Estudo inédito mostra como lagartas se protegem contra ataques

Duas espécies de lagarta tem associação com espécies de formiga por proteçãodivulgação/Usp

Pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP) observaram que algumas lagartas usam estratégias comportamentais e químicas para sobreviver ao lado de formigas que poderiam facilmente matá-las.

O estudo revelou que esse tipo de lagarta mirmecófila – que interage com formigas – possui estruturas especializadas que liberam um tipo de químico açucarado e sinais químicos específicos para as formigas com quem se relacionam.

Proteção de espécies relacionadas

Em um “pacto de proteção”, esses sinais funcionam como promessas de recompensa: se as formigas não atacarem, serão recompensadas. A pesquisa analisou que, quando essas lagartas vivem em plantas habitadas por formigas da mesma espécie com as quais têm parceria, são aceitas e protegidas.

Ao serem transferidas para plantas ocupadas por formigas que essas lagartas não se associam, elas são vistas como intrusas e constantemente mortas. As análises químicas do estudo mostraram que os cheiros das lagartas são únicos e isso as tornam identificáveis quimicamente. Isso mostra como o comportamento funciona em um sistema específico entre espécies.

Metodologia

O estudo foi conduzido na Sede da Estação Ecológica da Serra das Araras em Porto Estrela, Mato Grosso, e coletou amostras de duas espécies de lagartas mirmecófilas, a Juditha molpe e a Nymphidium chione, com 66 e 60 lagartas, respectivamente. Cada uma dessas espécies de lagarta tem interações exclusivas com certas espécies de formigas e desovam em plantas frequentadas por esses animais. 

Os pesquisadores dividiram a população estudada em campo em dois grupos. No grupo controle, os cientistas removeram as lagartas Juditha molpe e Nymphidium chione de suas plantas hospedeiras e as colocaram em plantas diferentes, ocupadas por outras formigas da mesma espécie que essas lagartas costumam se associar. 

No experimento teste, os cientistas colocaram as lagartas em plantas diferentes e ocupadas por espécies de formigas com as quais elas nunca se associaram na natureza.

O estudo observou alto grau de aceitação entre formigas e lagartas associadas e alto grau de rejeição entre formigas e lagartas não associadas divulgação/Usp

O experimento demonstrou que as duas espécies de lagarta foram aceitas pelas suas respectivas formigas “parceiras” quando transferidas para outro ambiente, e ambas eram atacadas por espécies que não tinham relações. A taxa de aceitação e rejeição não variou entre os animais.

Identificação pelo odor

Em entrevista ao Jornal da USP, o pesquisador Luan Dias Lima comentou que essas lagartas são identificadas a partir de seu cheiro. Segundo ele, análises químicas mostraram diferentes concentrações de compostos entre esses animais, o que evidencia um cheiro diferente para cada espécie de lagarta. 

Luan explica que existem lagartas que transmitem cheiros de plantas e passam despercebidas; cheiros das próprias formigas e são acolhidas como parte da colônia; e desta vez, cheiros desse doce específico. Para o biólogo, é muito importante reconhecer os mecanismos por trás de cada uma dessas estratégias.

Próximos passos

“Nós queremos entender também como essa relação afeta outros seres daquele ecossistema – como as plantas, por exemplo”, afirma Luan, sobre os próximos passos. Ele explica que o doce liberado pelas lagartas apresenta um valor nutricional, o que atrai as formigas. “Agora, iremos investigar se esse açúcar é mais interessante ou mais nutritivo do que o açúcar que as plantas oferecem”, diz o cientista.

Ele observa ainda que essa associação ecológica pode ser um problema para as plantas. Em uma interação comum, as formigas protegem esses seres em troca do açúcar produzido por eles. No caso das lagartas mirmecófilas, as formigas escolhem se associar a estes animais, que usam as próprias plantas como fonte de alimento.

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