Dia Mundial da Água: qual o futuro da gestão hídrica em Bauru?


Evento da Semana Internacional Paulista de Águas Subterrâneas (Sipa), que é realizada na Unesp até este sábado (22), debate soluções dos problemas hídricos enfrentados por Bauru (SP). Pesquisadores se dedicam ao estudo da gestão hídrica do abastecimento de água em Bauru
O dilema dos moradores de Bauru (SP) com a água é, há anos, entre seu excesso e sua falta: ora ruas e avenidas sofrem com inundações e enchentes em razão das chuvas fortes que atingem a cidade, ora sofrem com o racionamento de água, enfrentando torneiras secas durante o período de estiagem.
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Esses extremos estão ligados ao manejo da água no município, que abrange a lagoa de captação do Rio Batalha, os mais de 44 poços que captam água do Aquífero Guarani e o processo de licitação da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Vargem Limpa, que segue paralisada.
Neste sábado (22) é comemorado o Dia Mundial da Água, e pesquisadores de diversas partes do mundo vieram ao evento da Semana Internacional Paulista de Águas Subterrâneas (Sipa) na Unesp para tentar ajudar na resposta da questão: qual o futuro da gestão hídrica em Bauru?
A seca em Bauru
Imagem de drone registra incêndio em floresta urbana em Bauru (SP).
Ronaldo Mascestra
Em 2024, o Brasil enfrentou uma seca histórica: pela primeira vez, todo o país sofreu, de forma generalizada, com a seca e seus impactos.
Isso teve reflexos em diversas cidades, incluindo Bauru, na qual a população que mora em bairros abastecidos pela lagoa de captação do Rio Batalha passaram por um racionamento de água de seis meses.
Neste período, o Batalha atingiu o menor nível dos últimos 10 anos em Bauru, registrando 1,08 m, quando seu nível ideal é de 3,20 m. Moradores da cidade relataram ter passado mais de nove dias sem água nas torneiras, com um rodízio que chegou a ser na conformação de 24 horas com água e 72 horas sem.
A situação foi normalizada em novembro do mesmo ano, com a elevação da lagoa em razão das chuvas. No dia 14 de março de 2025, no entanto, a lagoa de captação voltou a reduzir, e o presidente do Departamento de Água e Esgoto (DAE) alertou para a possível volta do rodízio, caso os níveis não voltassem ao ideal. Na sexta-feira (21), o Rio Batalha registrava 3,19 m às 12h56.
Rio Batalha atingiu menor nível dos últimos 10 anos em Bauru
Cesar Evaristo/TV TEM
Busca por soluções
O problema da estiagem e das oscilações do Rio Batalha em Bauru, que impacta mais de 100 mil moradores que são abastecidos pela lagoa, tornou o município o laboratório perfeito para o Projeto Soluções Integradas de Água para Cidades Resilientes (Sacre).
A iniciativa, que busca reduzir as vulnerabilidades de cidades e do campo às crises hídricas associadas às mudanças climáticas, foi criada em 2021 e será concluída em 2027.
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Mais de 80 profissionais de instituições nacionais e internacionais identificaram as questões mais relevantes para as seguidas crises enfrentadas pela cidade, que não se relacionam apenas com a falta de fontes de água na região.
Lagoa de captação do Batalha, em Bauru (SP), sofre com os períodos de estiagem
Cesar Evaristo/TV TEM
Segundo o Projeto Sacre, a vazão dos 39 poços perfurados no Sistema Aquífero Guarani, da região de Bauru, e da captação do Rio Batalha até poderia suprir a demanda hídrica do abastecimento público, mas não conseguiria ser suficiente, pois:
50% da água distribuída são perdidos por fugas da rede e na própria estação de tratamento de água;
Limitações na operação da rede, que não é interligada;
A captação do Rio Batalha é feita em uma bacia pequena, com alta competição pela água (uso rural) e com sérios problemas no seu reservatório;
São regiões onde o Sistema Aquífero Guarani apresenta baixa produção, já que é um sistema de reposição muito lenta (mais de 100 mil anos) e que pode ser levado à exaustão.
Estação de tratamento de água do DAE de Bauru (SP)
Reprodução/TV TEM
Gestão hídrica
O coordenador do Projeto Sacre e um dos palestrantes da Semana Internacional Paulista de Águas Subterrâneas (Sipa), Ricardo Hirata, explicou, em entrevista à TV TEM, que os estudos buscam identificar as áreas de potencialidade a fim de aplicar as tecnologias que deram certo no exterior em Bauru.
“A ideia dos nossos equipamentos e metodologias é para aproveitar o excesso de água do verão, para conseguir guardar essa água (sobretudo nas águas subterrâneas e aquíferos) para um segundo aproveitamento na época da estiagem”, comenta Hirata, professor titular do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP).
Mesmo que ainda não esteja finalizada, a iniciativa já faz o mapeamento de “outras águas” da área que ainda não são exploradas pelo sistema público e privado, e numera algumas das soluções possíveis, como:
Sistemas de uso do binômio rio-aquífero, que integra o uso conjunto das águas superficiais (rios e lagos) e subterrâneas (aquíferos);
Recarga gerenciada de aquíferos;
Tratamento de águas subterrâneas poluídas com soluções baseadas na natureza e de engenharia;
Instrumentos de melhora da gestão e governança do recurso hídrico, com processos de alocação dos recursos hídricos.
Essas alternativas, levantadas por pesquisadores nacionais e internacionais, dentro e fora do Projeto Sacra, contribuem para uma visão mais otimista do futuro da gestão hídrica de Bauru, em que o fantasma do rodízio não assombre mais os moradores da cidade.
Um próximo passo é discutir a viabilidade da implantação das medidas, considerando as necessidades de infraestrutura e os recursos financeiros.
DAE de Bauru opera com poços em dois aquíferos, o Bauru e o Guarani
Reprodução/TV TEM
*Colaborou sob supervisão de Mariana Bonora
*Com informações de Thais Andrioli/TV TEM

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