Projeto em Florianópolis prevê nova avenida para desafogar o trânsito no norte da Ilha

Para quem transita pela estrada Dom João Becker, nos Ingleses, no norte da Ilha, não é novidade que o trânsito nos horários de pico fica travado. A via, com duas pistas e mão dupla, é o acesso principal ao bairro Santinho.

Movimento de veículos nos Ingleses preocupa moradores principalmente na temporada de verão – Foto: Germano Rorato/ND

Com o grande volume de moradores somado ao de turistas que frequentam as praias da região nesta época do ano, o sistema viário colapsa.

“Até na baixa temporada já está ficando difícil. Na alta temporada, então, fica completamente parado. Do Santinho até o Centro, no horário de pico, pode-se levar até quatro horas. É um caos total”, relatou o vendedor Luiz Santos, morador dos Ingleses, que acompanha essa situação diariamente.

Juntos, os bairros Ingleses e Rio Vermelho têm uma população estimada em 82 mil pessoas, segundo o Censo de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A região é considerada uma cidade dentro da cidade e, se fosse independente, estaria entre as 20 maiores de Santa Catarina.

Além disso, a população flutuante durante o verão sobrecarrega ainda mais o trânsito. O deslocamento, seja de carro, a pé ou de bicicleta, exige paciência. “O trânsito aqui é horrível. O trajeto de carro, quando feito de bicicleta, faz muita diferença no tempo. O problema é que é muito perigoso, e é preciso tomar bastante cuidado”, afirmou a analista de investimentos Isabela Bessa.

Nomeado Beira-Mar dos Ingleses, o projeto da Prefeitura de Florianópolis para solucionar o problema viário da região é ousado, mas deve mudar o cenário local.

Em uma reunião na última quarta-feira (12), no Costão do Santinho, promovida pelo proprietário do resort, Fernando Marcondes de Mattos, com a presença do secretário municipal de Infraestrutura e Manutenção, Rafael Hahne, e das equipes de reportagem do Grupo ND, foram apresentados, em primeira mão, os detalhes deste plano.

Segundo o projeto, desenvolvido pela Prosul, a nova avenida será construída no espaço hoje ocupado por parte da faixa de areia, aproveitando o engordamento feito em 2023. A proposta prevê duas faixas de trânsito em sentido único e um passeio compartilhado entre pedestres e ciclistas.

Conforme o projeto, a nova avenida na  Beira-Mar dos Ingleses terá aproximadamente 2,5 quilômetros de extensão

Conforme o projeto, a nova avenida na  Beira-Mar dos Ingleses terá aproximadamente 2,5 quilômetros de extensão – Foto: PMF/Divulgação/ND

Sistema de binário é solução encontrada

Com a nova avenida, o trânsito do bairro funcionará em sistema binário. A estrada Dom João Becker terá sentido único, do Centrinho dos Ingleses em direção ao Santinho, enquanto a Beira-Mar dos Ingleses fará o caminho inverso. O trecho modificado terá aproximadamente 2,5 quilômetros.

“Recebemos das lideranças a sugestão de melhorias na mobilidade urbana, aproveitando a recuperação da faixa de areia e implantando uma nova via, semelhante ao binário que fizemos no fim da avenida das Rendeiras. A proposta tem duas pistas e melhora tanto o acesso ao Santinho quanto a situação da Estrada Dom João Becker, um trecho bastante saturado no norte da Ilha”, explicou Hahne.

O primeiro projeto dessa nova avenida foi contratado e doado à prefeitura por Marcondes de Mattos, proprietário do Costão do Santinho. O resort recebe milhares de visitantes todos os anos, mas o trânsito de acesso é um desafio.

“Para atravessar dois quilômetros, leva-se uma hora, isso em condições normais. Na alta temporada, pode-se levar facilmente duas ou três horas no trânsito. É impossível conviver com isso. Prejudica a população, o setor hoteleiro e a mobilidade da região. Com o engordamento da faixa de areia, sugeri que especialistas pensassem em uma melhoria na infraestrutura, que também contemplasse os ciclistas, já que a bicicleta é um meio de transporte muito utilizado aqui”, afirmou o empresário.

O empresário Marcondes de Mattos e o secretário municipal de Infraestrutura e Manutenção, Rafael Hahne – Foto: Divulgação/ND

Valor e prazos para a execução da obra da nova avenida nos ingleses

A nova avenida tem custo estimado de R$ 25 milhões. Grande parte dos recursos virá do Senado, por meio da senadora catarinense Ivete da Silveira, que pretende destinar R$ 20 milhões em emendas parlamentares até o próximo ano para viabilizar a implantação.

“O problema da infraestrutura viária em diversos pontos de Florianópolis não é novidade. No caso específico dos Ingleses, tenho conversado com o prefeito, empresários e lideranças comunitárias. Precisamos encontrar uma solução. Sou parceira desse projeto, e podem contar comigo”, declarou a senadora.

Hahne adiantou que a prefeitura já trabalha no projeto há seis meses. O próximo passo é a preparação dos estudos e documentos para obtenção das licenças ambientais, que serão analisadas pelo IMA (Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina).

“Sabemos que há um período necessário para o amadurecimento da ideia, apresentação do projeto à sociedade e análise das restrições ambientais. Estimamos um prazo razoável de oito meses a um ano para obter todas as licenças ambientais e realizar o processo licitatório”, explicou o secretário.

“No melhor dos cenários, após a temporada de 2026 poderemos iniciar a obra. O prazo de execução será de aproximadamente um ano, ou seja, entre o final de 2026 e o início de 2027, teremos uma nova realidade no bairro”, completou.

Impacto ambiental

O engenheiro e professor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), João Carlos de Souza, acredita que a nova avenida pode melhorar o fluxo da região, mas alerta para possíveis desafios ambientais.

“O projeto apresentado é viável do ponto de vista da engenharia, mas há muitos outros fatores a serem considerados. Construir uma via pavimentada na faixa de areia pode ser uma grande agressão ambiental. Mesmo com o alargamento da praia, essa intervenção seria complicada. Acredito que existam alternativas mais baratas e menos impactantes”, avaliou.

A moradora do bairro, Célia Almeida, compartilha uma visão semelhante. Para ela, a ideia de uma transformação na mobilidade aliada a uma nova beira-mar é um sonho, mas a questão ambiental preocupa: “Se for para melhorar, será ótimo. Mas acredito que isso vai invadir muito o espaço do mar, e ele sempre toma seu lugar de volta”.

Célia acredita que a nova avenida é importante, mas se preocupa com eventuais danos ambientais – Foto: Germano Rorato/ND

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