Conversas de motorista que avançou sinal vermelho e matou motociclista indicam consumo de álcool; veja prints


Exame pericial feito pelo Instituto de Criminalística no celular de João Pedro revelou troca de mensagens antes e depois do acidente que terminou com a morte de Caetano Ribeiro. João Pedro Donatone confessou estar errado (à esq.) em acidente que terminou com a morte de Caetano Ribeiro (ao centro)
Reprodução, Redes sociais e Ariane Andrade
O laudo pericial do celular de João Pedro Donatone, o motorista que colidiu e matou o motociclista Caetano Ribeiro ao avançar um sinal vermelho em Santos, no litoral de São Paulo, revelou conversas que apontam o consumo de bebidas alcóolicas por parte do suspeito antes do acidente.
O documento, obtido pelo g1 nesta segunda-feira (7), mostra algumas trocas de mensagens do motorista com amigos antes e depois da colisão (veja acima).
✅ Clique aqui para seguir o novo canal do g1 Santos no WhatsApp.
O acidente ocorreu na madrugada de 19 de outubro do ano passado, no cruzamento entre as ruas Álvaro Alvim e Conselheiro Lafayette, no bairro Embaré. João Pedro Donatone, na época com 19 anos, dirigia o carro e não ficou ferido. No entanto, o motociclista Caetano Ribeiro Aurungo, de 21, morreu no local após o choque.
Segundo o boletim de ocorrência, João Pedro foi submetido a exame clínico no Instituto Médico Legal (IML) que deu negativo para embriaguez. O laudo, porém, apontou que haviam sinais indicativos de que ele estava sob o efeito de álcool. O jovem atualmente cumpre medidas cautelares, como uso de tornozeleira eletrônica.
O consumo de álcool foi novamente colocado em pauta com o resultado do exame pericial no celular dele, realizado pelo Instituto de Criminalística a pedido da Polícia Civil. O documento aponta a atividade de João nas redes sociais entre os dias 18 e 19 de outubro, com quatro conversas com diferentes amigos.
“Já há uma série de elementos, de provas, que foram colhidos na fase de investigação que demonstram que o acusado, de fato, assume o risco de atingir o resultado trágico com a vítima Caetano, na modalidade do dolo eventual ao dirigir um veículo automotor em alta velocidade, sem respeitar o sinal vermelho e após ter ingerido álcool”, informou o advogado Yuri Cruz, que representa a família de Caetano ao lado do advogado Matheus Miranda.
Carro avançou com o carro no sinal vermelho em cruzamento de ruas no bairro Embaré, em Santos (SP)
Reprodução
Conversas
Uma troca de mensagens no dia 18 revelou os planos de João para a data. Na conversa, um amigo convida o motorista para ir a São Paulo justificando que iria apresentar uma garota para ele. No entanto, João responde que não poderia, pois havia reservado um camarote em uma casa noturna de Santos. Em seguida, os dois combinam o encontro para o dia 19 (veja abaixo).
João Pedro falou sobre reserva de camarote em casa noturna antes de acidente em Santos
Reprodução do exame pericial
Uma conversa com outro amigo mostra que eles estavam se comunicando momentos antes do acidente, cada um em seu veículo, mas seguindo o mesmo trajeto. Em determinado momento, a dupla fala sobre a dinâmica do acidente, culpando o motociclista.
O trecho que chamou atenção da perícia ocorreu quando o amigo disse para João que estava levando água para ajudá-lo a fazer o “álcool cair” (veja abaixo).
Amigo de João falou sobre ações após o acidente em Santos
Reprodução do exame pericial
Depois do acidente, João conversou sobre o caso com outra pessoa. Ele chegou a enviar uma imagem com a legenda “eu 20 min [minutos] antes da merda”, referindo-se ao estado dele minutos antes do acidente. Em seguida, o jovem pediu para guardar segredo sobre o conteúdo (veja abaixo).
João apagou mensagem que enviou para amigo
Reprodução do exame pericial
Ao g1, o advogado Yuri Cruz informou que o escritório tem interesse na imagem deletada da conversa e, por isso, solicitou o conteúdo à Justiça.
“Tendo em vista que essa foto pode trazer algum elemento de prova muito importante para o deslinde da causa, nosso escritório na qualidade de assistente da acusação, solicitou ao juízo que fosse oficiado o Instituto de Criminalística a fim de esclarecer se seria possível recuperar esta foto, esse arquivo digital apagado, reforçando que poderia trazer algum elemento relevante”, acrescentou ele.
A última troca de mensagens que chamou atenção da perícia ocorreu com um quarto amigo de João. Na ocasião, ele confessou que colidiu com a motocicleta depois de avançar o semáforo vermelho (veja abaixo).
João Pedro confessou ser responsável pelo acidente
Reprodução do exame pericial
Audiência de instrução
Nesta semana, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) marcou a data para a audiência de instrução de João Pedro Donatone. Segundo o advogado Yuri Cruz, a sessão está prevista para o dia 13 de maio.
“Irá iniciar a instrução criminal dessa primeira fase do júri, onde serão ouvidas todas as testemunhas de acusação, as de defesa e o réu será devidamente interrogado”, explicou Cruz.
A partir desta audiência, o juiz irá definir se João irá a júri popular. “O que a gente aguarda como assistente da acusação, é que, de fato, ao final dessa primeira fase, o acusado seja submetido ao júri popular, tendo em vista que há uma série elementos que indicam que se tratou de um homicídio doloso na modalidade do dolo eventual”, finalizou o advogado.
O g1 não conseguiu localizar a defesa de João Pedro.
Acidente
A Polícia Militar disse ter sido acionada para atender o caso de uma colisão entre uma moto e um carro por volta das 3h40 do dia 19. No local, os agentes encontraram o motociclista no chão, já sendo atendido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A morte foi constatada em seguida.
A Secretaria de Segurança Pública informou que os policiais apuraram que o condutor do carro atingiu o motociclista após avançar o sinal vermelho. O local foi isolado pelos policiais até a retirada do corpo e a ocorrência foi apresentada na Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Santos.
Vídeo mostra momento em que carro avança sinal vermelho e atinge motociclista
Quem era Caetano?
Caetano deixou dois irmãos caçulas, sendo uma menina de 14 anos e um menino de 11. O trio morava com os avós paternos no bairro Aparecida. A avó Freire Aurungo contou ao g1 que possuía a guarda dos três netos, apesar de todos terem contato com os pais biológicos.
O pai de Caetano morreu no dia 14 de agosto após adoecer. No entanto, semanas antes de ficar doente, o pai do jovem havia voltado a morar na casa da mãe e, consequentemente, ter mais convívio com Caetano.
“Eles conversaram, desabafaram um com o outro e o Caetano estava até feliz com essa situação. Ele comentou isso comigo essa semana que passou, falou que estava contente de ter essa aproximação com o pai, aí aconteceu isso do pai adoecer e falecer […]. Ele ficou muito mal, acho que esperava uma aproximação, que aconteceu, mas não teve continuidade”, afirmou Vanda.
Vanda Freire Aurungo tinha a guarda do neto Caetano Ribeiro Aurungo
Arquivo Pessoal
VÍDEOS: g1 em 1 Minuto Santos
Bookmark the permalink.