Estudantes protestam contra diretor de escola afastado por denúncias de importunação sexual e assédio moral na Bahia


Caso aconteceu em Itabuna, no sul do estado. Grupo pede que gestor não volte mais para a unidade de ensino. Diretor nega os crimes. Alunos protestam contra denúncias de importunação sexual na escola CIEBTEC em Itabuna
Estudantes protestaram nesta sexta-feira (14) contra o diretor de escola afastado do cargo após denúncias de importunação sexual, assédio moral e racismo, na cidade de Itabuna, no sul da Bahia.
O grupo se reuniu na porta do Complexo Integrado de Educação Básica, Profissional e Tecnológico (CIEBTEC), com cartazes. Além de jovens matriculados na unidade, ex-alunos também participaram.
No ano passado, os alunos foram assediados em uma reunião. Depois disso, diversas alunas denunciaram assédios do diretor. Eu já sofri racismo desse mesmo diretor em uma reunião, enquanto tentava solucionar problemas da instituição. Ele me comparou, de forma depreciativa, com negrinhos da África que passam fome. Ele quis dizer que, por eu e minha prima sermos negros, nós passamos fome. E isso não podemos aceitar”, afirmou disse Matheus Marcel Santos, ex-aluno.
Os estudantes pedem que o diretor seja substituído e punido pelos crimes. Denelísio Nobre se declara inocente.
“A escola era para ser um lugar de acolhimento dos alunos e, depois desses casos, fica desconfortável, até para a gente que está estudando. E o nosso objetivo é ter mudança na gestão e, principalmente, a segurança dos alunos”, afirmou a aluna Yasmin de Jesus.
Estudantes protestam contra diretor de escola afastado por denúncias de importunação sexual e assédio moral na Bahia
Reprodução/TV Santa Cruz
Após a manifestação, o grupo foi recebido por equipes da Secretaria da Educação do Estado, responsável pela unidade de ensino, que estavam na cidade. Segundo os estudantes, foi dito na reunião que as providências necessárias da pasta estão sendo adotadas.
Em nota a Secretaria reforçou que o diretor está afastado do cargo e que está em curso um processo de apuração das denúncias, que serão tratadas com toda celeridade que o caso pede.
A investigação, que é feita pela Delegacia Territorial (DT) de Itabuna, corre em segredo de Justiaça.
“As informações que chegaram para a gente é de que esse caso que aconteceu aqui em Itabuna não é um caso isolado. Diversos outros estudantes vêm fazendo esse tipo de denúncia, mas têm medo de colocar a cara, vir a público e formalizar uma queixa. A partir desse momento, eu coloco nosso órgão à disposição”, afirmou o vice-presidente da União Estadual dos Estudantes, Álvaro Garrido.
Denúncias
Diretor do CIEBTEC é afastado de cargo após estudantes denunciarem importunação sexual e racismo
Reprodução/TV Santa Cruz
O diretor do CIEBTEC, Denelísio Nobre, foi afastado do cargo após estudantes denunciarem atos de importunação sexual, assédio moral e racismo.
A medida foi tomada pela Secretaria de Educação da Bahia (SEC) após alunos procurarem a advogada Úrsula Matos, depois que ela fez uma palestra na unidade, para comentar sobre os comportamentos do diretor.
“Fui convidada pelo CIEBTEC para dar duas palestras: uma sobre violência doméstica e a outra sobre assédio sexual e moral na escola e no trabalho. Ao final da palestra mais de 20 adolescentes e jovens me cercaram e começar a relatar as coisas que estavam vivendo protagonizadas pelo diretor Denelísio Nobre”, afirmou.
“Meninas que me falaram sobre oferta de valores para fazer favores, como dar um beijo. Valores sexuais né. Teve uma delas que ele chegou a ofertar R$ 200 para que desse um beijo na boca dele”, contou a advogada.
A Secretaria de Educação do Estado informou, inicialmente, que o servidor havia sido afastado das funções. Depois, o órgão disse que ele fora das salas de aula por motivos de saúde.
A pasta afirmou ainda que a direção do Núcleo Territorial de Educação do Litoral Sul (NTE 05), Ouvidoria e Corregedoria mantêm diálogo com a comunidade escolar.
Além de negar as acusações, o diretor ressaltou para a TV Santa Cruz, afiliada da TV Bahia na região, que tem mais de 30 anos de serviços prestados na educação em Itabuna, sem nenhum tipo de reclamação, e não quis gravar entrevista.
Reunião com ‘linguajar juvenil’ e insistência por beijo
Segundo a advogada Úrsula Matos, os estudantes denunciaram o comportamento do diretor durante uma reunião que aconteceu em 2024, onde ele teria usado palavras com teor sexual.
“Nessa reunião Denelísio, que é o diretor, proibiu a entrada da vice-diretora e dos professores. Uma das mães chegou lá para entregar um objeto para uma aluna e ele disse: ‘Vaza daqui. Entrega e vaza’. Nessa reunião, que a gente não sabe qual o propósito, ele disse que tinha utilizado linguajar dos adolescentes. E aí ele começou a falar coisas absurdas”, relatou.
Um dos estudantes, que preferiu não revelar a identidade, contou que o diretor pediu para que os alunos não se assustassem, porque ele iria “falar na linguagem juvenil”, que “quem quisesse pegar ele, tava de boa” e que “quem era gay, que podia dar mesmo, e que mulher podia dar também, só que tinha que ter cuidado para não engravidar e ficar com os peitos murchos, caídos”.
“A reação de todo mundo foi ficar estagnado, porque ninguém conseguiu saber o que fazer ali”, relembrou o aluno.
Diretor do CIEBTEC é afastado de cargo após estudantes denunciarem importunação sexual e racismo
Reprodução/TV Santa Cruz
Uma outra jovem que estudou no CIEBETEC, que também não quis revelar o nome, disse que foi assediada pelo diretor durante uma viagem da escola.
“A banda que eu participo foi para uma viagem em Ilhéus, aí quando chegou lá, entrei no carro dele, com mais duas pessoas. Ele me perguntou qual era a faixa etária de pessoas que eu ficava, e se eu tinha algum interesse em alguém mais velho, com mais de 50 anos. Falei que não tinha interesse”.
A ex-aluna contou ainda que recebeu uma proposta de pagamento para beijar o diretor e relatou que Denelésio chegou a convidá-la para tomar banho de piscina na casa dele.
“Quando chegou na escola, ele me perguntou novamente qual era a minha resposta, se eu ia querer. Não ficou só naquele dia, ele me perguntou em vários outros dias se eu tinha interesse”, detalhou.
“Quando a gente estava voltando, comentei com uma pessoa que estava comigo que eu queria ir para a piscina, que estava muito calor no dia. Aí ele escutou e falou bem assim comigo: ‘Minha casa tem piscina, se você quiser'”.
A advogada Úrsula Matos contou, ainda, que os estudantes tinham medo de fazer denúncias.
“Disse para eles que cancelaria a minha agenda naquele momento para acompanhá-los na delegacia à tarde. Ali já sairia do CIEBETC direto para delegacia. Eles começaram a ficar muito amedrontados, apavorados, pedindo para esperar o ano letivo acabar para tomar uma providência”.
Úrsula Matos contou que entendia que o papel dela era informar a Polícia Civil naquele momento, mas diante da resistência dos alunos, respeitou a decisão. “No final do ano, eles voltaram a me procurar e então eu dei todo apoio e suporte para eles romperem o silêncio”, concluiu.
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