‘Apresenta ao mundo o melhor que o Brasil tem: afetividade e calor humano’, diz Fernanda Torres sobre ‘Ainda Estou Aqui’

Nesta segunda-feira (3), o Jornal Nacional conversou com o diretor Walter Salles e com os atores Fernanda Torres e Selton Mello. Eles comemoraram o Oscar de melhor filme internacional. JN entrevista ao vivo Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello
Na noite desta segunda-feira (3), o Jornal Nacional conversou, diretamente de Los Angeles, com um time de vitoriosos: Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello.
Pergunta: Walter, você contou que está envolvido neste projeto há sete anos. Mas, daqui de longe, a gente acompanhou a jornada de vocês nos últimos seis meses. Uma energia que contagiou o Brasil e o mundo todo. O que deu esse impulso ao filme, o que levou tanta gente ao cinema em diferentes países nessa reta final?
Walter Salles, diretor: Boa noite. Feliz de estar aqui. Primeiro, acho que a história extraordinária de Eunice Paiva, uma mulher que sozinha enfrenta uma ditadura militar e reage a um ato de violência extremo, inventando novas formas de resistência. Ou seja, uma mulher que mostra um caminho para um dia de hoje, ilumina uma possibilidade para a gente resistir hoje. Eu acho que esse foi a porta de entrada. Mas nada teria acontecido sem que esse filme fosse elevado pelas pessoas que estão aqui ao meu lado. A Fernanda, o Selton e dona Fernanda Montenegro. Eu acho que elas levaram o filme para um, enfim, para um nível que nos forçou a todos a sermos melhores do que a gente poderia ser. Então, o filme é um pouco resultado disso. E também o resultado de como ele foi abraçado por 5 milhões de brasileiros. Isso acabou repercutindo no mundo inteiro. Então, o público brasileiro é coautor desse filme também.
Pergunta: É incrível estar aqui com vocês. Parabéns, Fernanda! Eu queria fazer uma pergunta você, porque o Walter, no palco ontem, enalteceu a sua atuação e também a da sua mãe. E é impossível não pensar em Fernanda Montenegro falando nesse filme, que é um filme que trata de amor, que trata de família. Então, eu queria saber se vocês conversaram e como foi a reação dela.
Fernanda Torres, atriz: A reação da mamãe? A gente tem que pensar que esse é um filme sobre transmissão de uma experiência. A minha mãe é da mesma geração da Eunice Paiva. São duas mulheres que viveram um período muito terrível no Brasil, no mundo, que é a Guerra Fria. E elas criaram filhos que depois foram capazes de escrever livros, de atuar. Eu gosto de pensar que esse filme foi feito por duas crianças, que era o Marcelo Rubens Paiva e o Walter, que estavam naquela casa e que sofreram por tabela uma violência de Estado e que, décadas depois, criaram algo para que nunca aquela história fosse esquecida. Então, eu me sinto assim também com relação à mamãe. Eu acho que de certa forma, eu levo o legado da minha mãe adiante e fico pensando nas crianças que estão vivas hoje. Que filmes eles farão daqui a 50 anos sobre a nossa resistência hoje ao autoritarismo, aos movimentos antidemocráticos, à anti-cultura? Então, eu acho que é um filme sobre transmissão e sobre resistência ao longo do tempo.

Pergunta: Selton, lá atrás, quando vocês começaram a filmar, vocês já tinham a noção da abrangência, do alcance que esse filme teria?
Selton Mello, ator: Não, não. Na verdade, nunca. Acho que a gente nunca tem. Mas a gente tinha uma base muito bela, que é o livro do Marcelo. O livro do Marcelo é extraordinário. E o Waltinho ele viveu naquela casa, como a Nanda estava dizendo.
Então, ele tinha um olhar sobre aquela família muito pessoal. Então, a gente confiava muito nesse olhar sensível do Waltinho, de como conduz o cinema dele. E a gente sabia que daria um filme lindo contando essa história. E nós somos uma família, vivemos como uma família de fato, ali, durante um período grande, e isso foi fundamental. Foi a minha parte também nesse filme. Foi a parte solar, literalmente do filme. Então, sim, foi lindo, foi uma experiência maravilhosa. Eu acho que isso transcendeu, passou, pulou da tela e toca o coração das pessoas, porque é uma história de família no final das contas.
Pergunta: Para vocês três… Vocês estão aqui, no Jornal Nacional, ao vivo, enquanto o Brasil está celebrando esse Oscar de vocês. Como é que fica o coração nessa hora?

Selton Mello: É muito bonito de ver, porque é o nosso cinema, é muita coisa.
Walter Salles: A cultura brasileira, a música brasileira, a literatura brasileira, a partir do livro extraordinário do Marcelo e que de alguma forma acabam se misturando com a cultura que está sendo feita agora no carnaval brasileiro. Essa cultura popular, potente. E tudo isso, uma coisa só. Quando a gente saiu e viu as imagens da rua, a gente ficou completamente apaixonado por isso. E a emoção à flor da pele.
Fernanda Torres: E eu acho também… Esse trabalho, a gente está a seis meses lançando esse filme porque não era um filme que tinha um grande budget de lançamento. O que a gente fez durante esse período foi mostrar esse filme, conversar. Eu acho que… Eu me senti, pelo menos, eu acho que todos nós, como representantes do Brasil no mundo. E acho que esse filme apresenta ao mundo o melhor que o Brasil tem, que é uma afetividade, um calor humano, um estar no mundo. O (Gilberto) Gil postou uma coisa linda sobre… E a geração dele tem muito isso. Como o Brasil, como uma potência de mostrar ao mundo uma outra forma de estar no mundo. E eu me senti assim. Foi crescendo essa coisa de que a gente era um representante do país da gente e acho que o Brasil retornou. Isso é muito emocionante.
Pergunta: Só pra gente encerrar muito rapidamente, É uma pergunta que muita gente quer saber. O que vocês vão fazer nos próximos dias?
Fernanda Torres: Dormir.
Selton Mello: Dormir. Dormir, claro.
Fernanda Torres: Eu estou de óculos escuro porque, assim… Eu estou com vergonha do meu olho. São duas bolas. A gente está igual a maratonista do fim do daquela Olimpíada chegando assim, feliz da vida… Mas eu vou dormir.
LEIA TAMBÉM
‘Ainda Estou Aqui’, primeiro filme original Globoplay, vence o Oscar de melhor filme internacional
‘Nós vamos sorrir’, comemora Fernanda Torres após conquista de ‘Ainda estou aqui’ no Oscar
LEIA TAMBÉM:
Fernanda Torres conversa com Mikey Madison após cerimônia do Oscar; veja vídeo
‘Parabéns ao cinema brasileiro!’, diz Marcelo Rubens Paiva em mensagem após Oscar
Oscar 2025: famosos e imprensa internacional recebem vitória de ‘Ainda estou aqui’ com surpresa e entusiasmo; veja
Oscar 2025: saiba como funciona a votação do maior prêmio de cinema

Bookmark the permalink.