UFJF participa de estudo que identificou alterações genéticas em médiuns; entenda a pesquisa


Coautor do estudo é Alexander Moreira, diretor do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (Nupes), que será premiado com o Oskar Pfister Award da American Psychiatric Association, principal prêmio na área de psiquiatria. Ele explicou a participação da instituição de Juiz de Fora na pesquisa e próximos passos que serão analisados. Alexander Moreira-Almeida é médico, professor e pesquisador do Nupes, da UFJF
Aline Carvalho/UFJF
O Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde (Nupes) da Universidade Federal de Juiz de Fora participou de um estudo que avaliou alterações genéticas em médiuns, que podem levá-los a ter uma sensibilidade maior do que a maioria das pessoas.
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Segundo o estudo, feito por análise de DNA, pessoas que se consideram médiuns têm alterações genéticas que podem, supostamente, permitir que percebam aspectos da realidade que a maioria das pessoas não percebem. Entenda mais abaixo.
A pesquisa foi realizada durante 1 ano, com participação também de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e foi publicada pela revista científica Brazilian Journal of Psychiatry em janeiro de 2025.
Médiuns têm alterações genéticas, aponta estudo da USP
Coautor do estudo, professor de psiquiatria e diretor do Nupes, o pesquisador Alexander Moreira contou ao g1 detalhes da pesquisa e da participação da UFJF:
“Como nosso grupo é especializado em experiências espirituais e a USP tem especialistas na neurobiologia, na genética e em quadros de doenças mentais, juntamos expertises. O recrutamento dos médiuns do Brasil, o contato e a coleta dos dados deles foi realizado por nós. Depois o material foi enviado para São Paulo para fazer análise para a interpretação conjunta dos dos resultados”.
Alguns dados da pesquisa:
Participaram do estudo 119 pessoas de 10 estados brasileiros, sendo 54 médiuns, 53 parentes de primeiro grau com similaridade genética e sociocultural dos médiuns e outras 12 sem relações familiares.
Entre os médiuns, foram consideradas pessoas com mais de 10 anos de experiência, que realizavam o trabalho mediúnico ao menos uma vez por semana e gratuito;
Também foram incluídos no estudo dois gêmeos idênticos médiuns – que foram comparados com um terceiro irmão não médium;
Foi montada uma rede de capacitação para localizar médiuns que tinham um papel importante em grupos religiosos, onde as atividades mediúnicas são regularmente praticadas em todo o país, principalmente considerando o espiritismo e a umbanda.
Os participantes forneceram dados como etnia, escolaridade e idade, além de amostras de saliva. De cada um deles foi analisado o exoma – região do DNA que determina a produção de proteínas, com impacto sobre a formação do corpo de cada pessoa:
“É um estudo caso-controle: você pega casos de pessoas que tem variável de interesse, no nosso caso a experiência mediúnicas, e compara com pessoas que são muito parecidas, mas que não tem a variável de interesse – no caso não são médiuns. A ideia é ver se o grupo [de médiuns] tem algumas variantes genéticas que não estão presentes no grupo controle. Esse é um modo padrão de se fazer estudos de genéticas”, explica o professor.
Coleta de dados e resultados
Inicialmente, foram achadas diferenças entre os genes encontrados entre 54 médiuns e seus 53 parentes de primeiro grau que não tinham o dom. Após a análise desse grupo, foi feita uma comparação entre os genes dos 54 e outros 12 médiuns independentes, ou seja, que não faziam parte do grupo de controle.
Em 11 dos 12 indivíduos foram encontrados os mesmos genes mutáveis do grupo principal, representando 1.574 mutações de 834 genes;
A análise também foi feita em um par composto por gêmeos idênticos médiuns. Neste caso, foram encontradas 434 mutações identificadas em 230 genes. Um irmão deles também foi analisado, e as mutações não foram encontradas.
Os genes alterados identificados foram encontrados no sistema imune e inflamatório, em tecidos epiteliais e na glândula pineal:
“A glândula pineal fica no centro do no cérebro. Até há algumas décadas, se achava que ela não tinha funções significativas, mas hoje sabemos que tem relação com diversas funções do nosso corpo, inclusive com o sono. Diversas tradições espirituais, dizem que a pineal se relaciona a percepções espirituais”, explicou Alexander.
Relação entre os genes e outras experiências
Conforme o pesquisador da UFJF, anunciado como vencedor do Oskar Pfister Award da American Psychiatric Association, principal prêmio na área de psiquiatria, que será entregue em maio, a pesquisa terá outros desdobramentos, comparando outros grupos:
“A próxima etapa que a gente agora pretende é comparar os genes encontrados alterados nestes médiuns com pacientes psiquiátricos, que têm quadros como esquizofrenia e outros psicóticos, para poder ver se tem algum gene semelhante ou diferente. Essa é uma das iniciativas que a gente vai fazer também”.
Há também o interesse em avaliar também outras experiências espirituais, como a experiência fora do corpo (EFC) e experiência de quase morte (EQM).
“É a primeira vez que fizemos essa pesquisa testando a genética. Pode ser que estas alterações genéticas [identificadas no estudo] possam permitir as pessoas a terem outras experiências. Já se sabe que esses genes estão ligados a essas funções, mas pode ser que tenham relação outras experiências”, finalizou.
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