‘A Bailarina da Praça está de volta’: Bloco Pirarucu do Madeira homenageia ícone da cultura popular de Porto Velho


Folia acontece no domingo (23) a partir das 17h. O peixe que nada no asfalto pra curtir o carnaval e bailarina que tem asas de borboleta vão desfilar pela folia, vida, arte e resistência. Bailarina da Praça
Agaminon Sales/g1
O tradicional Bloco Pirarucu do Madeira prepara uma homenagem à memorável artista de rua portovelhense no Carnaval de 2025: a Bailarina da Praça deixará as calçadas da cidade para dançar no trio carnavalesco as músicas inéditas que entoam sua história de vida.
Filha de Amazonenses, mãe de três filhos e avó de cinco netos, Elielza Ramos Freire ficou conhecida pelas apresentações artísticas nas praças e em eventos importantes da capital.
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“Eu andava com uma placa escrita ‘danço porque sinto fome’ e me questionavam por isso, como se eu estivesse pedindo algo. As pessoas acham que a gente sente fome só de comida, mas não, existe fomes de muitas coisas. Existe fome de abraço, por exemplo”, contou em entrevista ao g1.
Na festa do domingo (22), os dois personagens do real e do imaginário de Porto Velho se unem em uma celebração pela história: o peixe que “nada” no asfalto pra curtir o carnaval e bailarina que tem asas de borboleta vão desfilar pela folia, vida, arte e resistência.
“É uma emoção muito grande saber que tanta gente gosta de mim, é muito importante ter gente por perto. A Bailarina está de volta e a homenagem será para todos”, diz a Bailarina.
“O Pirarucu do Madeira não é uma mera diversão, é uma manifestação de cultura popular vinculada às nossas raízes culturais, as nossas raízes carnavalescas”, diz o fundador do Bloco, Ernande Segismundo.
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João Antônio Alves
A apresentação está prevista para iniciar às 17h no circuito da Pinheiro Machado com Rogério Weber. Os amantes de carnaval podem esperar os tradicionais bonecos gigantes e um pirarucu de 10 metros, característicos da festa.
De acordo Luciana Oliveira, organizadora do bloco, a ideia de homenagear a Bailarina surgiu de uma vontade coletiva de enaltecer personalidades importantes para a capital. A artista de rua foi escolhida por ser uma mulher guerreira, forte, incansável e imparável na sua arte de ser e viver.
“Ela já foi expulsa de vários palcos e eventos só por querer dançar pra ser vista, pra existir e resistir. Por sua coragem em lutar por reconhecimento na cultura popular, o Bloco Pirarucu do Madeira este ano dá a ela de presente um palco no Carnaval de rua para ser aplaudida por milhares de foliões”, comenta Luciana.
Mas quem é a Bailarina da Praça?
Bailarina da Praça
Khauane Farias
Desde 1993, a Bailarina da Praça promove diversas festas infantis gratuitas para as famílias em alusão a datas comemorativas. A artista esbanja alegria por onde passa e chama atenção por distribuir arte sem pedir nada em troca.
Sempre vestida como uma boneca e usando asas de borboleta, ela ficou marcada no imaginário do povo por sempre estar presente em eventos especiais da cidade, como nos tradicionais desfiles de 7 de setembro e na queima de fogos nas comemorações de réveillon.
“Cansei de ouvir ‘por que você trabalha com isso?’ e eu respondia: não é um trabalho, faço porque gosto”, comenta a Bailarina.
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Foto: Mateus Santos/g1
Por muitos anos, os portovelhenses se acostumaram com as apresentações da Bailarina em suas rotinas, porém, nos últimos tempos, um tratamento contra um câncer no pâncreas a afastou das ruas.
“Passei por momentos difíceis com a doença e também, depois de um tempo, percebi que as coisas haviam mudado, não eram como antes. As pessoas não me olhavam como deveriam, eu sentia que não era bem-vinda em alguns lugares. Sentia uma tristeza quando muitas vezes não tinha para ajudar e não era ajudada”.
O tratamento durou alguns meses, entre complicações e remições do câncer, a Bailarina venceu a doença e se recuperou. Ao receber o convite de ser o enredo do tradicional bloco neste ano, a mulher que tentava espaço no palco de outros, iria ganhar um só para ela.
“Fiz muitas asas de borboletas iguais as que eu uso, as pessoas vão poder compra e alugar, se quiserem. Pra mim elas simbolizam liberdade. Quero que todos possam ir no dia do bloco e que possam me ver em cima do palco”, completa a artista.
Pirarucu do Madeira
Com 32 anos de existência, o Bloco Pirarucu do Madeira acontece sem abadá e cordas desde 1993. Fundado pelo advogado Ernande Segismundo, foi reconhecido como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial de Porto Velho em 2023.
Símbolo da cultura carnavalesca regional, o Pirarucu costuma reunir uma multidão de foliões todos os anos. Mas quem vê a quantidade de brincantes no bloco talvez não imagine a história por trás de tanto sucesso.
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João Antônio Alves
“O Pirarucu do Madeira é filho legítimo do bloco ‘Bacalhau do Batata’ de Olinda. Eu gostava muito de ir pro carnaval de recife. Aí eu disse ‘bom, vamos fazer um bloco de rua aqui em Porto Velho, com frevo, marchinhas tradicionais”, conta o fundador.
Trata-se, portanto, de uma mistura de ritmos trazidos de Pernambuco e de várias outras nacionalidades para incrementar ainda mais a folia em Porto Velho.
“A cidade nasceu do carnaval. Aqui chegaram mais de 30 nacionalidades e isso é um carnaval. Nós temos registros de carnaval desde 1920 do século passado. É uma cidade embalada pelo ritmo de frevo e samba”, explica.
A fundação do bloco
“Ele [o bloco] nasceu na Taba do Cacique, que era uma célebre casa noturna de Porto velho. Fizemos uns convites a mão, copiamos e entregamos para as pessoas e lá fundamos o pirarucu do madeira”, conta o fundador Ernande Segismundo.
Bloco Pirarucu do Madeira
Arquivo/Pirarucu do Madeira
A primeira vez que o bloco saiu pelas ruas foi em 1993, com cerca de 200 brincantes. O sucesso foi tamanho que o bloco foi crescendo ano a ano, consolidando-se como um dos principais blocos carnavalesco da capital rondoniense.
“As pessoas se apaixonam, se emocionam, choram, quando o cortejo passa, porque nós invocamos a cultura popular de Porto Velho”.
A tradição do Pirarucu do Madeira é tão forte, segundo Ernandes, que muitos foliões hoje adultos têm fotos participando da festa ainda crianças.
“Temos aqui história de crianças que vieram no colo dos pais ainda bebês, depois de 1 ano, com 2 e tem gente que chegou que tá com 20 anos e tem foto aqui no pirarucu do madeira”, afirma.
Quando perguntado sobre o futuro do bloco, o fundador declara estar tranquilo:
“Meu filho, Léo, falou: papai, pode deixar que o pirarucu do madeira eu vou levar’. Então quando eu for embora, tô traquilo. A gente tá mantendo essa tradição porque é bom. O povo tem que brincar!”, finaliza Ernandes.
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