Pai viraliza nas redes sociais ao treinar filho autista para entrevistas de emprego: ‘Trabalhando a independência’


Francisco Paiva Jr. está auxiliando o filho, Giovani Paiva, de 17 anos, em simulados de entrevistas de emprego, com o objetivo de prepará-lo para o mercado de trabalho. O jovem tem o nível 1 de suporte no Transtorno do Espectro Autista (TEA) e mora em Bom Jesus dos Perdões, no interior de São Paulo. Pai e filho se divertindo juntos.
Arquivo pessoal/Francisco Paiva
Uma relação de aprendizado, parceria e respeito. Assim que foi construída a trajetória entre Francisco Paiva Jr., de 49 anos, e o filho dele, o jovem autista Giovani Paiva, de 17 anos. Pai e filho viralizaram nas redes sociais nos últimos dias, ao compartilhar um ‘intensivão’ que Francisco tem feito para treinar o filho atípico a como se comportar em entrevistas de emprego.
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Morador de Bom Jesus dos Perdões, cidade no interior de São Paulo, Giovani tem o nível 1 de suporte no transtorno do espectro autista (TEA) e quer começar a trabalhar em breve. Para isso, o pai, que mora na capital do estado, tem feito chamadas de vídeo com o filho, simulando ser um recrutador, para orientar o jovem a como se portar durante uma entrevista de emprego e ajudá-lo a se preparar para conquistar a tão sonhada vaga.
O diálogo entre pai e filho viralizou nas redes sociais. Um dos vídeos bateu quase 1 milhão de visualizações e conquistou os internautas que estão acompanhando a jornada de Giovani em busca da independência, vendo a relação de parceria entre os dois e que também foram cativados pela sinceridade que Giovani tem aprendido a dosar ao responder as perguntas na entrevista – veja vídeo abaixo.
Pai viraliza nas redes sociais ao treinar filho autista para entrevistas de emprego
Em entrevista ao g1, o pai, que é jornalista, contou que tem feito as simulações com Giovani, porque ele está prestes a completar 18 anos e quer começar a trabalhar.
“Ele vai ter que passar por entrevistas de emprego. As entrevistas simuladas são para ele ter uma noção de como pode ser uma entrevista de emprego e já ir se preparando. Resolvi gravar o vídeo para ele não precisar escrever nada naquele momento e depois poder assistir, para anotar o que ele achar mais importante e rever coisas que podem ser melhoradas”, comentou Francisco.
De acordo com Francisco, ele e a família estão há anos trabalhando a autonomia do Giovani, promovendo exercícios constantes. Um exemplo de atividade é a do filho ir ao supermercado comprar algo sozinho. Para o pai, está sendo importante o filho aprender a ser independente e a saber lidar com as pequenas frustrações do dia a dia, como não encontrar algo que precisava no mercado.
“Obviamente ele não começou sozinho. Faz muito tempo que eu tenho trabalhado a independência do Giovani. No início, ele ia comigo no mercado e me via procurando os alimentos, pegando, indo ao caixa e pagando. Com o tempo, eu deixava ele fazer o processo, mas na minha companhia. Conforme ia evoluindo, eu ficava na entrada do supermercado e ele fazia o processo, até que ele começou a ir sozinho e fazer tudo por si só”, explicou.
Como o pai mora na capital e Giovani no interior, eles fazem encontros virtuais semanais para o filho ir aprendendo coisas novas, como mexer no computador, editar um texto, escrever histórias, mas também falar de assuntos do dia a dia.
Em um desses bate-papos, veio a ideia de fazer o simulado de entrevista de emprego. Após a gravação, pai e filho decidiram postar nas redes sociais com o intuito de ajudar outras pessoas e o vídeo viralizou.
Francisco revelou que recebeu muitos comentários de pessoas com o transtorno do espectro autista, de pais e outras pessoas elogiando a iniciativa.
“O vídeo alcançou muitas pessoas e isso foi muito legal. Recebi comentários de pessoas autistas dizendo que gostariam de ter falado o que ele disse na entrevista, pais de pessoas com TEA falando que vão fazer a simulação com seus filhos e até pais de pessoas não autistas falando que é importante esta atividade para os filhos não chegarem despreparados nas entrevistas de emprego que farão”, recordou.
E o treinamento tem dado resultados. Francisco afirma que já vê uma grande evolução no filho entre a primeira e a segunda entrevista simulada.
“A gente fez a segunda entrevista, que ele foi bem melhor, e seguiu praticamente todas as minhas orientações. Agora a gente vai fazer uma outra entrevista em que eu vou fazer perguntas diferentes, sem ele saber quais são as perguntas, que é para ver se ele conseguiu expandir o conceito das dicas que eu dei para ele para perguntas diferentes”, contou.
Pai e filho se divertindo juntos.
Arquivo pessoal/Francisco Paiva
Diagnóstico e adaptação
Giovani foi diagnosticado com nível 2 de suporte no TEA quando tinha 1 ano e 11 meses, pois não conseguia se comunicar.
“O problema não era apenas não falar, ele também não fazia gestos, não me apontava as coisas. Após uma conversa com um primo meu, ele me perguntou se eu já tinha pesquisado sobre autismo e foi ai que eu descobri informações e comecei a me aprofundar”, disse o pai.
Francisco explicou que o diagnóstico mudou totalmente a rotina da família, que começou a ser moldada em torno do filho. Assim, ele iniciou cursos e procurou especialistas para personalizar o tratamento, pois cada caso é único.
“Fiz cursos introdutórios de psicologia, de fonoaudiologia, para saber como eu poderia expandir as terapias em casa para agir corretamente e também poder cobrar o melhor atendimento dos profissionais no tratamento dele. Graças a Deus deu certo e meu filho começou a falar com 4 anos de idade e hoje é nível 1 de suporte.”
Francisco Paiva tem um projeto chamado “Revista Autismo”, que são revistas feitas por ele, com auxílio de jornalistas, colunistas e ilustradores autistas, para promover conhecimento e inclusão. Pessoas interessadas podem apoiar a causa e assinar mensalmente para receber em casa ou baixar de forma gratuita a versão digital.
Giovani, junto de seu pai Francisco e a irmã.
Arquivo pessoal/Francisco Paiva
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