Nova lista de mamíferos do Brasil inclui sete espécies e tem um registro ‘duvidoso’


Alterações abrangem grupos como roedores, marsupiais, morcegos, tatus e primatas. Pesquisadores e usuários enviam sugestões, correções e atualizações. Plecturocebus parecis foi observado em regiões como Mato Grosso e extremo Sul de Rondônia.
Alberto Caldeira/Arquivo pessoal
A Sociedade Brasileira de Mastozoologia (SBMz) lançou a versão atualizada da Lista de Mamíferos do Brasil. Em sua sétima atualização, a lista de 2024 reconhece 785 espécies nativas com ocorrência confirmada no Brasil, sete a mais que o levantamento de 2023.
O arquivo em forma de planilha contém uma lista detalhada das espécies nativas de mamíferos ocorrentes no Brasil, incluindo classificação taxonômica, dados da descrição das espécies (autor, ano, referência), dados de ocorrência nos estados e biomas, status de conservação e dados biológicos das espécies (dieta e locomoção).
Segundo a SBMz, nesta versão da lista foram adicionadas oito novos animais, sendo que um foi transferida para a lista de espécies com registros duvidosos no Brasil. As espécies de mamíferos brasileiros estão organizadas em 11 ordens, 49 famílias e 250 gêneros. Veja a lista de nomes atualizados:
Euryoryzomys cerqueirai
Oecomys jamari
Rhagomys jequitiba
Dasypus guianensis
Marmosa tyleriana
Molossus melini
Trachops ehrhardti
Tamarinus pileatus
Plecturocebus parecis (transferida para registros duvidosos)
Ana Carolina Loss, uma das pesquisadoras voluntárias envolvidas na publicação, explica que a adição de novas espécies na lista tem sempre publicações científicas como base e pode ocorrer após a descrição formal de uma nova espécie, um novo registro de ocorrência no Brasil ou ainda depois de estudos de revisão taxonômica.
“A forma mais direta é a descrição de uma nova espécie com ocorrência no Brasil, como foi o caso da espécie nova de rato-do-mato (Rhagomys jequitiba), conhecida de apenas uma localidade na Mata Atlântica de Minas Gerais e descrita ano passado”.
O morcego Molossus melini é um exemplo de espécie que já era conhecida para a ciência, mas não havia sido registrada no Brasil ainda. “A espécie havia sido descrita em 2021, com ocorrência conhecida apenas na Argentina, e foi registrada pela primeira vez no Brasil no ano passado, em regiões de Mata Atlântica do estado do Paraná”.
Nos casos de revisão taxonômica, os indivíduos já eram conhecidos no Brasil, mas estavam classificados erroneamente em outras espécies ou em um nível hierárquico diferente, como por exemplo, no nível de subespécie e não de espécie.
O macaco sauim (Tamarinus pileatus) é um exemplo. A espécie foi originalmente descrita em 1848, no entanto, cerca de 100 anos após a sua descrição, sua validade como espécies foi contestada e ela foi considerada como uma subespécie. Mais recentemente, seu status de espécie foi revalidado e, por isso, ela passou a figurar a lista de espécies de mamífero do Brasil.
Rato-do-arroz (Euryoryzomys cerqueirai)
nadiacavalcant / iNaturalist
Registros duvidosos
Uma parte também presente no arquivo é a lista de espécies com registros duvidosos. De acordo com a bióloga, ela se refere a espécies que potencialmente poderiam ocorrer no Brasil, mas carecem de mais evidências científicas para terem sua presença em território nacional confirmada.
O primata (Plecturocebus parecis), espécie recém-descrita da Amazônia, foi transferido para a lista de espécies de registros duvidosos porque sua validade taxonômica – ou seja, seu status de espécie – foi questionada em um artigo científico.
“Estudos sugerem que ela não seja uma espécie válida e que os indivíduos classificados anteriormente como sendo dessa espécie pertencem, na verdade, a outra espécie. No entanto, a espécie é pouco conhecida e são necessários mais estudos para confirmar se ela realmente é uma espécie válida ou não”, esclarece.
Biodiversidade dinâmica
Fundamentais para a gestão da informação sobre a biodiversidade e sua conservação, esse e outros tipos de listas permitem avaliar quais espécies correm risco de extinção, quais são de interesse econômico e quais são de interesse para saúde pública, para citar alguns exemplos.
“As atualizações são essenciais, pois essas listas são muito dinâmicas, tanto no sentido de descrição de novas espécies, quanto nas mudanças de nomenclatura que precisam ser incorporadas às listas”, afirma Ana Carolina.
O trabalho do comitê de voluntários que organizou o material começou em 2020 e, desde então, foram feitas quase 80 alterações na lista de espécies, entre adições e exclusões. “Ou seja, de um ano para o outro são quase 20 mudanças, que se não forem feitas, podem deixar defasado o nosso conhecimento sobre a biodiversidade brasileira”, completa.
Com a descoberta do Plecturocebus parecis, há agora 24 espécies de zogue-zogue descritas.
Manoel Pinheiro/Arquivo pessoal
Categorias mais ameaçadas
Para analisar as ordens de mamíferos mais ameaçados da lista foi preciso pensá-la sob dois critérios: números relativos e números absolutos de espécies. Em termos de números relativos, as ordens Perissodactyla e Sirenia são as mais ameaçadas, pois apresentam 100% das suas espécies classificadas em alguma categoria de ameaça.
Perissodactyla é representada por apenas uma espécie no Brasil: a anta (Tapirus terrestris) – que é classificada na categoria Vulnerável (VU) pelo ICMBio. Já Sirenia, apresenta duas espécies de peixe-boi com ocorrência no Brasil: o peixe-boi-da-amazônia (Trichechus inunguis), classificado na categoria VU; e o peixe-boi-marinho (Trichechus manatus), na categoria Em Perigo (EN).
Em números absolutos de espécies ameaçadas, a ordem Primates aparece como a mais ameaçada, uma vez que inclui 32 espécies em alguma categoria de ameaça, sendo que 6 delas são consideradas Criticamente em Perigo (CR). “Isso significa que 1 a cada 4 espécies de primatas do Brasil corre o risco de sumir da natureza”, alerta a especialista.
“A grande maioria dessas espécies ameaçadas são animais de grande porte, bastante visados para a prática de caça. Além disso, por terem um corpo grande, necessitam de uma área extensa para sobreviver. No entanto, elas veem perdendo cada vez mais espaço devido a expansão de fronteiras agrícolas e crescimento urbano e industrial”, comenta.
Outro problema é o isolamento das populações pela construção de rodovias. Para além das causas já registradas de redução do habitat dessas espécies, estudos mostram que elas devem perder ainda mais espaço nas próximas décadas devido aos efeitos das mudanças climáticas.
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