Aumento na percepção de corrupção piora posição do Brasil em ranking da Transparência Internacional


É a pior posição do país desde que o ranking foi criado, há 12 anos. Na outra ponta, países como a Dinamarca, Finlândia e Singapura lideraram. Nota do Brasil no índice de percepção de corrupção piora
A posição do Brasil piorou em um relatório divulgado pela organização Transparência Internacional. Isto porque, entre os cidadãos ouvidos pela ONG, aumentou a sensação de que existe corrupção no país.
O Brasil está na posição 107 entre 180 países, com apenas 34 pontos de 100 possíveis. É a pior posição do Brasil desde que o ranking foi criado, há 12 anos. Nesse último levantamento, o Brasil perdeu dois pontos e caiu três posições em relação a 2023.
Países como a Dinamarca, Finlândia e Singapura lideraram o ranking. São países onde a percepção de corrupção – que é avaliada por acadêmicos, juristas, empresários e especialistas de cada país – é bem menor.
De acordo com a Transparência Internacional, entre os pontos negativos que pesaram no desempenho do país, está o “silêncio reiterado do presidente Lula sobre a pauta anticorrupção”. Segundo a organização internacional”dos 465 discursos registrados no portal da Presidência da República entre 2023 e 2024, Lula citou corrupção em apenas 15 ocasiões”.
O relatório aponta ainda “falta de transparência e condições de controle social adequadas no Novo PAC”, o Programa de Aceleração de Crescimento, como “informações sobre a execução física e financeira dos investimentos do programa, além dos critérios de seleção e de inclusão de projeto”.
A Transparência Internacional analisou a percepção de corrupção na gestão das estatais. Citou, como exemplo, a Petrobras. De acordo com o relatório, existe a “percepção de crescente ingerência política na Petrobras, reforçada por acordos e investimentos questionados pelo corpo técnico e por indicação para o Conselho de Administração em alegada violação à Lei das Estatais”.
O relatório também critica as “reiteradas negativas do governo a pedidos de acesso à informação sob justificativa questionável de conterem dados pessoais, incluindo casos envolvendo pessoas da alta cúpula do governo”. A organização ressalta que “no passado, o presidente Lula foi um crítico recorrente dos sigilos impostos pelo governo de Jair Bolsonaro a documentos oficiais”.
Outro ponto negativo apontado pelo relatório é a falta de transparência nas emendas parlamentares. O documento citou a persistência de corrupção em órgãos públicos, como no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – envolvendo políticos do Centrão e desvios de emendas parlamentares, o que teria prejudicado os projetos para amenizar os efeitos da seca na região do semiárido.
O relatório também cita os “arquivamentos e anulações em série, determinadas pelo STF, de casos de macrocorrupção decorrentes da anulação de provas produzidas pelo acordo de leniência do Grupo Odebrecht”, firmados no âmbito da Operação Lava Jato.
Ainda de acordo com o documento, “o ano de 2024 foi mais um a consolidar no Brasil a trajetória de captura do Estado, de cada vez mais difícil reversão. As evidências de que entramos no estágio avançado deste fenômeno já estão se tornando claras: a presença cada vez maior e explícita do crime organizado nas instituições de Estado”.
Aumento na percepção de corrupção piora posição do Brasil em ranking da Transparência Internacional
Jornal Nacional/ Reprodução
Para o diretor da Transparência Internacional, essa situação é grave e existe um risco à democracia :
“Esse nível de corrupção sistêmica é uma ameaça real e permanente à democracia no nosso país. Na verdade, o que hoje nós estamos vendo é o estágio avançado de captura do Estado, e um grande fenômeno que nos preocupa muito é a presença cada vez maior do crime organizado nas instituições de Estado. Isso é um fenômeno do aumento da corrupção, porque o crime organizado vai de mãos dadas com a corrupção”, diz Bruno Brandão, diretor-executivo da Transparência Internacional/ Brasil.
Em nota, a Controladoria-Geral da União afirmou que “os países que combatem corrupção podem ser penalizados no Índice de Percepção da Corrupção, uma vez que a exposição de casos e investigações impacta negativamente a percepção sobre o problema. O combate à corrupção não pode ser tratado como um fator negativo para a avaliação de um país”.
Ainda segundo a CGU, “o índice se baseia em pesquisas com grupos específicos, como empresários, e não representa a percepção geral da população. O Brasil ampliou sua transparência com melhorias no Portal da Transparência, avançou na rastreabilidade de emendas parlamentares e lançou o Plano de Integridade e Combate à Corrupção 2025-2027, com 260 ações estratégicas. Além disso, a CGU bateu recorde de operações contra a corrupção em 2024, totalizando 47 ações”.
A Petrobras declarou que tem um sistema de governança corporativa robusto, que todas as decisões são tomadas de forma técnica, prevenindo influência indevida e assegurando aprovação de projetos com previsão de retorno econômico.
As assessorias da Câmara dos Deputados e do Senado declararam que não se manifestam sobre pesquisas e estudos.
O Jornal Nacional não teve retorno do STF – Supremo Tribunal Federal nem do Departamento Nacional de Obras contra as Secas.
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