Foliões deixam Rio e Salvador de lado para curtir carnaval em SP: ‘Preconceito está diminuindo’


O g1 conversou com moradores de capitais com carnavais tradicionalíssimos, mas que decidiram inverter o fluxo para ‘começar o ano’ festejando em solo paulistano. Foliões deixam Rio e Salvador de lado para curtir carnaval em SP
No início do mês, a Prefeitura de São Paulo criou uma polêmica nas redes sociais ao afirmar que a capital tem o maior carnaval do Brasil.
Outras cidades com carnavais mais tradicionais — como Rio de Janeiro, Recife e Olinda — entraram na onda e rebateram a afirmação. “Eu conto ou vocês contam?”, brincou a Prefeitura de Salvador.
Mas, por mais inusitado que pareça, tem gente que vai conferir isso na prática: o g1 conversou com pessoas que vão sair de Salvador e do Rio de Janeiro para curtir o carnaval deste ano na capital paulista.
Loucura de amor
Yago Rozante curtindo a noite carioca
Arquivo pessoal
O DJ Yago Rozante precisou de um ótimo motivo para pensar em sair da capital fluminense e vir a São Paulo pela primeira vez na vida.
“Eu conheci uma pessoa faz um tempinho, e a gente se apaixonou… Ele mora em São Paulo, aí eu vou passar o carnaval e vou conhecê-lo. Estou muito feliz com a viagem. É meio que uma loucura, mas estou muito animado”, contou.
“O carnaval no Rio é perfeito, mas eu estou abrindo mão disso para viver uma história que eu estou muito a fim de viver. Mas acho que, se você quer curtir um carnaval que é mais tradicional, Recife, Rio e Salvador são mais interessantes”, apontou o músico.
Mas ele garantiu que não ficou tão triste com a troca: “Estou animado para conhecer, não vou descartar a ideia de ser bom, sabe?”
Sem tempo para preparar fantasias, Yago disse que pretende resolver tudo em solo paulistano: “Meus amigos conhecem mais a cidade e vão me levar aos lugares certos”.
Sonho de menina
Carolina Lopes desfilando em 2024 pelo Paulistanos da Glória, do Butantã
Arquivo pessoal
Apaixonada por desfiles desde a infância, a auxiliar de loja Carolina Lopes realizou o sonho de assistir às apresentações no Anhembi em 2023 e, desde então, não conseguiu mais ficar de fora.
Desde pequena, Carolina acompanhava o carnaval de São Paulo pela televisão, porque o Grupo Especial saía no Anhembi no mesmo dia em que rolava o Grupo de Acesso no Rio.
“Sexta e sábado eu ficava superansiosa. Eu, criança, ficava ansiosa para ver as escolas. O que me faz ir para o Anhembi justamente é aquela Carol menina que ficava vendo em casa, que nunca podia ir. Mas que agora pode e agora eu consigo aproveitar e também as amizades que estão ali comigo, isso conta muito”, declarou.
Outro ponto que chamou sua atenção foi a qualidade dos desfiles. “Achava os carros de São Paulo bonitos na TV, mas, quando vi de perto, fiquei deslumbrada. Eles são muito grandes. No Rio, por conta do viaduto, os carros precisam ser menores.”
Apesar de reconhecer a tradição da festa no Rio, Carolina percebeu uma mudança de mentalidade entre os cariocas em relação ao carnaval paulista:
“Antigamente, havia muito preconceito. Muita gente falava besteira sem nem assistir aos desfiles. Hoje, vejo que já há um respeito maior e muitas pessoas do Rio têm uma escola do coração em São Paulo. Quem ganha com isso é o carnaval brasileiro.”
Paixão que virou trabalho
Cleiton em desfile no Rio de Janeiro
Arquivo pessoal
Cleiton Almeida, professor na Escola de Belas Artes da UFRJ, vai passar o carnaval em São Paulo não só pelo amor à cultura, mas também porque a folia virou trabalho em sua vida.
Natural de Rondônia, ele criou uma relação especial com os desfiles das escolas paulistanas ao assistir às transmissões pela televisão durante a infância. “A primeira vez que fui a um desfile foi em São Paulo, por causa de amizades.”
Mesmo morando em solo carioca há dez anos, Cleiton manteve a conexão com SP. “Quando fui para o Rio, acabei me distanciando um pouco de São Paulo, porque fui conhecer o carnaval de lá, da Sapucaí. Mas o afeto, tanto pelas escolas quanto pelos amigos, permaneceu”, afirma.
Tanto que neste ano ele vai desfilar e trabalhar pela Acadêmicos do Tucuruvi. “Já tive várias experiências trabalhando com adereços no barracão, fantasias, alegorias. Já desenhei para carnavalescos e, mais recentemente, escrevi enredo. Vim um pouco antes para ajudar no barracão da Tucuruvi, fazendo adereços e composição de carros.”
Para Cleiton, comparar os carnavais de Rio e São Paulo não faz sentido:
“Acho uma bobeira. Os dois são grandiosos e têm suas histórias e modos de fazer carnaval. Não acho que São Paulo precise melhorar para ‘chegar ao nível’ do Rio. São carnavais diferentes, com modos distintos de pensar.”
Apaixonada por experiências
Patrícia Éveli curtindo o carnaval em Salvador
Arquivo pessoal
Acostumada com a folia em diversos destinos nordestinos, mas principalmente em Salvador, sua cidade natal, a servidora pública Patrícia Éveli decidiu fazer diferente neste ano: trocar os megablocos e camarotes da capital baiana pelo carnaval de rua e pelo desfile no Sambódromo em São Paulo.
“Eu queria há muito tempo ver as escolas de samba, mas nunca tinha conseguido viver isso. Gosto muito dos bloquinhos, das bandinhas de fanfarra, aqueles blocos menores”, contou.
A escolha pela capital paulista também foi motivada pela chance de rever familiares. Por aqui, ela tem família tanto na Grande São Paulo quanto no interior.
Para viver a experiência do carnaval na pele e no pé, ela escolheu a Acadêmicos do Tucuruvi, mas não vai perder a chance de ferver nos blocos durante o dia.
“Vou aos bloquinhos durante o dia e, à noite, no sábado, eu saio na Tucuruvi. Eles têm um samba-enredo sobre os povos originários, do manto Tupinambá. Acho que essa vai ser a maior surpresa do carnaval”, afirmou.
Mesmo empolgada com a nova experiência, Patrícia não esconde que vê diferenças entre as festas. “São Paulo é uma cidade muito grande, mas eu não acredito que a gente tenha uma vivência carnavalesca nem parecida com a de Salvador. O carnaval de Salvador e de Recife têm uma cultura e uma história de longevidade que fizeram deles os maiores”.
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