‘R$ 1,5 mil o cômodo’: preço do aluguel próximo da UFSC dispara e aperta estudantes

Morar em Florianópolis e escolher alugar imóvel perto da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) se tornou o principal custo dos estudantes, que voltaram às aulas na segunda-feira (10). O preço do aluguel por metro quadrado no bairro Trindade passou de R$ 28,8/m² para R$ 62,9 /m², um aumento de 118%, segundo o índice FipeZap+. O período corresponde entre os meses de janeiro de 2022 e de 2025.

Foto aérea mostra bairro Trindade, região com o preço do aluguel mais caro em janeiro 2025

Trindade foi o bairro de Florianópolis com o preço do aluguel mais caro em janeiro 2025 – Foto: Divulgação/Crédito Real/ND

O último índice, divulgado em 13 de fevereiro, apontou Trindade, um bairro popular entre universitários, como o mais caro para morar de Florianópolis entre os 10 analisados na pesquisa.

‘Não vale a pena o que eu pago’

Lucas Campos, de 20 anos, faz jornalismo na UFSC e mora de aluguel no bairro em uma kitnet a 10 minutos a pé da faculdade. Natural de Tubarão, se mudou para Florianópolis com 18 anos, quando passou no curso.

A kitnet onde mora tem três cômodos: um quarto, um banheiro e uma sala conjunta com a cozinha. O preço do aluguel é R$ 2,1 mil por mês, valor que Lucas não consegue pagar sem a ajuda dos pais, que bancam a despesa mensalmente, enquanto ele é responsável pelas outras contas que o mantém no bairro.

“Eu não acho que vale a pena o quanto eu pago. É um lugar bom para se morar, mas por ser perto da UFSC o preço é inflado de propósito. Em comparação com a cidade onde eu morava, que é relativamente mais pequena, R$ 2,1 mil paga um apartamento de três quartos com tudo incluso”, analisa.

Além de pequeno, o local onde o universitário mora alagou com as chuvas que atingiram a Grande Florianópolis em 16 de janeiro. Na ocasião, a cidade declarou situação de emergência.

Apesar disso, em comparação com a kitnet que morou antes no mesmo bairro, o apartamento é espaçoso. O estudante residiu em um imóvel de aproximadamente 40 metros quadrados, em um espaço que era quarto e cozinha ao mesmo tempo, além de um pequeno banheiro.

“Na Trindade eu já morei por R$ 1,5 mil em um lugar onde era só um cômodo, praticamente. (…) O lugar que não tinha nem saída de ar praticamente, era só uma basculante que dava para o muro”, lembra.

Quem divide, economiza para amenizar aperto nas contas

O levantamento do FipeZap+ mostra que quem escolhe morar sozinho, em média, paga mais caro. Na classificação de preço do aluguel por número de dormitórios, os imóveis com apenas um quarto tiveram o maior aumento, de 14,36% em janeiro de 2025, com o custo de R$ 62,83/m² a nível nacional.

Alguns estudantes escolhem dividir um imóvel para economizar no preço do aluguel, como o caso de Gabriel de Souza Ristow, de 20 anos. Natural de Brusque, no Vale do Itajaí, o estudante da licenciatura em ciências biológicas se mudou para Florianópolis em 2023 e divide um apartamento de três quartos com outras duas pessoas.

São três quartos, sala, cozinha, lavanderia e banheiro. A divisão foi organizada logo quando ele passou no vestibular da UFSC, entre conhecidos. Um quarto é dividido por dois, no outro dorme uma pessoa e o terceiro é utilizado como “quarto da bagunça”.

Com a ajuda de custo dos familiares, o preço do aluguel pago por Gabriel no apartamento é de R$ 1.560. Para o estudante, é um bom negócio.

“Se não fosse pela divisão [de aluguel] eu jamais teria conseguido vir para Florianópolis. O preço está acima do salário que eu consigo ter enquanto estudante, mas considerando que recebo ajuda dos meus familiares, é um bom apartamento e muito bem localizado, então acho que é um preço aceitável”, explica.

