Câncer de ânus: Brasil teve mais de 38 mil internações em 10 anos; veja dicas de prevenção


O câncer anal nem sempre dá sinais. Seus sintomas podem passar despercebidos ou serem confundidos com problemas comuns. Vacina papilomavírus protege contra o HPV
André Araújo/Governo do Tocantins Divulgação
Nos últimos dez anos, o Brasil registrou mais de 38 mil internações por câncer de ânus e do canal anal no Sistema Único de Saúde (SUS). Considerado um tipo raro, o câncer anal representa de 1% a 2% de todos os tumores colorretais. Mesmo assim, vitimou mais de seis mil pessoas entre 2015 e 2023. Os dados são do Ministério da Saúde, obtidos com exclusividade pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP).
O câncer anal nem sempre dá sinais. Seus sintomas podem passar despercebidos ou serem confundidos com problemas comuns, como hemorroidas. Sangramentos, dor, coceira, nódulos e até mesmo alterações na consistência das fezes podem ser sinais de alerta. Isso faz com que o diagnóstico muitas vezes aconteça tardiamente, dificultando o tratamento.
“Em muitos pacientes ocorre sangramento, o que muitas vezes pode ser confundido com a doença hemorroidária. As hemorroidas são provocadas pela dilatação das veias do ânus e do reto e podem provocar sangramento, mas não são causas de câncer. Outras condições como fissura, fístula e verrugas também podem causar sangramento anal, por isso é imprescindível consultar um coloproctologista aos primeiros sinais”, alerta Sergio Alonso Araújo, presidente da SBCP.
Vacinação e preservativo
A vacinação contra o HPV e o uso de preservativo são essenciais para evitar esse tipo de câncer. O HPV é transmitido principalmente por contato sexual e pode permanecer no organismo sem apresentar sintomas por anos. Quando não controlado, pode evoluir para lesões que levam ao câncer no ânus, colo do útero, pênis, vulva e orofaringe.
Ana Sarah Portilho, diretora de Comunicação da SBCP, ressalta que o vírus do HPV tem uma alta transmissibilidade e, na maioria dos pacientes, se comporta sem gerar sintomas.
“É uma infecção que damos o nome de latente, por ficar silenciosa no paciente hospedeiro por anos até gerar algum sintoma, seja ele verrugas ou o próprio câncer anal, tendo o último um tempo médio de 10-15 anos para surgimento em pacientes com sistema imune saudável, e mais precocemente em pacientes imunodeficientes”, afirma a coloproctologista.
Em 2024, o Ministério da Saúde ampliou o público que pode receber a vacina contra o HPV gratuitamente pelo SUS. Podem se vacinar meninas e meninos de 9 a 14 anos, pessoas de 9 a 45 anos em condições clínicas especiais, como as que vivem com HIV/Aids, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea e pacientes oncológicos (imunossuprimidos), vítimas de abuso sexual, pessoas portadoras de papilomatose respiratória recorrente (PPR) e usuário de PrEP.
Os preservativos masculino e feminino também são distribuídos gratuitamente em qualquer serviço público de saúde.
A vacinação contra o HPV e o uso de preservativo são essenciais para evitar esse tipo de câncer
Pixabay
Fatores que aumentam o risco de câncer de ânus
Algumas infecções, como as causadas pelo HPV e pelo HIV
Infecções sexualmente transmissíveis (IST), como condilomatose, gonorreia, herpes genital e clamídia
Prática do sexo anal
Tabagismo
Fístula anal crônica (ligação anormal entre a superfície do canal anal e o tecido em volta do ânus, com secreção purulenta)
Pacientes imunodeprimidos que se submeteram a transplantes de rim ou coração
Condições precárias de higiene e irritação crônica do ânus
Ana Sarah lembra que o câncer anal, quando identificado cedo, tem boas chances de tratamento, que pode incluir radioterapia, quimioterapia e cirurgia.
“Dados do Sistema de Informações Hospitalares do Brasil, e também de outros países, como Estados Unidos, têm mostrado que a incidência do câncer de ânus cresceu nas últimas décadas. A conscientização da população frente ao problema e o conhecimento de que a prevenção e o diagnóstico precoce são possíveis ainda são fundamentais no combate à doença”, finaliza a coloproctologista.
Novo protocolo do Ministério da Saúde recomenda 1 dose de vacina contra HPV
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