Dono de empresas suspeitas de ligação com o PCC e que tinham contratos com prefeituras e Câmaras de todo o país é preso na Bahia


Vagner Borges Dias, conhecido como Latrell, foi preso em Jacuípe, no litoral da Bahia, enquanto saía da praia. Empresas tinham contrato com prefeituras e câmaras de todo o país, incluindo Sorocaba e Itatiba (SP). Investigação do Gaeco aponta que empresa ligada ao PCC enviou propina para Sorocaba
O empresário Vagner Borges Dias foi preso nesta segunda-feira (27) em Jacuípe, litoral da Bahia. Conhecido como Latrell Brito, ele é dono de empresas suspeitas de ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC) e que tinham contratos com prefeituras e câmaras de todo o país, inclusive com Sorocaba e Itatiba (SP).
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Segundo apurado pela TV TEM, Latrell foi preso em flagrante por uso de documento falso. Ele era o principal alvo da Operação Munditia. Segundo a Promotoria de Justiça de Guarulhos, ele vivia na Bahia e foi detido pelo Grupo de Combate às Organizações Criminosas e Investigações Criminais (Gaeco) da Bahia com apoio da Polícia Militar enquanto saía da praia.
Ainda de acordo com a Promotoria de Justiça de Guarulhos, Latrell vivia na Bahia com outro nome: Moises Mota Sena, e tinha uma microempresa aberta com o nome falso.
O empresário estava foragido desde abril de 2024, quando uma operação apreendeu documentos e mostrou que o grupo conseguiu contratos em algumas cidades pagando propinas a agentes políticos. Foram cumpridos 42 mandados de busca e apreensão. Entre os documentos estavam planilhas de pagamento da empresa “Safe” e notas fiscais. Nelas, aparecem a prefeitura de Sorocaba e a Câmara de vereadores de Sorocaba.
Com a prefeitura, o primeiro contrato foi firmado em setembro de 2018. O último, que valeria até abril de 2024, foi suspenso quando a empresa abandonou o serviço. Com a câmara de vereadores, a relação começou em 2020. Confira o posicionamento deles aqui.
A operação que apreendeu os documentos mostrou ainda que o grupo conseguiu contratos em algumas cidades pagando propinas a agentes políticos. O caso segue em investigação.
Relação com o interior de SP
Uma denúncia do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) aponta que o grupo ligado à facção Primeiro Comando da Capital (PCC) entregou dinheiro na Prefeitura de Sorocaba (SP) em 2022. O ex-secretário de Administração da Prefeitura de Sorocaba (SP) José Marcos Gomes Júnior, que atuou na gestão da prefeita Jaqueline Coutinho (PRD), é citado nas investigações
A organização criminosa foi alvo de uma operação do MP-SP no dia 16 de abril, onde três vereadores de diferentes cidades paulistas e mais 10 pessoas foram presos. O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Guarulhos (SP) aponta que o PCC se infiltrou em empresas e órgãos públicos.
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Em um dos diálogos, a pessoa responsável por receber dinheiro do grupo em Sorocaba é identificada como Junior. O número de telefone também é divulgado. Com base nele, a reportagem apurou que o contato pertence ao ex-secretário José Marcos.
A citação é de 24 de setembro de 2020. No dia seguinte, ele foi exonerado do cargo e, conforme alegado à época, ele saiu para atuar na campanha de Jaqueline Coutinho. Junior participava do governo desde maio de 2019.
Sorocaba é citada sete vezes na denúncia apresentada pelo Ministério Público de Guarulhos à Justiça. O documento tem 265 páginas e detalha o caminho percorrido pelo dinheiro pago pela empresa “Safe” às prefeituras e câmaras de diversas cidades.
Envelope mostra valores, fruto de fraudes em licitação, que deveriam ser entregues em Sorocaba (SP)
Reprodução
Itinerário da corrupção
Durante as investigações, o Gaeco apreendeu 22 celulares e 22 notebooks dos suspeitos. Durante análise, foi possível identificar conversas entre os líderes da empresa “Safe” e o motorista responsável pelo o que os promotores chamaram de “itinerário da corrupção” – onde Sorocaba aparece em dois momentos.
No dia 24 de setembro de 2020, o motorista envia o roteiro que pretende fazer. Nele estão: Cubatão, Guarujá e Sorocaba. Ele pergunta se pode ser desta forma. Vagner Borges Dias, conhecido como Latrel, dono das empresas investigadas por relação com o PCC, responde reorganizando as entregas. Ele diz que o motorista deve passar por Guarujá, Cubatão e entregar para uma pessoa que ele se refere como “Júnior” em Sorocaba.
Na mensagem, Vagner chega a enviar o contato do “Júnior”, que teria recebido o dinheiro na época. E o motorista diz que seguirá a ordem.
