Trump: especialistas analisam os desafios para imigrantes ilegais

Donald Trump assina decretos presidenciais no Salão Oval da Casa Branca, em Washington, em 20 de janeiro de 2025JIM WATSON

Após tomar posse, o 47º presidente da história dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou uma série de medidas que estão sendo comentadas em todo o mundo. Entre os documentos assinados está o decreto de emergência nas fronteiras do sul do país, medida para combater a imigração ilegal.

Além da medida, Trump também disse falas enfáticas sobre futuras ações que pretende tomar para pessoas vinda de outros locais do mundo que estão em situação ilegal nos EUA. 

“Toda entrada de imigrantes ilegais será imediatamente impedida e vamos iniciar o processo de devolver milhões e milhões de imigrantes ilegais de volta de onde vieram. Restabeleceremos a nossa política ‘fique no México’. Por fim, a prática de prender e liberar. Vou enviar tropas ao sul para reparar o desastre das invasões ao nosso país”, disse Trump em seu discurso.

Desafios para imigrantes 

Para Rodrigo Costa, CEO da Viva América, os imigrantes ilegais enfrentam agora um cenário mais hostil.

“O novo governo de Donald Trump deve trazer políticas de imigração mais restritivas, especialmente em relação aos imigrantes ilegais. A administração Trump já demonstrou, em seu primeiro mandato, uma postura firme em relação à aplicação das leis de imigração”, explica Costa.

Para o CEO, é provável que haja um reforço nas operações da ICE (Immigration and Customs Enforcement, a Polícia de Imigração), com maior vigilância em locais de trabalho e comunidades com alta concentração de imigrantes. No entanto, vale destacar que existem algumas leis estaduais que proíbem, por exemplo, a atuação de fiscalização e operações anti-imigrantes em locais como hospitais, escolas e espaços religiosos.

Donald Trump toma posse como 47º presidente dos Estados UnidosSaul Loeb

Outro ponto crítico é o programa DACA (Deferred Action for Childhood Arrivals), que protege imigrantes que chegaram ao país ainda crianças. “Recentemente, uma decisão da justiça federal afirmou que o programa é ilegal. Isso pode colocar em risco milhares de pessoas que já construíram suas vidas aqui”, alerta o especialista. Ele também menciona a retórica anti-imigração, que cria um ambiente hostil. “Imigrantes ilegais podem evitar buscar serviços essenciais, como saúde e educação, por medo de deportação”, conclui.

Na mesma linha, o Prof. Eduardo Picanco, pesquisador de empreendedorismo de imigrantes da Universidade Federal Fluminense ressalta que primeiro é necessário entender quais serão as medidas do atual governo americano, o que deve ser definido nos próximos dias. Entretanto, ele descarta a possibilidade de uma ação radical com o exército nas ruas e invadindo casas de imigrantes. 

“É fato que não espere que comece a aparcer um monte de soldado localizando, entrando em casa de Imigrante mandando todo mundo embora. Isso é inexequível”, disse.

Como funciona hoje

Atualmente, quando um imigrante cruza a fronteira e se entrega às autoridades americanas, ele pode solicitar asilo político alegando perseguição em seu país de origem, seja pelo perseguição de cartéis ou situações de violência em lugares como México, Venezuela ou Brasil. Esse pedido de asilo permite que o imigrante permaneça nos Estados Unidos enquanto seu caso é avaliado.

Picanco destacou que há uma enorme quantidade de processos de asilo pendentes, com filas que chegam a mais de um milhão de casos. Dentro da comunidade de especialistas — incluindo jornalistas e cientistas sociais — é amplamente discutido que o tempo para o julgamento desses casos pode se estender por até dez anos, devido ao volume de solicitações e do quantitativo de pessoal que avalia os processos. Durante esse período, os imigrantes têm o direito de viver e trabalhar nos Estados Unidos.

Trump durante sua posseHenrique Neri

A longa duração desse processo significa que muitos imigrantes conseguem estabelecer raízes no país, incluindo formar famílias com filhos nascidos em solo americano, o que lhes concede direitos adicionais. Assim, quando finalmente chega o momento do julgamento de seus casos, muitos já estão profundamente integrados à sociedade americana, com laços que complicam qualquer tentativa de deportação.

Essa situação ilustra o desafio que o sistema de imigração enfrenta, bem como as complexidades que cercam a política de fronteiras e o processo de asilo nos Estados Unidos.

O pesquisador comenta que as primeiras políticas têm devem afetar, primeiramente, quem está envolvido na vida do crime.  

“É possível que se você tiver imigrantes ilegais presos em processo de deportação esse procedimento acelere, então as pessoas podem ser deportadas mais rápido. Outra coisa que talvez possa acontecer é que pessoas que sejam pegas cometendo crimes, também sejam deportadas mais rapidamente”.

