Maré do Amanhã: trabalho social originado em episódio de violência completa 15 anos


Quatro mil crianças e adolescentes já passaram por esse projeto que, desde 2023, é considerado patrimônio cultural imaterial do Rio de Janeiro. Orquestra da Maré do Amanhã completa 15 anos
Um projeto social que teve origem em um episódio triste de violência no Rio de Janeiro está completando 15 anos. A Orquestra Maré do Amanhã
Rua da Proclamação, Baixa do Sapateiro, Complexo da Maré. A favela toda conhece: a Maré do Amanhã.
“Eu não sei o que eu faria hoje em dia se eu não tivesse no projeto. Ele deu uma perspectiva de futuro, de vida”, conta o violoncelista Vitória Soares.
Levar o aprendizado de música clássica para as comunidades do Rio sempre foi o sonho do pai do Carlos Eduardo Przeres, maestro Armando Prazeres, brutalmente assassinado em 1999.
“Eu falei: ‘Gente, tem que ser na Maré’. Por que essa fixação? Bom, lá terminaram o sonho dele, lá eu vou fazer esse sonho renascer. A gente começou no CIEP Operário Vicente Mariano, uma coisa muito difícil”, diz Carlos Eduardo Prazeres, fundador e diretor da Orquestra Maré do Amanhã.
Depois de muitas tentativas, o projeto nasceu em 2010.
“Era bem caótico, assim, desesperador. No início, foi nas salas de aula, depois foi evoluindo, a gente tocou no pátio já também. Depois, ganhamos o container e ficamos lá durante muito tempo”, conta o músico Peter Basaga.
Comprar instrumentos, pagar professores, manter instalações. Mas com poucos recursos? Tinha tudo para dar errado. Por que é que deu certo?
“Persistência. O amor. Música é vida, música salva vidas. Então, eu acho que não traz só para as crianças, mas traz para os pais, traz para os irmãos, traz para a gente também”, diz a musicista Débora Choi.
Orquestra da Maré do Amanhã completa 15 anos
Reprodução/TV Globo
Depois do começo difícil, alguns patrocínios foram chegando aos poucos. Em 2018, a orquestra conseguiu construir uma sede com teatro e salas de ensaio, o que fez o trabalho decolar.
“Viaja para Europa, faz turnê solista internacional. Então, é inacreditável”, diz Filipe Barreto Kochem, maestro da Orquestra Maré do Amanhã.
Orquestra da Maré do Amanhã completa 15 anos
Reprodução/TV Globo
A história dessa orquestra também pode ser contada pelas coisas incríveis que aconteceram ao longo desses 15 anos. Foram quatro turnês internacionais em nove países diferentes, inclusive o Vaticano, onde eles tocaram para o Papa. Apresentações no Réveillon de Copacabana, no Rock in Rio, desfile na Marquês de Sapucaí e por aí vai.
Na Maré, são 30 espaços educacionais e, mais recentemente, dois inaugurados também no estado do Pará. Quatro mil crianças e adolescentes já passaram por esse projeto que, desde 2023, é considerado patrimônio cultural imaterial do Rio de Janeiro. Toda essa harmonia só desafina quando tem confronto na favela – e como tem.
“É uma dificuldade. A gente tem uma dificuldade das demandas de apresentação, que são muitas”, diz o maestro Filipe Barreto Kochem.
“Os meninos não precisam ter traumas de ficar imaginando tiro, imaginando violência. Isso tem que acabar. Tem que acabar”, afirma Carlos Eduardo Prazeres, fundador e diretor da Orquestra Maré do Amanhã.
Orquestra da Maré do Amanhã completa 15 anos
Reprodução/TV Globo
Nesse aniversário de 15 anos, o maior desafio agora é crescer, mas falta dinheiro para as obras de expansão da sede – o que permitirá dobrar o número de alunos e lançar a Maré do Amanhã num patamar além.
“Uma orquestra sinfônica, uma orquestra sinfônica jovem, a primeira orquestra sinfônica dentro de uma favela. Isso seria muito, muito interessante. É o que eu acho que vem a ser o nosso próximo passo, é o nosso desejo”, diz o maestro Filipe Barreto Kochem.
“Não tem limite para a orquestra. Depois de tudo que a gente passou e viveu aqui, eu não consigo olhar para um limite, está sempre avançando. Acho que a gente pode conseguir sempre mais”, afirma o músico Peter Basaga.
Orquestra da Maré do Amanhã completa 15 anos
Reprodução/TV Globo
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