Principal suspeita para morte de criança no DF, desafios na internet mataram ou feriram 56 menores no Brasil desde 2014


Segundo a família, Sarah Raíssa Pereira de Castro, de 8 anos, inalou desodorante e teve uma parada cardiorrespiratória ainda em casa. No domingo (13), ela teve morte cerebral. Polícia investiga se morte de criança no DF tem ligação com desafio do desodorante, nas redes social
A morte de uma menina no Distrito Federal fez a polícia suspeitar que ela tenha sido mais uma vítima de desafios divulgados em redes sociais. Uma irresponsabilidade criminosa que tem provocado tragédias.
Sarah Raíssa Pereira de Castro tinha 8 anos. Foi encontrada desacordada pelo avô no sofá da sala. Estava deitada em cima de uma almofada encharcada de desodorante. Ao lado, um frasco vazio e o celular. Segundo a família, ela inalou desodorante e teve uma parada cardiorrespiratória ainda em casa. O avô chamou o Samu, que a levou ainda com vida para o Hospital Regional de Ceilândia. Ficou internada na UTI. No domingo (13), teve morte cerebral.
O médico Alexandre Nikolay alerta que o desodorante tem várias substâncias químicas, que podem chegar rapidamente ao pulmão e comprometer a respiração:
“Ocorreu progressivamente uma asfixia. Você pode ter ainda um broncoespasmo, como reação direta do processo inflamatório. Então, o brônquio se fecha, semelhante a uma asma, só que tem uma reversão bem mais difícil do que na asma, por ser causado por uma substância química que bateu direto ali na mucosa pulmonar”, explica o pediatra.
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Nesta segunda-feira (14), a escola onde Sarah estudava fechou em sinal de luto. A Polícia Civil abriu um inquérito para investigar a causa da morte da criança. O delegado do caso disse que a principal suspeita é que ela tenha participado de um desafio na internet. O celular dela vai passar por uma perícia.
“Nós verificamos e constatamos ali, em conversas informais com jovens, que muitos deles já tinham conhecimento desse tipo de desafio. Já tinham visto vídeos com essa temática, mas a investigação vai ter avançar para que a gente possa identificar e excluir esse tipo de conteúdo na internet”, diz Walber Lima, delegado da 15ª Delegacia de Polícia.
A família contou à polícia que a menina estava vendo um vídeo sobre esse desafio. Segundo o delegado, os envolvidos poderão responder por homicídio duplamente qualificado. A pena pode chegar a mais de 30 anos de prisão.
“Nós vamos poder localizar essas pessoas que criaram esse vídeo e que também divulgaram. A polícia judiciária hoje já possui mecanismos para identificar criminosos que atuam às sombras das redes sociais”, afirma o delegado Walber Lima.
Principal suspeita para morte de criança no DF, desafios na internet mataram ou feriram 56 menores no Brasil desde 2014
Jornal Nacional/ Reprodução
A juíza Vanessa Cavalieri, da Vara da Infância e Juventude do Rio de Janeiro, afirma que esse tipo de crime na internet tem crescido muito:
“Tem cada vez mais envolvido crianças e adolescentes tanto como vítimas quanto como perpetradores dessa violência. As redes sociais não são adequadas e não foram desenhadas para serem usadas por crianças e de forma alguma elas devem estar na internet”.
O Instituto Dimicuida, que monitora brincadeiras perigosas na internet, registrou 56 casos de crianças ou adolescentes que morreram ou ficaram gravemente feridos no Brasil desde 2014 por causa desses desafios online. O dado é usado como referência pelo Ministério da Justiça para monitorar esse tipo de violência.
A organização não governamental SaferNet, que também estuda casos assim na internet, defende que os pais e responsáveis devem monitorar o que as crianças estão vendo no celular para orientar e proteger.
“É importante que desde os primeiros contatos com a tecnologia, a criança e o adolescente sejam estimulados a dialogar sobre o que vê na internet. Entender que tipo de conteúdo é positivo, negativo, como denunciar estes tipos de conteúdos para que a gente possa atuar na prevenção”, afirma Guilherme Alves, gerente de Projetos da SaferNet.
Na noite desta segunda-feira (14), o advogado-geral da União, Jorge Messias, prestou solidariedade à família e afirmou em uma rede social que “as circunstâncias da morte de Sarah merecem rigorosa apuração e convocam novamente a refletir sobre a necessidade de um marco normativo eficiente para as redes sociais”. Ele escreveu ainda que “a catástrofe reforça a necessidade de ferramentas regulatórias para prevenir e responsabilizar, de forma efetiva, os divulgadores de conteúdos falsos/maliciosos nas redes sociais, bem como as big techs, quando estas se omitem apenas para transformar desinformação em lucro”.
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