Estudantes da UFSC se mudam para a Trindade para ficarem próximos da universidade – Foto: Reprodução/ND

Por que escolher morar perto da UFSC?

Trindade é uma opção segura para o estudante que vem de outra cidade e precisa conhecer rápido os arredores de onde vai morar e estudar.

“Moro no coração do bairro Trindade, praticamente no meio. A qualidade de vida é ótima, têm tudo perto, shopping, pronto atendimento, farmácia e a UFSC. Eu só acho que não vale um preço tão elevado para ter uma qualidade de vida assim”, pondera Lucas.

Mas quem decide encarar o bairro morando sob preço mais “barato” em kitnets em comparação com estúdios também lida com um custo estrutural.

“Existe uma precarização muito grande. Por exemplo, tinha um apartamento com três cômodos separados por aquela parede mais fina de escritório. Na kitnet em que morei por R$ 1,5 mil, era claramente uma casa maior, separada em vários imóveis. As paredes eram muito finas, eu não podia ver televisão à noite. Então tem muito improviso”, pondera.

Estúdio de 35m² virou luxo e pode custar R$ 3,5 mil próximo da UFSC

Apesar da pesquisa FipeZap+ não mencionar o preço do aluguel por número de dormitório por capital, a média do Trindade, sozinha, supera a nacional para imóveis de um quarto.

O bairro segue a tendência da capital catarinense na totalidade: Florianópolis ocupa o quarto lugar do Brasil e o segundo entre capitais com o metro quadrado alugado mais caro, R$ 55,03/m².

Conforme Viviane Mondardo, diretora da Duda Imóveis, imobiliária do bairro Trindade, o perfil de quem escolhe o local para morar tem se tornado casa vez mais de quem tem mais poder aquisitivo.

Esse perfil de estudante da universidade pública é subsidiado pela família e prefere escolher estúdios — imóveis pequenos onde geralmente os cômodos são conjugados, assim como a kitnet, mas onde o alto padrão é refletido na qualidade dos móveis e na tecnologia do prédio.

Ela conta que o preço do aluguel médio por um estúdio nesse padrão é de R$ 3,5 mil mensal por um imóvel de 35 m².

“Hoje a gente vê estúdios bem mobiliados, mesmo tendo um valor mais alto, são imóveis bem procurados. A gente percebe muito que o valor do aluguel já não está tão relacionado com o metro quadrado. Às vezes um apartamento menor, mas com mais tecnologia e inovação agregada, tem o mesmo custo de um apartamento com uma metragem quadrada maior”, explica a corretora.

Aumento vertiginoso do preço do aluguel foi reação do mercado imobiliário pós-pandemia

A valorização de 118% entre janeiro de 2022 e o de 2025 no preço do aluguel foi uma reação pós-pandemia, avalia a corretora.

“Em 2022, os aluguéis ainda estavam bem impactados pela pandemia, principalmente porque a universidade ficou fechada por praticamente dois anos. Isso impactou bastante os aluguéis da região, muitos imóveis estavam fechados e o proprietário teve que negociar os valores, consequentemente, o preço do aluguel estava bem baixo”, explica.

A corretora também ressalta que a última decisão do Copom (Comitê de Política Monetária), em janeiro de 2025,  elevou a Selic em 13,25% ao ano, o que afetou o preço do aluguel.

Outros índices que influenciam no preço do aluguel são o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) e o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que aumentaram 6,75% e 4,56%, respectivamente, em um ano. Todos, contudo, estão muito abaixo do aumento de 118%.

UFSC oferece auxílio para estudantes

Para incentivar a permanência na universidade de estudantes com a renda per capita mensal menor que um salário mínimo (atualmente no valor de R$ 1.509), a UFSC oferece 500 vagas de auxílio-moradia por semestre. No valor de R$ 300 por mês, o benefício ajuda a pagar o aluguel de moradias oferecidas pela universidade.

Para se qualificarem para o benefício, estudantes devem ter o cadastro PRAE, que os permite concorrer às bolsas de auxílio disponibilizadas pela Universidade. Além da renda per capita, a universidade dá prioridade para pessoas trans, PcD (Pessoas com Deficiência), pretos e pardos e estudantes mães.

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