Formigas superam humanos em teste de inteligência coletiva; veja VÍDEO


Experimento revelou que, mesmo sem um líder ou instruções explícitas, as formigas desenvolveram estratégias mais eficientes do que os humanos em um desafio. Teste de inteligência coletiva mostra que formigas superam humanos
Apenas duas espécies na Terra são conhecidas por trabalhar juntas para carregar objetos maiores que elas mesmas: humanos e formigas.
E foi essa semelhança que inspirou um experimento inovador do Instituto Weizmann de Ciência, cujos resultados foram publicados na prestigiada revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
No estudo, pesquisadores colocaram grupos de humanos e formigas diante do mesmo desafio: transportar um objeto em formato de T por um labirinto com passagens estreitas, uma tarefa que exigia coordenação e tomada de decisões coletivas.
Os humanos participaram sob diferentes condições, incluindo restrições na comunicação, enquanto as formigas, da espécie Paratrechina longicornis, foram induzidas a acreditar que o objeto era alimento para o ninho.
Com isso, o experimento revelou que, mesmo sem um líder ou instruções explícitas, as formigas desenvolveram estratégias mais eficientes do que os humanos.
“Nós queríamos encontrar um quebra-cabeça que uma única formiga não conseguisse resolver, mas que muitas formigas pudessem,” explica ao g1 o físico Ofer Feinerman, professor do Weizmann e autor do estudo.
“Então passamos um ou dois meses tentando quebra-cabeças cada vez mais difíceis que representassem um obstáculo substancial para uma formiga individual – e o que você vê neste trabalho é a quinta tentativa”, explica.
Como esperado, os humanos sozinhos tiveram um desempenho superior ao das formigas individuais, graças à sua capacidade de planejamento e cognição avançada. Mas Feinerman conta que o cenário mudou quando os desafios foram realizados em grupo, especialmente entre os maiores.
Teste de inteligência coletiva mostra que formigas superam humanos.
T. Dreyer, A. Haluts, A. Korman, N. Gov, E. Fonio, & O. Feinerman/PNAS, 2024
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Nesse caso, as formigas não apenas superaram indivíduos de sua própria espécie, como também, em alguns casos, obtiveram resultados melhores que os grupos humanos.
E o diferencial das formigas foi uma estratégia coletiva eficiente, baseada no que os pesquisadores chamam de “memória emergente”. Esse fenômeno permitiu que o grupo persistisse na mesma direção mesmo após encontrar obstáculos, evitando repetir erros.
“Um dos padrões que mostram isso é que as formigas mantinham a direção do movimento mesmo depois de colidir com uma parede”, explica Feinerman. “Elas conseguiam voltar até a entrada do beco sem saída antes de tentar uma nova abordagem. Essa memória coletiva ajudava a evitar armadilhas.”
Esse comportamento ficou evidente em dois aspectos. Primeiro, ao encontrar um beco sem saída, as formigas conseguiam retornar até o início do caminho antes de testar novas rotas.
Segundo, os grupos maiores desenvolveram um padrão de “deslizamento na parede” – em vez de parar ao bater em um obstáculo, elas se moviam ao longo da barreira até encontrar uma passagem viável, o que tornava sua trajetória mais eficiente.
Já os humanos não mostraram a mesma vantagem em grupo. Quando foram impedidos de se comunicar, seu desempenho caiu em relação ao individual. Além disso, tendiam a escolher soluções rápidas e intuitivas, mas que não eram eficazes a longo prazo.
As pessoas têm uma necessidade enorme de se comunicar. Elas tentam qualquer truque, e parece que não conseguem se controlar. Tivemos que colocar um experimentador no labirinto para lembrá-las constantemente de que a comunicação era proibida.
Família acima de tudo
Segundo o estudo, o sucesso das formigas pode estar ligado à estrutura social das colônias. “Uma colônia de formigas é, na verdade, uma família”, explica Feinerman. “Todas são irmãs e compartilham os mesmos interesses. É uma sociedade onde a cooperação supera a competição. Por isso, às vezes chamamos a colônia de superorganismo – um corpo vivo formado por muitas ‘células’ que trabalham juntas.”
E os resultados confirmam essa ideia: as formigas em grupo demonstraram inteligência coletiva, enquanto os humanos, ao se organizarem em equipes, não ampliaram suas capacidades cognitivas.
A base neurológica desse comportamento também intriga os pesquisadores. Isso porque as formigas não precisam fazer cálculos complexos sozinhas. O que as diferencia de outros insetos é a capacidade de conectar ou desconectar seu próprio pensamento individual. Elas podem liderar em um momento e seguir o grupo no outro.
Mas a pesquisa não para por aí. Feinerman e sua equipe agora querem testar se outras espécies de formigas podem resolver desafios ainda mais difíceis.
“Estamos estudando as formigas tecelãs australianas e como elas constroem ninhos de folhas, um problema comparável a um quebra-cabeça tridimensional muito complexo”, explica o pesquisador. “Nenhuma formiga pode segurar uma folha sozinha, fazer mudanças sozinha ou saber quando a construção foi concluída.”
No experimento do labirinto, Feinerman já tinha uma ideia de como as formigas resolviam o problema. Mas, neste novo estudo, ele admite que ainda não sabe como elas fazem isso – ou quais desafios podem ser tão difíceis a ponto de se tornarem impossíveis até para elas.
“Estamos buscando problemas em que todo o processo cognitivo seja coletivo e vá além das capacidades individuais das formigas”, conclui.
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