Pablo Marçal é denunciado por colocar grupo em risco em expedição

Pablo Marçal no Pico dos MarinsReprodução/Instagram

O empresário Pablo Marçal (PRTB) foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo por ter exposto a vida e a saúde de um grupo de mais de 30 pessoas no Pico dos Marins, no interior do estado, em 2022.

A denúncia partiu da promotora Renata Galhardo Cheuen Zaros, da comarca de Piquete (SP), cidade onde fica a montanha, considerada uma das mais altas do território paulista.

Fora de época

Nos dias 4 e 5 de janeiro de 2022, Marçal esteve na montanha com cerca de 60 pessoas, em uma época que não é indicada para a subida.

O pico dos Marins é famoso não apenas pelas paisagens e pelas práticas de trekking e montanhismo, mas pelo frio registrado no inverno e, por outro lado, por receber muita chuva no verão, fator que contraria as regras de segurança para a subida no início do ano, como foi o caso.

De acordo com a promotora, o ex-candidato à prefeitura de São Paulo realizou o trajeto ”propositadamente num período contraindicado, fora da temporada de montanha, nas mais adversas condições de tempo”.

Na época, Pablo Marçal se apresentava como coach, e afirmou que o grupo precisava correr riscos, destacou a promotora. ‘(…) enfrentando a natureza hostil daquele período, sem o que não seriam capazes de vencer e prosperar na vida”, diz a denúncia.

Renata Galhardo classifica a expedição como uma ”arriscadíssima escalada”, para a qual Pablo Marçal não seguiu as indicações dos guias, ”mesmo com as advertências para recuar, dizendo para os convivas que os daria ‘o pior ano da vida’ (bordão que propagandeava na época)”, diz outra parte da denúncia.

A promotora ressaltou várias declarações dadas por ele para tentar justificar os riscos, entre elas, a seguinte: “Algumas pessoas não suportam quem corre risco. Se você é uma pessoa que não corre risco, dificilmente você vai governar ou chegar no topo. Na nossa subida ontem na montanha, a gente correu muito risco. Aí alguém me fala: ‘Mas pra que correr risco?’ Se você não quer correr risco, fica na sua casa assistindo os stories”.

Ainda segundo Galhardo, ao valorizar quem corre riscos, Marçal constrangeu os que não suportariam a incursão ao pico, ”dando-os por fracos e incapazes”.

Pablo Marçal subiu o Pico dos MarinsReprodução/Instagram

Guia ”covarde”

Durante a subida, a chuva aumentou, com o aparecimento de neblina e vento forte, chegando a 100km/h, reduzindo a visibilidade para menos de 10 metros. O caminho passou a ficar com muita lama e pedras escorregadias.

São comuns os relatos de pessoas que sofrem hipotermia no pico, e isso se repetiu na expedição, afirma a promotora. ”(…) algumas pessoas estavam com as vestimentas encharcadas sem peças de troca”.

Mesmo sendo alertado por um dos guias sobre as condições do tempo e a inviabilidade de prosseguir a subida, Pablo Marçal ”desdenhou dos avisos e chamou o guia de ‘covarde’, conclamando aos presentes que o seguissem”, diz a promotora.

Deste ponto em diante, das 60 pessoas, 32 seguiram o trajeto a partir do chamado do então coach. Tal fato, de acordo com a denúncia, expôs ”a vida e saúde de todos aqueles que o acompanharam a perigo direto e iminente inclusive de morte”.

Apesar de alguns integrantes da expedição estarem desorientados fisicamente, Pablo Marçal insistiu na ”tresloucada expedição”, afirmou Galhardo.

Pablo Marçal orando no Pico dos MarinsReprodução/Instagram

Chamado dos bombeiros e Marçal nervoso

Os bombeiros foram chamados por uma das pessoas que ainda seguiam no grupo.

Militares se deslocaram para o pico durante a madrugada, e encontraram dois grupos de pessoas perdidos na mata.

Cerca de 30 minutos depois, um dos integrantes da escalada fez contato com o guia que advertiu Marçal, chamando por socorro, dizendo estar em apuros e precisando de resgate.

”Contudo, no curso de tal pedido de socorro ao guia, via rádio, o interlocutor afirmou que Pablo Marçal estaria nervoso com os pedidos de resgate, dizendo peremptoriamente que não era para acionar os bombeiros, pois ele supostamente resolveria a situação, o que posteriormente constatado que era inverdade”, como está escrito em outra parte da denúncia.

Bombeiros caminharam cerca de 2 horas para encontrarem o primeiro grupo, com 14 integrantes, todos psicologicamente abalados, ”abandonados pelo próprio denunciado, que prosseguiu na subida, sem nenhum guia, com roupas inapropriadas para a travessia e encharcadas, parcialmente acampados fora da trilha do Pico dos Marins”, afirma a promotora.

O segundo grupo foi localizado 1 hora depois, ”fragilizado com as condições adversas a que foram submetidos durante a noite, acompanhados do mentor da travessia Pablo Marçal, nas mesmas condições inóspitas”.

Na época, a Secretaria Municipal de Piquete (SP) emitiu uma nota nas redes sociais alertando sobre os perigos da subida naquela época do ano, e o comunicado foi inserido na denúncia.

“A nossa ‘Temporada de Montanha’ inicia-se a partir do mês de maio, encerrando-se em outubro. Período no qual temos um inverno seco e mais propício para tais excursões. O verão é o momento para se respeitar a natureza e não promover qualquer prática que se coloque em risco vidas, ainda mais em se tratando das mudanças climáticas no Pico dos Marins”, afirmou a prefeitura.

Marçal foi denunciado no artigo 132 do Código Penal, que fala sobre expor a vida ou a saúde de outra pessoa a perigo direto e iminente, e a promotora também cita o artigo 71 (crime continuado) da mesma lei, ao afirmar que ele infringiu a legislação por 32 vezes, tendo em vista que havia 32 pessoas no grupo.

O iG tenta contato com a defesa de Pablo Marçal para atualização desta reportagem.

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