Em meio à crise no abastecimento de água, prefeitura de Rio Branco retoma projeto de poços artesianos


Prefeito Tião Bocalom anunciou apoio do Serviço Geológico do Brasil e de pesquisadores da Universidade Federal do Acre para avaliar a viabilidade do projeto. Pesquisadores já se posicionaram que isso não resolveria o problema. Equipes do Saerb trabalham para consertar adutora que rompeu na última segunda-feira (12)
Agatha Lima/Rede Amazônica Acre
Em meio à crise no abastecimento de água e redução do nível do Rio Acre, a prefeitura de Rio Branco voltou a apresentar o projeto de escavação de poços artesianos na capital acreana para auxiliar na captação e distribuição.
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Nesta quarta-feira (21), o prefeito Tião Bocalom anunciou que os estudos de viabilidade do projeto vão contar com apoio da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), integrante do Serviço Geológico do Brasil, e de pesquisadores da Universidade Federal do Acre (Ufac).
Porém, ainda não foi informada data nem prazo para esses estudos.
O Rio Acre é a única fonte de captação de água para abastecimento na capital. No ano passando, quando o Rio Acre registrou também uma seca severa, o g1 fez uma reportagem com especialistas analisando o cenário, inclusive, estudos apontam que o rio pode até mesmo chegar a cota zero. A ideia dos poços não algo novo, mas sempre foi cogitado pela atual gestão. Mas, alguns estudiosos alegam que isso não resolveria o problema.
O que diz especialista?
Nossa reportagem ouviu Carolina Accorsi Montefusco, que é engenheira civil e mestre em Ciência, Inovação e Tecnologia para a Amazônia, que avaliou que não seria uma solução, pois, em um período de estiagem, esses poços podem secar também, não sendo uma solução.
“Quando se fala em perfuração de poços para atendimento ao abastecimento de água em Rio Branco, principalmente para a época de estiagem, não é a melhor solução. Uma vez que nesse período, em virtude da diminuição de chuvas, o nível do lençol freático diminui também, comprometendo o volume de água disponível para uso”, explicou na época.
Para a engenheira, é preciso pensar em maneiras de amenizar os impactos que esses fatores causam no rio. Segundo ela, as projeções apontam para cenários mais graves, inclusive, com cota 0 do Rio Acre em algumas regiões.
“O que é possível é justamente a realização de estudos que nos trazem projeções futuras de possibilidades. Inclusive, foram realizados já estudos que estimam em um futuro próximo, em virtude do alto grau de assoreamento do rio Acre, o mesmo pode apresentar cota zero em alguns locais no período de estiagem. Aliado a esse fator, as outras variáveis envolvidas nesse processo ocorrem concomitantemente, de maneira que aumentam ainda mais a preocupação com o futuro do rio Acre”, alertou.
Mesmo com níveis tão baixos, Carolina explica que o rio Acre, mesmo na estiagem, tem capacidade para abastecer a cidade tranquilamente. O que precisa mudar, segundo ela, é o sistema de captação e distribuição de água, sendo uma área que precisa de mais investimentos. E pontua o que deve ser feito para que a situação seja amenizada me períodos de seca.
“Apesar de ser fator diretamente ligado ao abastecimento, o volume de águas no rio Acre, no período de estiagem, não é único e exclusivamente o culpado nos problemas de abastecimento que a população de Rio Branco enfrenta. O sistema tem captado volume de água suficiente para ser distribuído, ao passo que o rio Acre tem vazão para atender a isso. Um dos grandes entraves se encontra justamente na gestão e operacionalização do sistema, principalmente no que diz respeito às etapas de distribuição de água. Medidas podem ser adotadas como ações de desassoreamento do rio, construção de barragens e reservatórios de acumulação com o objetivo de armazenamento de água nas épocas de cheia e distribuição na de estiagem, o que viria a contribuir também com o controle das enchentes na cidade. Além ainda de investimentos na gestão do sistema com melhorias na rede de distribuição, que hoje é bastante antiga, e adoção de tecnologias no sistema de gestão”, finaliza
Rio pode chegar a cota zero, segundo estudiosos
Juan Diaz/Aquivo pessoal
A retomada do projeto ocorre no momento em que o Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco (Saerb) encontra dificuldades em solucionar nas estações de tratamento, como a adutora que rompeu na ETA II na última semana e interrompeu o abastecimento em mais de 50 bairros. De acordo com o presidente do Saerb, Enoque Pereira, o problema seria totalmente resolvido nesta quarta, com a chegada de uma equipe de São Paulo.
Risco de seca
Outro desafio na gestão de recursos hídricos na capital acreana é o Rio Acre, que após registrar a maior cheia desde 2015, apresenta seguidas reduções no nível desde o mês de maio. Nesta quarta, o rio marcou 3,34 metros, ainda longe da pior cota, atingida em 11 de setembro de 2022, com 1,29 metro. Porém, especialistas já alertam para risco de seca severa em 2023.
A escavação de poços é citada por Bocalom desde o início do mandato, e, segundo o prefeito, permitirá uma menor dependência do Rio Acre.
“Somos reféns do rio e isso é muito ruim. Estamos nessa situação há mais de 20 anos. A CPRM vai nos dar uma resposta semana que vem. Eles vêm, a princípio, fazer um estudo aqui na região. Se for necessário, vamos perfurar poços de até 1.200 metros. Isso ainda está em discussão. Nós precisamos resolver o problema da água e para mim há apenas uma solução: poços”, afirmou o prefeito.
VÍDEOS: g1

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