MP pede investigação sobre possível caso de racismo durante abordagem da PM a homem negro no Acre


Promotoria Especializada de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania do MP-AC requisitou que a Polícia Civil instaure um inquérito policial para investigar abordagem da PM a um homem negro no bairro Vitória, em Rio Branco. Esposa e as filhas do estudante presenciaram as agressões e, segundo ele, foram ameaçadas com spray de pimenta
Reprodução
A Promotoria Especializada de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania do Ministério Público do Acre (MP-AC) requisitou que a Polícia Civil instaure um inquérito policial para investigar um possível caso de racismo durante a abordagem da Polícia Militar a um homem negro no último dia 15 no bairro Vitória, em Rio Branco.
Um morador que estava na praça filmou a ação policial. As imagens mostram um PM nas costas do estudante com os braços no pescoço dele, como se estivesse dando um mata-leão. O homem estava sentado e sai engatinhando tentando se livrar do PM. Em alguns momentos, o militar chega a subir nas costas do estudante em uma falha tentativa de imobilização.
O vídeo da abordagem viralizou nas redes sociais. Em entrevista ao g1, o homem, que pediu para não ter a identidade divulgada, disse que foi vítima de racismo e foi acusado de estar usando drogas na praça.
O pedido de investigação foi feito pelo promotor dos Direitos Humanos, Tales Tranin, após receber o vídeo da abordagem policial. Ao g1, ele explicou que encaminhou um ofício para a Corregedoria da PM-AC para que a ação dos policiais seja investigada administrativamente.
Também foi enviado ofício à Promotoria do Controle Externo da Atividade Policial para apurar a situação. Além do possível caso de racismo, a investigação também deve ser voltada para apurar a atuação dos policiais, se houve excessos.
“De posse do vídeo, requisitei instauração de inquérito para autoridade policial e identificar quem são os policiais, quem são as vítimas, a esposa, aquela pessoa que estava filmando é uma testemunha. A autoridade vai ouvir e relatar para o promotor, que tem atribuição para investigar e processar policial”, destacou.
As solicitações foram feitas na última segunda-feira (26). A reportagem entrou em contato com as polícias Civil e Militar e aguarda retorno.
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Abordagem
O homem abordado pelos policias confirmou que registrou um boletim de ocorrência contra os servidores. Ele disse que foi procurado pelo MP-AC para relatar o que aconteceu durante a prisão.
Ele afirmou também que seu advogado está em contato com o MP-AC e irá na corregedoria da Polícia Militar para denunciar formalmente os militares.
O homem estava com as crianças e a mulher na praça quando a filha caçula se assustou com um cachorro e começou a chorar muito em uma área mais afastada do local. Ele tentou consolá-la, mas não conseguiu e entregou a menina para a mãe.
Quando começou a ser afastar das duas, ele diz que sentiu um empurrão nas costas e caiu. Nesse momento, segundo ele, começou a ser sufocado e tentou se livrar do aperto.
“Tentei olhar para trás e já peguei um mata-leão, foi quando percebi que eram policiais. Ele falou: ‘você é preto, é suspeito’. Foi me empurrando, me enforcando e os companheiros vieram jogando spray de pimenta no meu rosto. Tentei me esquivar porque desmaiaria, estavam gritando. O policial falava: ‘não me importo com você, é um preto, quero que vá para o inferno’. Falou isso para minha esposa também quando ela chegou perto para tirar o celular do meu bolso para gravar”, contou.
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Arquivo pessoal
Ainda segundo o auxiliar administrativo, os policiais não se identificaram e nem perguntaram nada. Ele afirma também que os militares ameaçaram jogar spray de pimenta nas filhas dele e em outras crianças que estavam na praça. A mulher dele também teria sido xingada.
O rapaz diz que os PMs não acharam nada ilegal com ele. O que encontraram nos bolsos das roupas dele foram dois aparelhos de celulares, um dele e outro da filha de 8 anos, a carteira com R$ 37 e três cartões de crédito. Ele foi levado para a Delegacia de Flagrantes (Defla) e liberado no mesmo dia após um advogado da família aparecer na delegacia.
“Minha esposa chamou nosso advogado, mandou os vídeos para ele, foi na delegacia e mostrou para o delegado. Foi uma covardia racista. Os demais policiais estavam muito calmos, mas esse estava muito alterado, nervoso, só falava me cuspindo, cuspindo minha esposa. Falei que sabia meus direitos. Me abordaram de forma truculenta, não precisa fazer aquilo”, criticou.
PM se posiciona
Por meio de nota, a PM-AC afirmou que o homem resistiu à abordagem policial durante ato de patrulhamento na região. Diz ainda que pessoas que estavam na praça apontaram para um grupo que estaria fazendo uso de entorpecentes no local.
A PM complementa ainda que “a guarnição fez o percurso que o homem havia feito e encontrou ao lado do quiosque uma trouxinha de cocaína”. A nota termina dizendo que vai abrir procedimento para apurar denúncias de irregularidades.
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