Liberação de cachorros nas praias de Florianópolis traz riscos para pets e humanos; entenda

Um projeto de lei proposto pela Prefeitura de Florianópolis, que será enviado à Câmara de Vereadores nesta terça-feira (11), pretende autorizar a presença de cachorros nas praias da cidade. Especialistas apontam, no entanto, que a medida traria riscos tanto à saúde das pessoas quanto dos animais.

Projeto de lei pretende autorizar circulação de cachorros nas praias de Florianópolis

Fezes infectadas de cachorros nas praias podem transmitir bicho geográfico para os banhistas – Foto: Flavio Tin/ND

A circulação de gatos e cachorros nas praias é proibida pela legislação municipal desde 2001. Segundo a prefeitura, Florianópolis seria a primeira capital brasileira a liberar a presença dos pets.

Ao anunciar a proposta nas redes sociais, o prefeito Topazio Neto (PSD) ressaltou que os animais seriam permitidos em horários e locais específicos, mas ainda não há detalhes sobre como seriam os espaços “pet friendly”.

“Vamos avaliar os locais e horários mais movimentados, para evitar esse conflito de pessoas com animais. Assim, quem não gosta já sabe onde não ir e em que horário não ir. E quem gosta, da mesma forma”, esclareceu.

Quais riscos a liberação de cachorros nas praias representa para os humanos?

Presença de cachorros nas praias pode representar ameaça à saúde

Os seres humanos podem contrair giardíase, uma parasitose intestinal, por meio da água contaminada por fezes animais – Foto: Leo Munhoz/ND

O infectologista Amaury Mielle adverte que a presença de cachorros nas praias de Florianópolis pode representar um perigo à saúde dos banhistas. Um exemplo é o bicho geográfico, parasita presente nos dejetos dos cães.

“Os principais riscos estão associados à contaminação por parasitas e doenças transmitidas pelas fezes dos animais, como a larva migrans (bicho geográfico). O contato direto com as secreções dos pets também pode representar um risco”, destaca o especialista.

A doença é transmitida somente pelo contato com as fezes contaminadas, que contêm os ovos do parasita, e não pelo xixi do cachorro. É importante lembrar que há risco de contaminação mesmo após a retirada do cocô.

Lesão característica de bicho geográfico

A larva conhecida como bicho geográfico penetra na pele e transita pelo tecido subcutâneo – Foto: Divulgação/UFMG/ND

“Mesmo com a remoção das fezes, ovos do parasita podem permanecer no solo e representar um risco de contaminação para banhistas”, esclarece Amaury Mielle ao ND Mais.

Assim como o bicho geográfico, o parvovírus também é transmitido através dos dejetos dos animais, porém não representa risco aos seres humanos.

“A transmissão direta para humanos não é comum, pois a doença afeta principalmente cães”, afirma o infectologista. “A transmissão ocorre mais frequentemente em ambientes fechados ou com contato íntimo e frequente com o animal. Em espaços abertos, como a praia, o risco de contágio é menor.”

Lei municipal atualmente proíbe cachorros nas praias de Florianópolis

Os ovos dos parasitas permanecem na areia mesmo após a remoção das fezes dos cachorros nas praias – Foto: Germano Rorato/ND

Adultos e crianças podem ser igualmente afetados pelo contato com parasitas na areia da praia. Diante disso, o especialista recomenda alguns cuidados para proteger a si e aos demais banhistas:

“O ideal é recolher as fezes o mais rápido possível e descartá-las em saquinhos plásticos no lixo comum. Além disso, lavar as mãos após o contato com o solo e evitar andar descalço em áreas frequentadas por animais são formas eficazes de prevenção.”

Cachorros nas praias também enfrentam ameaças à saúde

Circulação de cachorros nas praias de Florianópolis

Além de transmitir doenças aos seres humanos, cachorros nas praias podem infectar outros animais – Foto:  Flavio Tin/ND

O CRMV-SC (Conselho Regional de Medicina Veterinária de Santa Catarina) também se manifestou sobre a questão sanitária em torno da autorização de cachorros nas praias de Florianópolis.

Além dos riscos aos seres humanos, a prática representaria uma série de prejuízos à saúde dos pets, como por exemplo:

  • Exposição excessiva ao sol em animais de pele clara, por exemplo, favorece ao surgimento de tumores de pele tanto em cães quanto em gatos, sendo que algumas raças são mais predispostas;
  • Queimadura de focinhos e patas;
  • Afogamento (assim como as crianças, muitos cães se afogam sem a devida supervisão);
  • Aumento excessivo da temperatura corporal, podendo levar à insolação ou intermação;
  • Para animais com doenças alérgicas, a exposição ao ambiente da praia também pode trazer sérios transtornos;
  • Micoses, sarnas, pulgas e carrapatos;
  • Otites em razão da umidade, principalmente em cães de orelha pendular;
  • Problemas oftalmológicos em razão do vento que leva areia na altura dos olhos dos animais;
  • Viroses, principalmente em filhotes sem o esquema completo de vacinação;
  • Intoxicação e/ou gastroenterite em razão de ingestão de água salgada ou alimentos inadequados.
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