Surto de síndromes gripais e respiratórias graves faz Acre decretar emergência de saúde


Secretário Pedro Pascoal já havia informado que decreto seria publicado. Só este ano ano, foram 150 mortes no estado por síndrome respiratória. Estado decreta emergência em Saúde por surto de síndromes gripal respiratória aguda grave no Acre
Odair Leal/Sesacre
Assim como já havia sido adiantado há 4 dias, o governo do Acre decretou emergência em decorrência de surto de Síndrome Gripal e Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). O documento foi publicado nesta sexta-feira (23) no Diário Oficial do Estado. O governador Gladson Cameli enumerou que tomou a decisão baseado em casos graves, que são submetidos à internação na UTI.
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“Causando superlotação e fila de espera por leitos; considerando que o referido documento noticia baixas coberturas vacinais em crianças, tanto da vacina contra influenza quanto da vacina contra COVID-19. Considerando, por fim, a necessidade de que os órgãos e entidades competentes adotem, em caráter emergencial, todas as providências administrativas necessárias à ampliação da cobertura assistencial no âmbito da saúde pública estadual”, destacou.
O documento diz ainda que a declaração de emergência é por conta da situação anormal “caracterizada como situação de emergência, em razão da superlotação das unidades estaduais de saúde causada pelo surto de Síndrome Gripal e Síndrome Respiratória Aguda Grave – SRAG, fenômeno classificado e codificado como desastre natural biológico – epidemias – doenças infecciosas virais. A Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre) coordenará a atuação específica dos órgãos e entidades competentes para o enfrentamento à situação de emergência tratada neste decreto.”
O decreto autoriza a adoção de medidas administrativas urgentes que se mostrem necessárias ao restabelecimento da situação de normalidade. “Fica a Secretaria de Estado de Saúde autorizada a editar atos complementares necessários à execução de medidas administrativas urgentes para o enfrentamento à situação de emergência tratada neste decreto.”
Leitos
Ao g1, o secretário de Saúde do estado, Pedro Pascoal, alertou que os leitos têm mantido uma ocupação de 85% a 90%.
“Isso é uma ação estratégica para que a gente consiga subsídio financeiro para recursos nas unidades de saúde. Isso serve para que a gente consiga expandir leitos, atrair profissionais, para que façam plantões na UTI e nas enfermarias, e recursos melhores para tratar os pacientes. Nada fugiu do controle, não existe criança deixando de ser atendida, é mais um fortalecimento”, garantiu.
Segundo dados repassados por ele, até quinta-feira (22), havia 52 crianças no Hospital da Criança, sendo que a unidade tem capacidade para 60. A previsão era de que três desses pacientes recebessem alta.
“Nós estamos dentro da 27ª semana, comparado ao ano passado, estávamos no pico na vigésima oitava semana. Nossa curva epidemiológica mostra que provavelmente continuaremos subindo por mais duas semanas. Hoje, o que identificamos principalmente é Covid, Influenza e vírus sincicial. Se a gente tiver uma taxa de imunização efetiva, a gente tira um desses vírus do nosso foco. Temos vacina bivalente para Covid, é importante a vacinação para que a gente evite essa co-infecção”, orientou.
157 mortes
Na última segunda-feira (19), durante entrevista ao Jornal do Acre 1ª Edição, o secretário de Saúde do estado, Pedro Pascoal, há havia antecipado que o Estado decretaria emergência.
“Já existe toda uma articulação da nossa equipe técnica junto ao Ministério da Saúde, para que a gente consiga um financiamento da União e que tenhamos ações mais fortalecidas para assistência. Essa realidade não é só no Acre, é a nível nacional. Existe já decretos de emergência pública em outros estados e provavelmente estaremos decretando para que consigamos esse financiamento da União para o estado do Acre”, antecipou.