Em outra mensagem, no dia 3 de junho de 2022, um funcionário enviou um áudio em que pede para Vagner confirmar a destinação de cada envelope, pois, estaria com dúvida, já que uma pessoa em que ele chama de “menina” teria colocado a identificação em algarismos romanos.
Ele envia as fotos dos envelopes com o dinheiro. Depois, aparece outra imagem, já com os nomes das cidades que receberiam as entregas: Santa Isabel, Caieiras e Sorocaba. Vagner confirma a informação.
O ex-secretário José Marcos Gomes Júnior negou conhecer o empresário que teria ligações com o PCC. Ele afirmou ainda que nunca esteve com Vagner ou qualquer outro emissário dele.
José disse ainda que está tranquilo e que não teve interferência em nenhum contrato relacionado ao empresário. Sobre seu telefone constar na troca de mensagens de Latrell Brito, ele afirmou que na época sua função era pública e seu telefone não era difícil de conseguir.
A ex-prefeita Jaqueline Coutinho, que não é citada na investigação, afirmou que desconhece esse fato. “Até porque se soubesse eu própria teria tomado as providências cabíveis se houvesse a mera suspeita de ilícito administrativo e/ou penal.”
Ela acrescentou. “Tem de ser cabalmente apurado para se esclarecer esse fato. Reitero que jamais tive qualquer tipo de contato com alguém dessa empresa ou o investigado. E entendo que é imprescindível que os fatos sejam esclarecidos.”
No dia 29 de abril, o MP afirmou que contratos que envolvem Sorocaba já estavam sob análise e seriam compartilhados em trabalho conjunto ao Gaeco da cidade para o prosseguimento das investigações.
Contabilidade
Investigação do Gaeco aponta que empresa ligada ao PCC enviou propina para Sorocaba
Sorocaba, inclusive, conforme a investigação, aparece na contabilidade das empresas investigadas e que teriam ligação com a organização criminosa. Em 2021, em um dos controles de movimentações financeiras do grupo, Sorocaba é relacionada com notas pendentes, revelou a investigação.
O documento, retirado de um dos aparelhos apreendidos, traz a menção da cidade com outras oito, na condições de “aguardando liberação”. A investigação cita “pulverização criminosa” de contratos em vários municípios, com o intuito de obter vantagens ilícitas.
Em um dos casos, há imagens de um envelope direcionado à cidade. O grupo usa código em algarismo romano, sendo que Sorocaba aparece como XX, mas uma letra entre parênteses. Posteriormente, o envelope de cor cinza é renomeado para “SORO”.
Duas empresas contratadas
Em Sorocaba, duas empresas investigadas por envolvimento em um grupo criminoso ligado ao PCC suspeitas de fraudarem licitações já firmaram contratos com a Câmara e a Prefeitura. Somados, os valores chegam a R$ 26,6 milhões, movimentados entre 2018 e 2024.
Conforme apurado pelo g1 e TV TEM, o primeiro contrato foi assinado com a Câmara de Sorocaba, na gestão do presidente Fernando Dini (Progressista). O valor inicial era de R$ 620 mil.
O mesmo contrato foi prorrogado por quatro vezes, nos anos de 2021, 2022 e 2023, durante a gestão de Claudio Sorocaba (PSD). Com isso, o valor total do contrato foi para R$ 1.446.600,00. Esse contrato é com a empresa Safe Java Comercial e Serviços, uma das investigadas na operação.
Os funcionários desta empresa, inclusive, afirmaram que entrarão na Justiça, pois alegam atraso nos salários e benefícios trabalhistas.
Já a empresa Vagner Dias Borges, também citada na investigação, teve contrato maior. Inicialmente, um dos contratos seria de quase R$ 6,2 milhões e foi assinado em 15 de setembro de 2022, pelo prefeito Rodrigo Manga (Republicanos).
Entretanto, em maio de 2023, oito meses após a assinatura do primeiro documento, houve aditivo ao contrato de pouco mais de 10% do valor original, aumentando o total para mais de R$ 6,8 milhões.
Há ainda um contrato de R$ 8 milhões entre a empresa Vagner Dias Borges e a Prefeitura de Sorocaba que começou em setembro de 2018. O contrato teve várias modificações, de aumento e redução de valores.
Houve ainda um contrato emergencial durante a pandemia, no governo de Jaqueline Coutinho (PRD), na época do PSL, para serviços de limpeza do hospital de campanha, no valor de R$ 199 mil.
No total, segundo o Portal da Transparência da Prefeitura de Sorocaba, a empresa já recebeu dos cofres públicos municipais quase R$ 25 milhões.
Denúncia do MP aponta que Prefeitura de Sorocaba recebeu dinheiro de grupo ligado ao PCC
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