Violência cotidiana banaliza a vida de quem vive nas grandes cidades


Em São Paulo, para roubar um celular, ladrões matam um ciclista – que não reagiu. Um exemplo de violência nas grandes metrópoles brasileiras. Dependendo de onde você mora, não é novidade que usar um telefone celular na rua pode ser perigoso. Nas maiores metrópoles brasileiras, o risco de ser abordado por um ladrão não é pequeno. Mas nesta quinta-feira (13), em São Paulo, um cidadão foi assassinado sem que tivesse nem tempo para entender que estava sendo roubado.
O crime foi em uma rua, nesta quinta-feira (13) cedo, em São Paulo. Ele assusta pela violência e pela sensação de que poderia acontecer com qualquer um de nós. Desta vez, a vítima foi Vitor Felisberto Medrado, de 46 anos.
Eram 6h12. Havia carros passando, pessoas a pé e de bicicleta. Bastante movimento. Uma moto passou diante da câmera de segurança. Em seguida, voltou pela contramão. Pouco depois, os dois ladrões se aproximaram de Vitor, que estava de bicicleta, com o celular na mão. Antes mesmo de a moto parar, o que estava na garupa disparou um tiro. Imediatamente, Vitor se curvou e caiu no chão. O ladrão desceu, pegou o celular e fugiu com o comparsa. A ação durou apenas oito segundos. Vitor foi atingido no pescoço. Chegou a ser socorrido, mas morreu no hospital.
A mulher de Vitor, que muitas vezes faz o mesmo percurso com ele, fala da sensação de impotência:
“Quando pisamos na rua, estamos aleatoriamente sendo escolhidos para coisas terríveis. Todo dia a gente ouve fatalidade, todo dia a gente ouve que algo de ruim aconteceu com alguém do bem. Uma pessoa que tem sonhos, que acolhe pessoas, que cuida e ajuda as pessoas a terem saúde, a promover saúde e não volta para casa. Não teve oportunidade de se despedir, não teve oportunidade de falar com a família, não teve oportunidade nem de entender o que estava acontecendo”, diz Jaqueline Pereira dos Santos.
Violência cotidiana banaliza a vida de quem vive nas grandes cidades
Jornal Nacional/ Reprodução
Quem passa por ali está com medo.
“Ele parou para mexer no celular, responder a alguém. Pararam dois caras de moto e atirou no cara. O cara nem teve reação nenhuma. O cara não reagiu, não fez nada”, conta o educador físico Samuel de Araújo.
Cinco horas depois, a mesma moto foi usada em uma tentativa de assalto. Desta vez, a vítima foi um motociclista. Ele foi baleado e está no hospital. A polícia acredita que o atirador seja o assassino de Vitor.
Em 2024, a polícia registrou mais de 300 mil roubos de celular no estado de São Paulo: 183 mil só na capital; 501 por dia. Uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública também mostrou que só metade das vítimas registra queixa.
Vitor estava em um ponto da calçada em frente do Parque do Povo, na Zona Oeste de São Paulo. Ele foi mais uma vítima do roubo de celular, um crime que assusta a população pela violência e pela frequência com que acontece. Muita gente já está buscando medidas individuais para se proteger em caso de assalto. O supervisor de pintura Anaílton de Paula já foi assaltado no ponto de ônibus. Depois disso, ele até usa o celular na rua, mas com cuidado.
“Sempre estar focado em quem vai, quem vem para você poder tomar uma atitude diferente”, diz.
A cozinheira Adriana de Souza Teixeira tirou todos os aplicativos de banco e de compras do celular.
“Não tenho aplicativo nenhum aqui. Tem um no celular dentro da minha casa, com meu filho”, conta.
A auxiliar de limpeza Maria do Socorro de Sousa concluiu que não vale a pena se arriscar:
“Eu não uso o celular no meio da rua. Inclusive agora mesmo eu estou sem”.
A mulher de Vitor resume assim o que as pessoas sentem:
“O problema não é a ciclovia ou policiamento dali, o problema está aqui, está quando você vai ao supermercado, quando você atravessa a rua, quando você vai ao trabalho, quando você está na Marginal. O problema está em todo lugar. A gente está sujeito e exposto o tempo todo”, afirma Jaqueline Pereira dos Santos.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo declarou que investiga o caso de Vitor Medrado; que intensificou o patrulhamento na região; e que, em 2024, houve uma redução de 9% nos casos de roubos e furtos de celulares, tanto no estado quanto na capital paulista.
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