas de anabolizantes. Outro homem foi preso em um navio de cruzeiro.
A investigação começou depois que o setor de fiscalização dos Correios registrou grandes remessas de anabolizantes saindo de duas agências de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. A Polícia Civil passou, então, a monitorar as entregas e identificou fabricantes de diferentes marcas ilegais, como Next e Thunder. Marcas que patrocinam alguns dos maiores campeonatos de fisiculturismo do país.
“Uma estrutura extremamente organizada, bem planejada, que resultou em uma circulação financeira de, só nesses seis meses de investigação, entorno de R$ 80 milhões”, diz o delegado Luiz Henrique Marques.
Anabolizantes ilegais vendidos online continham repelente para inseto; entenda riscos do uso para fins estéticos
Jornal Nacional/ Reprodução
Sem registro na Vigilância Sanitária, os produtos eram vendidos de forma clandestina pela internet para todo o Brasil. Os consumidores não tinham como saber o que havia dentro dos frascos. As investigações revelaram, por exemplo, a presença de substâncias para combater sarna e piolho.
“Não apenas por serem anabolizantes, mas sim por serem de procedência ignorada, sem que houvesse no rótulo a indicação de elementos obrigatórios por lei, como identificação do CNPJ da empresa, entre outros elementos… A composição… Fora a ausência de registro, a autorização do órgão competente, no caso a Anvisa”, afirma Pedro Simão, promotor do Gaeco/MPRJ.
Anabolizantes no Brasil
Jornal Nacional/ Reprodução
Os anabolizantes são produtos sintéticos geralmente derivados do hormônio sexual masculino: a testosterona. No Brasil, o uso de derivados da testosterona é regulamentado para tratamentos de saúde, com receita médica. Mas a prescrição de anabolizantes para ganhos de rendimento, massa muscular ou fins estéticos foi proibida pelo Conselho Federal de Medicina.
“Não existe indicação de fazer hormônio para ninguém por fim estético. Você faz a nível medicamentoso para pessoas que têm necessidade. Homem, conforme vai envelhecendo, a partir de 40 anos de idade, o hormônio dele vai caindo 1% ao ano. Em alguns homens, essa queda é mais intensa e ele precisa de reposição de hormônio para manter a vida dele saudável. Mas a maioria do uso inadequado são jovens que querem aumentar a massa muscular”, explica o médico Mauro Muniz, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia no RJ.
“O que normalmente acontece é as pessoas querem resultado mais rápido, resultado além do que o corpo delas é capaz de promover dentro da genética e do espaço de tempo que elas têm”, afirma o preparador físico Rafael Lund, mestre em Ciências do Desporto.
Durante a operação foram apreendidas mais de 2 mil ampolas de anabolizantes, além de três pistolas e uma escopeta. Vinte e três suspeitos vão responder por associação criminosa, crime contra a saúde pública e crimes contra as relações de consumo.
Especialistas alertam para os riscos de usar anabolizantes sem orientação médica.
“O uso de anabolizantes pode levar a hipertensão arterial, arritmia, outras doenças do coração. Pode provocar o desenvolvimento de determinados tipos de câncer – como de fígado, mama – e que também pode aumentar o risco de trombose, levando a isquemia cerebral. A gente tem observado pessoas que estão morrendo por conta do uso de anabolizante”, afirma a médica endocrinologista Karen de Marca.
O Jornal Nacional não conseguiu contato com a defesa de Miguel Barbosa Costa Júnior e com a dos outros presos na operação. Os responsáveis pelas marcas Next e Thunder não deram retorno aos contatos.
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