Erdogan tira seu principal adversário do jogo político na Turquia

Calcada em acusações de corrupção, prisão de Ekrem Imamoglu, às vésperas de tornar-se candidato opositor, segue o roteiro típico de autocracias. Sob o domínio de Recep Tayyip Erdogan e na rota direta para a autocracia, a Turquia encarcerou o principal rival político do presidente — o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu — às vésperas das primárias que o elegeriam candidato do partido opositor CHP nas próximas eleições.
As acusações de corrupção contra opositores são manjadas em países onde há erosão das instituições democráticas e praticadas no intuito de remover um desafiante do jogo eleitoral.
Com Imamoglu não é diferente. Aos 54 anos, foi eleito três vezes prefeito de Istambul e é mais popular do que Erdogan, que está há 22 anos no poder, como premiê e presidente.
Ele já esteve preso outras vezes, mas agora está a caminho da Presidência, conforme resumiu o líder do CHP, Ozgur Ozel: “Seu único crime é liderar nas pesquisas. Ele foi preso porque venceria a eleição.”
A prisão não impede a candidatura de Imamoglu, mas há outros entraves. Ele teve o diploma universitário anulado — requisito essencial para se candidatar a presidente — e foi afastado da Prefeitura.
O líder opositor é acusado de estabelecer uma organização criminosa, aceitar subornos, extorsão, registrar ilegalmente dados pessoais e fraudar uma licitação. Se condenado, não poderá concorrer.
Ao ter a prisão formalizada, com outros 100 opositores, o prefeito convocou seus partidários ao voto nas primárias de domingo e aos protestos. “Eu nunca vou me curvar”, prometeu.
Foi atendido. As manifestações ocorrem há cinco dias e são as maiores registradas em uma década. Foram violentamente reprimidas e proibidas nas três maiores cidades — Istambul, Ancara e Izmir. Mais de 1.100 pessoas foram presas e associadas a organizações terroristas. Dez jornalistas turcos estão entre os detidos.
Erdogan ainda não anunciou oficialmente a intenção de concorrer novamente, até porque a Constituição turca limita os presidentes a dois mandatos de cinco anos. Ele já foi eleito três vezes, mas justificou a terceira candidatura, alegando que a primeira ocorreu antes da reforma constitucional de 2017.
As 17 emendas estabeleceram o presidencialismo no país, deram ao presidente o direito de nomear e demitir ministros, indicar quatro dos 13 juízes do Supremo, emitir decretos, declarar estado de emergência e dissolver o Parlamento.
Analistas encaram a prisão do líder opositor como uma nova manobra do presidente, que anteciparia as eleições de 2028 para possibilitar a quarta candidatura. O prestígio de Erdogan está em baixa, sobretudo pela crise econômica, que põe a inflação em torno de 50%. Nesse contexto, a popularidade de Imamoglu e a sua capacidade de unir secularistas e islâmicos eram um obstáculo.
Bookmark the permalink.