MPF pede prorrogação de restrições a investigados da Ptolomeu e defesa do governador do AC entra com recurso


Defesa de Gladson Cameli pediu ao STJ autorização para ele volte a falar com pai e irmãos. Já o MPF quer a prorrogação por mais 180 dias das medidas restritivas estabelecidas na 3º fase da operação. Defesa de Gladson Cameli pediu ao STJ autorização para ele volte a falar com pai e irmãos
Reprodução/Rede Amazônica Acre
O Ministério Público Federal (MPF) pediu ao Superior Tribunal Justiça (STJ) a prorrogação do prazo das medidas cautelares impostas aos investigados da Operação Ptolomeu, que investiga corrupção e lavagem de dinheiro no governo do Acre, por mais 180 dias.
A ação foi iniciada em 2021 e investiga, entre outros, o governador do Acre, Gladson Cameli (PP). A terceira fase da operação foi deflagrada no dia 9 de março deste ano a partir de investigações da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República, da Receita Federal e da Controladoria-Geral da União. Os nomes dos alvos não foram divulgados.
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As medidas cautelares foram impostas durante a terceira fase da operação. Na ação, foram cumpridos 89 mandados de busca e apreensão em seis estados e no Distrito Federal.
Entre as medidas impostas estavam:
31 afastamentos de cargo ou função pública;
57 proibições de contato com investigados e acesso a órgãos públicos;
57 entregas de passaporte;
70 quebras de sigilo bancário e fiscal;
15 empresas com atividades econômicas suspensas.
Em nota, a defesa do governador do Acre informou que pediu à ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribunal de Justiça, a autorização para que Gladson Cameli volte a falar com o pai, o empresário Eládio Cameli e com os irmãos, Eládio Júnior e Gledson Cameli, que também são investigados. Eles estão proibidos de se comunicar há três meses por conta das medidas restritivas estabelecidas na terceira fase da operação.
A defesa alegou que proibir a comunicação entre pai e filhos é uma “violência do estado contra uma família”. Ainda na nota, os advogados afirmam que o pai do governador tem 70 anos e está com a saúde debilitada.
“Segundo interlocutores, ele [Eládio] está sofrendo muito com a impossibilidade de falar com os filhos. O clima ficou ainda mais pesado depois no último mês, quando o governador e o irmão não puderam comparecer à tradicional confraternização da família no Dia das Mães. Oriundo de uma família de imigrantes, Eládio tem uma relação muito forte com os filhos e os irmãos. A separação entre pai, um homem idoso, e filhos, é uma medida desproporcional contra uma família. As investigações estão em curso há dois anos. Nada justifica a proibição de que um pai fale ou receba a visita de um filho. Esse é um rigor excessivo e infundado”, afirmou o advogado Pedro Ivo Velloso.
A nota diz ainda que a corte especial do STJ deve decidir sobre o pedido nos próximos dias. Para Velloso, estão usando contra o governador os mesmos métodos que a operação “Lava-Jato” de Curitiba empregou para investigar o sistema político brasileiro.
“Os métodos abusivos acabaram se voltando contra setores do Judiciário. A Lava-Jato produziu muitos filhotes nocivos. Um deles está grassando no Acre”, concluiu a nota.
Operação Ptolomeu
A operação contra corrupção e lavagem de dinheiro na cúpula do governo do Acre, intitulada “Ptolomeu” já teve três fases.
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Na última fase, que ocorreu no início do mês de março deste ano, o STJ determinou o bloqueio de R$ 120 milhões em bens dos investigados, incluindo valores em contas bancárias, aeronaves, casas e apartamentos de luxo. Segundo a PF informou na época, o cumprimento dos mandados envolveu mais de 300 policiais federais nesta quinta.
Carros de luxo, moto aquática e dinheiro foram apreendidos durante operação da PF
Reprodução
Carros de luxo, moto aquática, aeronave, bolsas de grife, dinheiro, joias e relógios estão entre os itens apreendidos pela Polícia Federal nessa fase. Imagens divulgadas pela PF mostram um agente recolhendo um celular que foi jogado em cima do telhado da casa de um dos investigados.
Após a última fase da operação, o governador Gladson Cameli publicou uma nota nas redes sociais a respeito das investigações. “Essa é mais uma etapa da operação de mesmo nome. Com o andamento do processo, o governador confia que tudo será apurado e esclarecido. Mais uma vez, o governador se coloca à disposição das autoridades, colaborando com mais essa etapa das investigações. O governador reafirma o seu apoio e confiança na Justiça, para que a verdade sempre prevaleça”, diz a nota.
Também em nota, os advogados Ticiano Figueiredo, Pedro Ivo Velloso, Tarcísio Vieira de Carvalho Neto e Telson Ferreira disseram ver com “surpresa” a terceira fase do inquérito iniciado há dois anos.
A TV Globo apurou que Cameli não foi alvo direto das buscas nessa fase, mas foi alvo de outras sanções definidas pelo STJ:
não poderá fazer contato com outros alvos da investigação;
não poderá deixar o país;
terá de entregar o passaporte à Justiça em até 24 horas.
Os mandados nesta fase foram cumpridos no Acre, no Amazonas, em Goiás, no Piauí, no Paraná, em Rondônia e no Distrito Federal.
O governador segue proibido de deixar o país sem autorização até esta quarta-feira (7). Para as viagens internacionais, ele precisa informar à Justiça, que concede autorização.
Operação anterior
Em dezembro de 2021, Cameli já tinha sido alvo da primeira fase da operação. O político se elegeu governador do Acre em 2018 e foi reeleito para um segundo mandato no ano passado. Na época, 41 mandados de busca e apreensão e um mandado de prisão foram deflagrados. O Superior Tribunal de Justiça (STJ), que autorizou a operação, determinou o afastamento das funções públicas dos envolvidos.
De acordo com a PF, na operação da época, foram apreendidos, no total:
Seis veículos, estimados em R$ 1,7 milhão;
R$ 600 mil em espécie, entre dólares, euros e reais;
33 relógios e 10 joias de alto valor, totalizando mais de R$ 1 milhão, aproximadamente;
R$139 mil reais em celulares apreendidos.
Também em 2021, Gladson Cameli afirmou que tinha a consciência “tranquila” e que a polícia estava cumprindo seu papel de apurar denúncias.
“Quem não deve, não teme. Não devo, não temo e quero que fique até o final, se tiver coisa errada vai para a rua [o servidor] e tem que prestar contas à sociedade, porque é dinheiro público”, disse à época.
Já na segunda fase, deflagrada ainda em dezembro de 2021, a PF disse que foi detectado que servidores públicos estavam obstruindo a investigação. Um vídeo, que a Rede Amazônica teve acesso com exclusividade, mostrava as investigadas ocultando celulares durante a deflagração da 1ª fase da ação. Além de um mandado de prisão contra uma das servidoras, a polícia cumpriu cinco mandados de busca e apreensão na época em Rio Branco, em endereços relacionados aos envolvidos.
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