Aos 104 anos, catarinense lembra casamento de sete décadas: ‘Não há dia que eu não pense nela’

De sorriso tímido, camisa de gola azul impecável e um olhar acolhedor, José Jacob Pereira recebeu a equipe de reportagem na sala de visitas de sua casa, em São José, onde vive há 50 anos. Sentado em uma poltrona no canto do cômodo, ele observa com atenção a equipe, mesmo com dificuldade auditiva. Ao fundo, fotografias penduradas nas paredes contam sua história — uma trajetória de 104 anos, celebrados recentemente, no dia 29 de março.

Aniversário de 104 anos de José Jacob

Aniversário de 104 anos de José Jacob – Foto: Divulgação/ND

As palavras saem sem pressa, com a serenidade de quem viu o mundo mudar, sua família crescer, mas sem perder a própria essência. Cada moldura na parede carrega um pedaço de sua vida — a esposa amada, os filhos, netos e bisnetos, os momentos que compõem mais de um século de existência. “Agradeço a Deus, pois somos uma família muito unida. No meu aniversário, a casa ficou pequena”, contou, relembrando a reunião que juntou todos os seus descendentes.

Ao lado de sua esposa, Viville Borges, com quem compartilhou 76 anos de casamento até ela morrer, aos 94, José Jacob construiu uma grande família. Tiveram 12 filhos e ainda criaram uma afilhada e um neto. Hoje, já são 20 bisnetos e incontáveis netos e sobrinhos. “Não há um dia sequer em que eu não pense nela. Fomos muito felizes”, disse, apontando para a fotografia do casal.

José Jacob e sua esposa Viville Borges

José Jacob e sua esposa Viville Borges – Foto: Germano Rorato/ND

Do interior à cidade

Nascido em 1921, em São Pedro de Alcântara, José Jacob cresceu em uma realidade em que tudo se conquistava com trabalho árduo e sabedoria. Aos 22 anos, decidiu partir em busca de novos caminhos e seguiu para Sombrio, no Sul do Estado. Foi lá que conheceu Viville e deu início à sua história e ao próprio desenvolvimento da cidade.

No dia 2 de abril de 1954, ele participou ativamente da instalação oficial do município de Sombrio, que se desmembrou de Araranguá. Décadas depois, o reconhecimento veio: em 10 de junho de 2016, a Câmara de Vereadores lhe concedeu uma Moção de Reconhecimento por sua contribuição. O quadro da homenagem também ocupa um espaço especial em sua parede.

Ao longo da vida, José Jacob trabalhou por 18 anos no DER (Departamento de Estradas de Rodagem), administrando serviços. Mas nunca se contentou com pouco. Em busca de melhores condições para a família que crescia, mudou-se diversas vezes, passando por cidades como Caxias do Sul (RS), Torres (RS) e Pato Branco (PR). “Moramos em uma porção de lugares. Quando não gostávamos muito de um, já partíamos para outro. A gente era aventureiro”, comentou, com um sorriso nostálgico.

Aos 54 anos, decidiu fincar raízes em São José. O terreno onde hoje está sua casa, na época um banhado, foi transformado por ele próprio. Com as próprias mãos, ergueu a casa onde vive hoje. “Ele recebe muitas visitas”, afirmou sua filha Lunalva Borges Pereira, 77, que acompanhava a entrevista. “Quando a mãe estava viva, há quatro anos, era um entra e sai constante. E hoje ainda continua assim. Sempre tem alguém apertando a campainha, seja da família ou dos amigos.”

Aniversariante e sua filha Lunalva Borges Pereira – Foto: Germano Rorato/ND

O segredo da longevidade de José Jacob

Com 104 anos de vida bem vivida, sem dores e sempre pronto para uma boa conversa, José Jacob revela seu segredo para a longevidade, um ritual diário que nunca abandonou.

“Sou viciado no meu vinhozinho seco. Todo dia, antes do almoço, tomo um cálice. Já faz uma porção de anos. É bom para abrir o apetite. E sou bom de boca e como de tudo”, revelou, com um sorriso convencido, como quem revela um segredo bem guardado. Para garantir que o hábito não lhe faria mal, ele consultou seus netos médicos. “Perguntei para eles se podia fazer mal e eles me disseram que faz até bem, mas tem que saber usar.”

Já sua filha Lunalva acredita que outro fator pode ter contribuído para sua memória afiada: o jogo de dominó. “Pai, quando o senhor se reunia com os amigos, o que mais gostavam de fazer?”, questionou. “Ah!”, ele se lembrou, com um brilho nos olhos. “Eu era viciado em dominó. Tinha muitos amigos e jogávamos sempre. Ganhei até uma taça bonita, que deixo na estante do meu quarto.”

Segundo José, dominó e vinho são uns dos segredos para longevidade – Foto: Germano Rorato/ND

Quando a entrevista chegou ao fim, José Jacob não deixou ninguém sair sem antes expressar sua gratidão. “Obrigado pela visita de vocês, de coração”, disse, com a sinceridade de quem sabe que cada história compartilhada é um registro que ficará marcado para sempre.

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