Uma Unidade Sentinela para monitorar casos de síndromes respiratórias foi implantado pela Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) na UPA do Segundo Distrito de Rio Branco para auxiliar no monitoramento em meio à alta nos casos de infecção principalmente pelo vírus influenza.
Pedro Pascoal destacou que a pesquisa permitirá detectar tendências e os tipos de vírus que estão causando as infecções. Ele afirmou que a principal preocupação é a associação de três vírus que circulam na região, sendo o sincicial respiratório, influenza e o da Covid-19.
“Uma vez que essa criança é acometida por esses três vírus, conforme as estatísticas, o desfecho tende a ser desfavorável. E a Unidade Sentinela inaugurada na UPA do Segundo Distrito serve para que o Ministério da Saúde tenha um real diagnóstico, do acometimento mútuo que acontece na nossa população”, ressaltou.
Conforme levantamento da Sesacre, feito a pedido do g1, o estado registrou de janeiro até a primeira quinzena de junho 157 mortes por síndromes gripais. Os dados são disponibilizados no Sistema SIVEP-GRIPE, e não especificam o tipo de infecção.
Porém, de acordo com o Boletim InfoGripe, divulgado na sexta-feira (16) pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Acre está entre os cinco estados que apresentam sinal de crescimento, na tendência de longo prazo, nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) especificamente em crianças.
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Essa tendência já é percebida nas unidades de saúde, e o secretário voltou a alertar para a importância da vacinação. Pascoal também orientou o público a deixar o pronto-socorro da capital para os carros graves, e procurar as UPAs no início dos sintomas leves.
“No período da Covid, falamos muito de vacinação. E esperamos que o sucesso aplicado nesse período seja replicado agora, temos inúmeros imunizantes disponíveis, de forma gratuita. Fica aqui o nosso apelo para que a população leve seus filhos”, disse.
Caos na saúde pública
No ano passado, o estado viveu uma alta severa nas internações por conta de síndromes gripais, com pelo menos 10 mortes de crianças por conta de casos graves, e com a ocupação de leitos chegando a 90%.
Na última semana de junho daquele ano, das 20 Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) pediátricas existentes no estado, que estavam concentradas em Rio Branco, 18 estavam ocupadas, sendo 11 por síndrome gripal e outras sete por outras comorbidades.
Já em relação a enfermarias pediátricas, o estado conta com 66 vagas, sendo que 50 delas em Rio Branco, 39 estavam ocupadas. A maioria também por síndrome gripal (20).
No Juruá, onde há apenas leitos para crianças, 16 ao todo, e até esta quinta, 11 estavam ocupados. No Alto Acre, há 12 leitos adultos que podem ser convertidos para pediátrico conforme necessidade. Não há notificação de criança internada.
No Pronto-Socorro, a observação pediátrica tem sete salas disponíveis e seis estavam ocupadas.
Bebês morreram de síndromes respiratórias em Rio Branco e pais alegam negligência
Arquivo pessoal
Mortes de crianças
As famílias das crianças que morreram vítimas de síndromes gripais se juntaram e entraram na Justiça contra o estado, por entenderem que houve negligência no atendimento das vítimas.
Em comum, elas relataram que os bebês deram entrada em unidades de saúde da capital com sintomas gripais, logo o quadro deles agravou e não havia leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) disponível para internação. Sobre isso, o governo disse na época que não iria se manifestar.
A 1ª Promotoria de Justiça Especializada de Defesa da Saúde, do O Ministério Público do Acre abriu procedimento para avaliar se houve omissão no atendimento às crianças e a disponibilidade de leitos de pediatria, medicamentos e insumos da rede pública estadual, destinados ao atendimento de crianças acometidas de vírus respiratórios.
Quem começou o movimento para tentar juntar os pais das vítimas foi a servidora pública, Joelma Dantas, mãe do pequeno Théo Dantas, de 10 meses, que morreu no PS da capital enquanto esperava uma vaga de UTI no Hospital da Criança. Ela disse que a ideia é unir as famílias das crianças para buscar justiça.

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