Verme-crina-de-cavalo: conheça parasita que controla hospedeiros e os leva à morte na água


Pesquisadores registram um raro encontro com um parasita do filo Nematomorpha, um verme que manipula seus hospedeiros e os obriga a se afogar para reproduzir Verme transforma insetos em zumbis e os leva à morte afogados para se reproduzir
Em um trabalho de campo na Serra da Mantiqueira, em São Francisco Xavier (SP), pesquisadores do Projeto Dacnis, uma ONG de preservação, pesquisa e educação ambiental, fizeram um registro raro e impressionante: um verme-crina-de-cavalo, um parasita capaz de transformar seus hospedeiros em zumbis e guiá-los à morte na água.
Edélcio Muscat, biólogo e coordenador de pesquisa do Projeto Dacnis, estava junto de seu estagiário Allan Souza, quando avistaram o verme nadando. Surpresos com a cena incomum, se aproximaram e logo reconheceram o pequeno parasita, um organismo do filo Nematomorpha, possivelmente do gênero Gordius, de acordo com Edélcio.
“Eles são capazes de transformar artrópodes em “zumbis”. Uma vez parasitados, os vermes conduzem os hospedeiros até a água, os afogam e saem para se reproduzir. Foi nessa condição que nós o encontramos, nadando em um riacho”, explica Edélcio.
Esses parasitas, que medem entre 50mm e 2m, se desenvolvem dentro de insetos como grilos, besouros, baratas e gafanhotos, crescendo por meses até atingirem a fase adulta. Para completar seu ciclo de vida, precisam retornar à água, onde acasalam e depositam seus ovos.
Para isso, assumem o controle do hospedeiro, alterando seu comportamento e forçando-o a buscar a água e se submergir. Existem outros casos registrados de besouros, tesourinhas, baratas-d’água e até outros grupos de artrópodes parasitados, como aranhas e piolhos-de-cobra.
“São raros de serem encontrados, é como uma agulha no palheiro, ainda mais que encontramos no trabalho noturno e com chuva. Já havia feito um outro registro na nossa área em Ubatuba. Em 40 anos de formado em Biologia, vi ao vivo só duas vezes”, diz o biólogo.
O parasita se desenvolvem dentro de insetos , assume o controle do hospedeiro, altera seu comportamento e o força a buscar a água e se submergir.
Zoltán Stekkelpak/iNaturalist
Os ovos são depositados em filamentos pegajosos submersos ou em vegetações próximas à água, dependendo da espécie. Após a eclosão, as larvas entram em um estado de dormência, formando cistos que garantem sua sobrevivência até serem ingeridas.
Elas podem ser consumidas junto com plantas aquáticas ou ingeridas acidentalmente ao serem misturadas à água, infectando um novo hospedeiro adequado, que varia conforme a espécie do parasita.
“Depois de ingeridas, as larvas penetram na parede intestinal e formam cistos que ficarão numa espécie de dormência até o hospedeiro intermediário ser predado pelo hospedeiro definitivo”, informa Edélcio.
Apesar da aparência assustadora e do comportamento parasitário extremo, os vermes-crina-de-cavalo não oferecem risco aos seres humanos, nem causam impactos ambientais negativos. Na verdade, eles fazem parte da complexa teia da biodiversidade, desempenhando um papel importante no equilíbrio ecológico dos ambientes aquáticos e terrestres.
*Texto sob supervisão de Lizzy Martins
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