Em meio a onda de violência, motoristas de aplicativo relatam insegurança para trabalhar no interior de SP: ‘Não tem para quem recorrer’


Violência contra motoristas de aplicativo aumentou drasticamente entre o fim de 2024 e o início deste ano. Devido à insegurança, alguns deles têm diminuído a jornada de trabalho e, consequentemente, os salários. Motoristas de aplicativos de corrida sofrem com falta de segurança
Os motoristas de aplicativo da região de Sorocaba (SP) têm relatado inseguranças para trabalhar devido à onda de violência que está atingindo as cidades do entorno desde o fim do ano passado. Por conta disso, alguns deles decidiram diminuir a jornada de trabalho e, consequentemente, os salários.
Cristiane Malerba trabalha como motorista há oito anos e, desde o começo, seu maior medo é sofrer algum tipo de violência. Durante o período, ela passou por uma tentativa de assalto no Centro de Sorocaba.
“Meu maior medo é pegar algum passageiro que possa me fazer mal. Se levar o dinheiro, tudo bem, mas o problema é fazer mal à pessoa. Uma vez, tentaram me assaltar enquanto eu esperava uma corrida. O homem parou na minha janela com um canivete, pedindo meu celular e dinheiro”, conta.
A motorista conta que, mesmo trabalhando nas regulamentações dos aplicativos, ainda não se sente segura. Na visão de Cristiane, ela não tem a quem recorrer em situações de perigo.
“Eu não me sinto nem um pouco segura. Não tem para quem recorrer. A única coisa que podemos fazer é um boletim de ocorrência. Antigamente, eu trabalhava à noite, hoje não mais”, lamenta.
Cristiane não trabalha mais à noite por insegurança
Reprodução/TV TEM
‘Me deu uma facada’
Outro motorista, que preferiu não se identificar, foi esfaqueado por um passageiro também em Sorocaba. De acordo com o homem, o criminoso, que inicialmente alegou estar alcoolizado, roubou o carro do rapaz.
“Quando avistei a pessoa, ela me disse ter bebido bastante. Faltava o código de início da viagem, que ela alegou não ter e não conseguia abrir o celular. Achei melhor cancelar a viagem e tentei retirá-la do carro, mas, quando cheguei na porta, a pessoa saiu muito rápido e me deu uma facada”, revela.
O homem, que precisou receber atendimento médico, ficou dias sem trabalhar. O carro chegou a ser encontrado, mas estava totalmente danificado e sem condições de uso.
“A pessoa afundou o painel multimídia e chutou os fios que ficam embaixo do volante. Provavelmente, ele acelerou no ponto morto até o carro falhar, já que ele não conseguiu fazer as transferências bancárias do meu celular. Ele deve ter ficado com raiva e fez isso”, explica.
‘A segurança do aplicativo é zero’
Silvio foi assaltado enquanto trabalhava como motorista de app
Reprodução/TV TEM
Silvio Roberto Ribeiro passou por uma situação semelhante à do motorista. No entanto, mesmo procurando tomar todas as medidas cabíveis, ele sofreu ainda mais e teve dificuldade em acionar a plataforma que trabalha.
“Peguei uma corrida no bairro Nova Sorocaba dentro do aplicativo, com nome da passageira e destino confirmado. No final, sofri um assalto e tive que tomar pontos no pescoço. A segurança do aplicativo é zero, tentei por três vezes acionar a polícia por lá e não consegui. Fui socorrido por alguns amigos, que chamaram as autoridades. Se não fosse isso, eu teria sido deixado na mão”, diz.
Mortes em outras cidades
Cláudio José de Moraes falou com a esposa pela última vez após fazer uma corrida por aplicativo em Mairinque (SP)
Arquivo pessoal
Em Alumínio (SP), os casos de violência foram ainda mais trágicos. Entre as vítimas, está Cláudio José de Moraes, de 51 anos, que teve seu corpo encontrado pelo próprio pai ao lado de uma casa em uma área de mata da cidade.
De acordo com o boletim de ocorrência, Cláudio trabalhava como motorista de um aplicativo de transporte. Por volta das 18h50 de segunda-feira, o homem conversou com a esposa e disse que estava terminando uma viagem, e que iria atender uma próxima corrida de forma particular, ou seja, fora do aplicativo.
Segundo a esposa, que disse ter acesso ao perfil de Cláudio no aplicativo, a última viagem do homem foi feita em Mairinque (SP), entre os bairros São Rafael e Marmeleiro. A mulher informou aos policiais que acredita que o marido estava entre as cidades quando conversou com ela por telefone pela última vez.
Em 13 de janeiro, Armando Lucas, de 32 anos, que também morava em Alumínio, foi encontrado morto com marcas de facadas em Mairinque. O corpo estava próximo ao quilômetro 15 da Rodovia Mário Covas.
A Guarda Civil Municipal (GCM) encontrou o carro da vítima com peças faltando no dia 15. Dentro do veículo havia um par de chinelos e a placa do automóvel. No dia 21 de janeiro, um casal foi preso suspeito de envolvimento na morte de Armando.
Armando Lucas, de 32 anos, morador de Alumínio (SP), foi encontrado com marcas de facadas
Arquivo pessoal
Resposta da Uber
Em nota enviada à TV TEM, a Uber afirma que lamenta os casos que ocorreram em Sorocaba e que as contas dos usuários envolvidos foram desativadas da plataforma, mas não responderam se as vítimas receberam algum tipo de valor ou suporte.
Ainda conforme a nota, a empresa alega que todas as viagens são cobertas com um seguro para acidentes pessoais e que está disposta a colaborar com as autoridades.
Com relação aos casos ocorridos em Alumínio, a Uber ressaltou que as mortes não possuem relação com a plataforma.
Cuidados e prevenções
De acordo com Ricardo Cardoso Teobaldo, capitão do 7º BPMI de Sorocaba, o motorista deve ter bastante calma em situações de perigo. Entre as medidas aconselháveis, estão escutar o assaltante com calma para não correr risco de vida.
“Não pode fazer movimentos bruscos, ouvir com calma. Acredito que tanto o motorista como o passageiro devem utilizar todas as ferramentas que o aplicativo possui à disposição. No caso, verificar se quem chamou a corrida é o mesmo que consta no sistema e, para o passageiro, ativar o código de verificação e conferir as informações do carro”, explica.
Capitão orienta sobre cuidados e prevenções durante viagens por aplicativo
Reprodução/TV TEM
Ainda segundo o capitão, é importante informar a polícia por diferentes canais de comunicação. Entre os disponíveis, estão o telefone 190, o site e um aplicativo próprio, no qual a denúncia pode ser catalogada, despachando uma viatura logo em seguida.
“É importante ficar de olho em atitudes diferentes da normalidade. Gritos, gestos expansivos. Para quem ligar ao 190, devem ser ditas principalmente as características físicas das pessoas envolvidas, se há veículo e sentido tomado para que as viaturas consigam localizar”, finaliza.
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