Criança pode tomar chimarrão? Especialistas explicam


Bebida típica do Sul do Brasil é feita basicamente com erva-mate e água quente. Chimarrão
Reprodução/ RBS TV
🧉 Geralmente em uma cuia de madeira ou porongo, com uma bombinha de metal no meio, e um líquido esverdeado que solta vapor, o chimarrão é uma bebida típica do sul do Brasil feita basicamente com erva-mate e água quente. No entanto, mais do que um sabor, é uma tradição: passa de mão em mão entre amigos, colegas de trabalho, familiares, e vai aquecendo o corpo e conversas.
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Mas o que acontece quando esse costume chega a mãozinhas menores? 🤔 Afinal, crianças podem tomar chimarrão? A reportagem do g1 foi atrás de respostas, que, assim como o trajeto da cuia, dá algumas voltas e exige certos cuidados.
Cafeína e coraçãozinho acelerado
“Até os dois anos a gente tenta evitar”, diz o pediatra e intensivista pediátrico do Hospital Moinhos de Vento, doutor João Ronaldo Krauzer.
Segundo ele, assim como o café e alguns chás, o chimarrão contém xantinas, compostos estimulantes que podem afetar a criança, de qualquer idade.
Os efeitos? “Agitação psicomotora, noites de insônia e taquicardia”, alerta o médico.
“Às vezes a criança chega taquicárdica na emergência e não se sabe exatamente o que aconteceu. A gente começa a conversar com a família, e descobre que a criança tomou chimarrão”, relata Krauzer.
E o chimarrão descafeinado? Se a preocupação é com o coração acelerado, por que não um mate sem cafeína?
“Erva-mate com zero cafeína não existe, pode ter com menor teor”, explica Daiane Ehrhardt, engenheira mecânica e especialista na fabricação de máquinas para o setor ervateiro. “A cafeína é natural da planta, então não tem como zerar”, comenta.
Conforme explica Daiane, a cafeína na erva-mate pode variar de acordo com vários fatores, como a espécie da planta, o solo e o sol. Por este motivo, algumas ervas têm um teor de cafeína maior que outras.
O uso do chimarrão, portanto, deve ser desencorajado, e não estimulado, para o consumo de crianças.
Temperatura e queimaduras
Chimarrão
Reprodução/ RBS TV
O médico Krauzer levanta outro alerta sobre o consumo de chimarrão: as queimaduras.
“A queimadura é muito frequente quando se tem um consumo diário de chimarrão com falta de cuidado”, relata.
Ele conta que já recebeu diversas crianças que se queimaram derrubando a água que estava sendo preparada para chimarrão, seja nas jarras elétricas ou na própria cuia.
No entanto, a queimadura não é só na pele. A água quente também pode causar queimaduras na boca, o que o doutor Krauzer chama de “queimadura da mucosa oral”. Além disso, a criança também pode fazer uma “lesão de esôfago transitório”, causando uma inflamação e inchaço na região.
Para essa questão, a engenheira Daiane indica que a bebida seja servida em uma temperatura mais amena.
“Mesmo você diminuindo a temperatura da água, as propriedades da erva-mate, elas se mantém, então você consegue absorver os nutrientes”, explica.
Na casa da entendedora de erva-mate, Daiane sempre costumava tomar os primeiros mates para tirar aquele amargor inicial antes de dar para o filho. Além disso, para beber, sempre colocava um pouquinho de água fria junto, justamente para não queimar a criança, evitando que tomasse um gole muito quente.
A tradição
A roda de chimarrão pode ser mais do que um hábito, mas um laço de família. É o que acredita a apaixonada por erva-mate Daiane, que tenta manter o tradicionalismo vivo nas próximas gerações.
“A partir da roda do chimarrão, a gente consegue manter essa cultura viva ainda. Então, a partir do momento que a criança vê os pais tomando chimarrão, ou participa da roda, ela divide essa cultura na parte da família”, relata.
Filho de Daiane Ehrhardt, especialista na fabricação de máquinas para o setor ervateiro
Arquivo pessoal
Para Daiane, a roda de chimarrão hoje em dia significa também tempo de qualidade em família.
“Aquele momento é para o chimarrão mesmo, para conversar e para trocar as informações do dia”, diz. “Esses momentos nos dias de hoje são bem mais difíceis”, revela a engenheira.
O doutor Krauzer comenta que não vê problema quando o ato de tomar chimarrão seja apenas algo pontual. No entanto, quando a criança está inserida nesse hábito do dia a dia das famílias, pode desenvolver sintomas.
De qualquer modo, o médico acredita que o uso do chimarrão pelas crianças deve ser desencorajado.
“Não deve ser estimulado para consumo de crianças”, diz.
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