Entenda contradições nos dois depoimentos do casal que acusa dupla de roubo e baleou um deles


Thiago Marques e Igor Melo chegaram a ser presos em flagrante, mas foram soltos. Justiça acredita que eles tenham sido confundidos com os supostos autores do roubo. Vídeos mostram universitário trabalhando minutos antes de ser baleado por policial aposentado no Rio
O policial militar reformado Carlos Alberto de Jesus e a mulher dele, Josilene da Silva Souza, foram ouvidos pela polícia duas vezes em um intervalo de 33 horas sobre o suposto assalto na Penha, na Zona Norte do Rio, que terminou com um universitário baleado.
O casal acusa o motociclista de aplicativo Thiago Marques Gonçalves e o universitário Igor Melo de Carvalho, que estava na garupa, de roubo de celular. Igor foi baleado na volta para casa e está internado em estado grave. O PM da reserva admitiu a autoria dos disparos.
Os depoimentos dos dois apresentaram versões diferentes, contradições e fizeram os suspeitos passarem à condição de vítimas.
Viu a arma ou não viu a arma?
Na primeira vez que falou com a polícia, Carlos Alberto disse que, “ao perceber que Igor, que estava na garupa de camisa amarela, sacou uma arma de fogo, deu dois disparos”.
Na segunda versão, o PM afirmou que Igor fez um movimento com a mão próxima à cintura fazendo menção de que estaria armado, e negou ter visto qualquer arma.
Josilene disse no primeiro depoimento que o homem de amarelo chegou a sacar a arma, mas que seu companheiro foi mais ligeiro e efetuou dois disparos.
Depois mudou a versão. Disse apenas ter visto um volume na cintura de Igor, que acreditava ser uma arma.
Igor está internado em estado grave
Reprodução/TV Globo
Que horas foi o suposto assalto?
Primeiro, Josilene disse que teve o celular roubado por volta das 23h de domingo (23).
No segundo depoimento, afirmou que usou o celular para mandar uma mensagem para a filha à 1h14 de segunda-feira (24) e apresentou a tela.
Imagens de câmeras de segurança mostram que Igor só saiu do trabalho no bar Batuq à 1h30, após pedir uma moto por aplicativa rumo a sua casa.
O policial militar da reserva Carlos Alberto de Jesus
Henrique Coelho/g1
Soltos pela Justiça
Thiago e Igor chegaram a ser presos em flagrante, mas foram soltos pela Justiça durante audiência de custódia na tarde desta terça-feira (25).
Na decisão de soltar os dois, em audiência de custódia, a juíza Rachel Assad da Cunha, da 29ª Vara Criminal da Capital, relata os fatos e afirma:
“Portanto, todas as informações indicam que tanto Carlos Alberto quanto Josilene teriam confundido os ora custodiados com os supostos autores do crime de roubo, de forma que os indícios de autoria restam totalmente esvaziados, impondo a imediata soltura dos custodiados.”
A juíza atende ainda a um pedido da defesa e encaminha cópias do processo para a Promotoria de Investigação Penal e a Corregedoria da Polícia Militar, que poderão investigar a conduta do policial da reserva.
Igor, de 32 anos, foi baleado na volta para casa enquanto estava na moto de Thiago, de 24.
A delegacia tem 30 dias para concluir o inquérito. O policial não foi preso em flagrante. Ele e a mulher foram prestar depoimento na Corregedoria da PM no fim da tarde desta terça.
Thiago chegou a ser levado para o presídio em Benfica, na Zona Norte, de onde saiu nesta tarde. Igor estava sob custódia no hospital, onde permanece, em liberdade, em tratamento.
O motociclista teve que sair descalço e disse que não deixaram que ele pegasse os chinelos. O jovem está com o corpo machucado devido à queda da moto na hora dos disparos. Emocionado, ele caiu no choro nos braços da mãe e disse que “passou as piores horas da vida no presídio”.
Thiago contou que, na delegacia, a esposa do policial apontou para ele e disse que ele a roubou enquanto ele ajoelhava falando que ela sabia que não era ele. O jovem deve prestar depoimento ainda nesta terça.
De acordo com as investigações, Igor pediu o transporte de moto por aplicativo para sair do trabalho, na Penha, duas horas depois do horário que a mulher do policial alega ter sido assaltada no mesmo bairro.
Em depoimento, Josilene disse que estava no ponto de ônibus por volta das 23h de domingo (23), quando dois homens, um de camisa preta e um de camisa amarela, se aproximaram em uma moto azul. O de camisa amarela, que seria Igor, teria tirado o telefone celular da mão da declarante.
No entanto, as câmeras do estabelecimento onde Igor trabalha mostram que ele deixou o local 1h06 de segunda.
Policiais da delegacia conseguiram registros do aplicativo que mostram que Igor pediu o transporte para sair do bar Batuq, onde trabalhava, às 1h27.
Em imagens enviadas pelos familiares, é possível ver o momento em que Igor, por volta de 1h30, embarca na moto por aplicativo.
Segundo a família, no caminho Igor teria percebido que um veículo seguia a motocicleta. Minutos depois ouviu disparos e caiu da moto. Percebendo estar ferido, Igor conseguiu ligar para colegas de trabalho, que foram até o local e o levaram até o Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha.
Os policiais ainda vão analisar imagens de câmeras próximas para ver se alguma delas registra o assalto contra a mulher e avaliar a rota da moto pilotada por Thiago, que iria levar Igor para casa quando foram alvos dos disparos.
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