Entretanto, o especialista reforça. “De uma maneira geral, o impacto na comunidade de imigrantes, tende menor do que está se alarmando, mesmo que isso possa parecer estranho”.

Impacto na economia e mercado de trabalho

Setores como agricultura e construção, que dependem fortemente de mão de obra imigrante, e podem enfrentar crises caso as políticas restritivas avancem. “Com menos imigrantes entrando no país, as empresas vão enfrentar dificuldades para preencher vagas, o que pode levar ao aumento de custos e à redução da produtividade”, afirma Costa.

Segundo o CEO, dados do Departamento de Trabalho dos EUA mostram que há mais vagas abertas do que pessoas desempregadas, tornando a mão de obra estrangeira essencial para a economia americana.

” Se o governo realmente quiser evitar a entrada desses imigrantes pela fronteira com o México, terá de criar mecanismos para atrai-los de maneira legal para que a economia continue a crescer. Com menos imigrantes entrando no país, as empresas vão enfrentar dificuldades para preencher vagas, o que pode levar ao aumento de custos e à redução da produtividade”, destaca Costa.

Picanco comenta que a dependência de imigrantes (incluindo ilegais) em certas áreas não é apenas econômica, mas também mercadológica. “Esses grupos fazem trabalhos importantes que, muitas vezes, os americanos não querem fazer, e são muito bem remunerados por isso– pelo menos quando se compara com as mesmas posições em seus países”, pontua.

O pesquisador faz um trabalho de pesquisa com respostas que já coletou mais de sete mil brasileiros ao redor do mundo. Ele destaca que há vários perfisde brasileiros que moram nos EUA, desde de pessoas que decidiram morar no país entrando com muitos recursos e que foram sem nenhum suporte ou contatos.

“A gente percebe que o fenômeno brasileiro, assim como acontece com o fenômeno chinês, é um fenômeno está mais ligado à de emigração do que de imigração. O que seria a emigração? Seria aquela pessoa que se move por causas repulsivas, ou seja, o local em que você está não está bom. E a Imigração seria por causa atrativas”, explica.

Picanco ainda comenta que o brasileiro, via de regra, é muito bem visto no exterior, porque consegue mudar o seu comportamento e adaptar-se as regras locais. Por conta disso, pessoas que vêm do Brasil são vistas como um dos melhores grupos emigrantes de outras origens. Por exemplo, vimos diversos casos de racismo e xenofobia contra brasileiros em Portugal, mas agora com a chegada de muitos indianos, bangladeshianos, guiné- bissauenses e nepaleses, por exemplo, a distancia cultural desses grupos com o português tente a minimizar as relações entre eles e brasileiros. 

Imigração e criminalidade

O discurso que associa imigrantes ilegais à criminalidade é outro ponto que preocupa especialistas. Uma das primeiras medidas aprovadas pelo novo Congresso foi a Lei Laken Riley, que obriga a detenção de imigrantes ilegais acusados de crimes como furto e roubo. “Essa retórica contribui para um ambiente hostil e pode prejudicar imigrantes que são inocentes e contribuem para o país”, afirma Costa.

O CEO acrescenta que, embora o impacto inicial das novas políticas seja maior sobre criminosos, a retórica anti-imigrante tende a afetar toda a comunidade. “Políticas mais rígidas criam um ambiente onde muitos imigrantes ilegais evitam buscar serviços essenciais por medo de deportação”, explica.

O papel histórico dos imigrantes nos EUA

Embora o governo Trump tenha uma postura mais restritiva, Costa lembra que os EUA continuam sendo um país de imigrantes. “Cerca de 1 milhão de green cards são concedidos anualmente, e Trump chegou a defender a residência para estrangeiros que se formam em universidades americanas”, afirma. Picanco destaca que as políticas restritivas de Donald Trump não devem afetar os sonhos de brasileiros que querem morar nos EUA. “Depende do tipo de pessoa. Agora, essa imigração, passagem ilegal pela fronteira, via coiote, aconselhada no momento. Na verdade, nunca foi uma boa ideia. Mas as pessoas, infelizmente, devem continuar a fazer uma migração irregular, chegando com visto de turista”, enfatiza o pesquisador

O professor ainda destaca que se por um lado tendem fechar as fronteiras da imigração ilegal, a tendência é que facilitem a entrada de imigrantes legais.

“O começo nos EUA vai depender muito da sua história, das suas relações e das maneiras como pretende chegar”, disse.

Picanco ainda comenta que muitos brasileiros não estão em situação de ilegalidade, mas estão irregulares. Ou seja, a pessoa teve autorização de ficar no país por algum tempo, para turismo, ou estudo, por exemplo,mas está trabalhando, o que não é necessariamente permitido. Para o pesquisador, cada caso tem que ser analisado e para isso precisa esperar a definição das novas políticas do governo, justamente com o senado americano.

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