Brasileira descobre que foi vendida a casal americano

Adotada ainda bebê em Salvador, ela foi levada por um casal americano Reprodução

Um casal americano não sabia, mas estava sendo enganado por uma quadrilha especializada no tráfico de bebês brasileiros para adoção ilegal no exterior — um esquema de grandes proporções que operou em diversas regiões do Brasil durante a década de 1980. Hilary Frank, hoje uma empreendedora de 41 anos que vive em Charlotte, na Carolina do Norte, é uma das crianças que cruzaram o oceano em meio a essarede criminosa.

Adotada ainda bebê em Salvador, ela foi levada por um casal americano para uma nova vida nos Estados Unidos, sem que seus pais adotivos soubessem da origem ilícita do processo.

O esquema envolvia uma cadeia complexa de assistentes sociais, advogados, escrivães e até juízes que atuavam em cidades como Cachoeira, Serrinha, Eunápolis, Camamu e Feira de Santana, na Bahia, além de outras regiões do país.

Famílias vulneráveis eram persuadidas a entregar seus filhos em troca de pequenas quantias, sob a promessa de uma vida melhor no exterior.

Cada bebê podia ser negociado por até US$ 10 mil, valor significativo na época, mas pouco chegava às mãos das mães biológicas.

Hilary procura família brasileira

Hilary bebêReprodução

Hilary cresceu cercada de amor, mas a busca por suas raízes a levou de volta ao Brasil em 2018. “À medida que fui crescendo, por volta da idade universitária, comecei a me perguntar sobre minhas origens e minha família biológica”, contou ela ao Correio 24 Horas.

Em Salvador, encontrou a assistente social que intermediou sua adoção, mas ouviu que os arquivos haviam sido perdidos em um incêndio. “Ela disse que não se lembrava da minha adoção nem da minha mãe”, relatou Hilary.

O esquema tinha figuras notórias, como Arlete Hilú, contrabandista mineira que enviou mais de 10 mil crianças do Sul do Brasil para Israel e Europa. Condenada em 1988 por tráfico de crianças, falsidade ideológica e formação de quadrilha, ela faleceu em 2023, aos 78 anos.

Na Bahia, os envolvidos cobravam milhares de dólares de famílias americanas, como os pais de Hilary, que buscavam adotar por meio de uma organização em Nova Jersey.

“Meus pais pagaram e se comunicaram com a assistente social durante o processo. Eles também se lembram de que ela disse que o juiz iria sair de férias e não assinaria a papelada, a menos que fosse pago”, revelou.

Documentos judiciais mostram que Hilary, originalmente chamada Nilda Bahia, nasceu em 1984 e foi adotada em 1985. Apesar de sua busca, os registros não traziam pistas sobre seus pais biológicos.

Foi um teste genético que abriu uma janela de esperança, conectando-a a Alyda Moraes, uma prima de segundo grau de Recife. “Fiquei muito impactada com a história dela”, disse Alyda. “Minha família está de braços abertos para ajudá-la.”

Para Hilary, encontrar sua família biológica seria mais que um reencontro. “Seria como recuperar uma parte fundamental da minha identidade”, afirmou.

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