Poluição na Lagoa da Pampulha: entenda os riscos e como resolver problema histórico


Represamento do Ribeirão Pampulha, que originou o cartão-postal de BH, em 1943, foi feito com o objetivo de ampliar o amastecimento de água à população e para ser um local de lazer. Mas desde 1968 é proibido pescar, nadar e navegar no local pela má qualidade da água. Copasa liga à rede de imóveis que ainda lançam esgoto na Bacia da Pampulha
Na última semana, duas imagens da Lagoa da Pampulha, um dos principais cartões-postais de Belo Horizonte, chamaram a atenção. Uma delas, capturada pelo Globocop na quarta-feira (26), revela o acúmulo de lixo nas águas do local após chuvas intensas (veja acima).
A outra imagem, de autoria desconhecida, mostra o momento em que um homem pula na Lagoa para dar um mergulho, após ser incentivado por amigos, que caíram na risada.
O vídeo se espalhou rapidamente pelas redes sociais e gerou uma série de comentários, como: ‘Que nojo’, ‘Voltou com 27 doenças diferentes’, ‘Qual a graça de pular no maior esgoto de BH?’ e ‘Ou é turista ou está querendo morrer’.
Os comentários mostram que a população tem uma percepção correta sobre o local. Para o biólogo e limnólogo — profissional que estuda ecossistemas aquáticos — e professor Fabiano Silva, um mergulho como este pode mesmo gerar consequências para a saúde, principalmente pelo acúmulo de esgoto local.
“Aquela coloração esverdeada, que é muito comum na Lagoa da Pampulha, revela a presença de cianobactérias, que são organismos altamente resistentes, oriundos do esgoto doméstico despejado ali e de alta gravidade. Permanecer nesta água ou comer peixe do local é muito perigoso”, alertou Silva.
Jacaré foi flagrado em meio ao lixo, na Lagoa Pampulha, no sábado (29)
Atividades proibidas
Embora esteja cercado por diversos atrativos, como o conjunto arquitetônico de Oscar Niemeyer, o paisagismo, os parques, museus e o zoológico, o represamento do Ribeirão Pampulha, que resultou na lagoa, em 1943, não cumpre sua função inicial: ampliar o abastecimento de água à população e proporcionar atividades de lazer aquáticas.
A má qualidade motivou, em 1968, a criação de uma lei municipal que proíbe atividades aquáticas, como natação, navegação e pesca, na Lagoa da Pampulha.
“Apesar da lagoa ser muito importante para o modo de vida local, já há muitos anos a água não tem a qualidade mínima necessária para ser uma fonte de abastecimento, isso porque historicamente a gente não preservou as áreas que drenam para a lagoa. O principal problema da lagoa é o lançamento de esgoto no local”, alertou o biólogo.
Como resolver o problema?
Fabiano Silva defende que preservação da lagoa aconteça considerando toda a bacia — que inclui os córregos Ressaca e Sarandi, que vêm da região de Contagem —, e não somente a lagoa.
“Historicamente a prefeitura vem trabalhando na dragagem, que é a retirada excessiva de sedimentos que se acumularam na Lagoa e que sequestra o fósforo favorável para a reprodução das cianobactérias. Mas há muito trabalho a fazer. Ainda existe lançamento clandestino de esgoto na lagoa e o poder público deve conscientizar a população, fiscalizar e interromper estes lançamentos. A partir disso, reflorestar e preservar áreas de margem para possibilitar que se faça a recuperação do ecossistema como um todo”, disse ele.
Reviva Pampulha
Na última sexta-feira (28), completaram-se dois anos do programa “Reviva Pampulha”, que prevê a interligação de 9.759 imóveis à rede de esgoto, contribuindo para eliminar o despejo de esgoto na Lagoa Pampulha.
O plano é uma parceria da Copasa com as prefeituras de Belo Horizonte e Contagem (cidade que também está inserida na Bacia da Pampulha). O investimento previsto é de R$ 146 milhões.
Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte
Maíra Cabral/g1 Minas
De acordo com a Copasa, dados do relatório trimestral mais recente, apontam que apenas 44% das ligações planejadas foram concluídas. Ainda segundo a companhia, também está em curso uma mobilização social de porta em porta para explicar aos moradores do entorno sobre a importância da adesão à rede de esgoto.
“Nesses primeiros dias de ação nas Áreas de Interesse Social, a Copasa já conseguiu a adesão de 96%, sendo que apenas 4% se recusaram a aderir à rede neste momento”, informou a Copasa em nota.
Animais vivem em meio ao lixo na Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte
Vídeos mais vistos no g1 Minas:
Bookmark the permalink.