A saga de mãe e filha que moraram por quase 7 meses no McDonald’s

As duas chegvam de manhã e permaneciam no restaurante até a madrugadaReprodução

No ano passado, duas mulheres, mãe e filha, depois identificadas como Suzane Paula Muratori e Bruna Muratori, de 31 e 64 anos na época, respectivamente, chamaram a atenção e ganharam fama por estarem vivendo de uma forma, no mínimo, inusitada.

Desde o início de fevereiro, a rotina das duas era aguardar a abertura do McDonald’s do Leblon, na Zona Sul do Rio de Janeiro, às 10 horas, para passar o dia no interior do restaurante, até o horário de fechamento, às 5 da madrugada, quando se abrigavam na calçada da mesma rua.

Isso se deu por quase 7 meses. Elas chegavam com 5 malas grandes e em bom estado, sempre com roupas limpas, se acomodavam em uma das mesas e ali passavam o dia, consumindo.

Foram abordadas algumas vezes por assistentes sociais de órgãos públicos, mas afirmavam, rispidamente, que não estavam interessadas em acolhimento institucional ou abrigo. Elas recusaram a ajuda de todos que se aproximaram – clientes do restaurante e empresários da região que se solidarizaram com a situação.

O que se sabe sobre mãe e filha

Em conversa com clientes e funcionários do McDonald´s e algumas vezes com a imprensa, elas alegavam estar procurando um apartamento para alugar no Leblon, para um orçamento apertado – no valor de R$ 1.2 mil, completamente incompatível com a realidade daquela região nobre carioca.

Mãe e filha passavam algumas horas na calçada, até o McDonalds reabrirReprodução

Também mencionaram que recebiam apoio financeiro do marido de Susane, que morava na Europa e chegaria em breve para alugar um apartamento para a dupla.

Em algumas das poucas abordagens bem sucedidas da imprensa, Bruna contou que elas eram de Porto Alegre e que moravam na capital fluminense havia oito anos. Disse que não tinha feito faculdade, mas que era professora de inglês, particular.

Quando chegou no Rio, continuou dando aula particular, mas que depois um tempo, pós-pandemia, começou a trabalhar em outros lugares, como recepcionista e atendente em hotel, sem dar muitos detalhes.

Já Susane se casou com um homem que hoje mora no Reino Unido. Os dois eram sócios em uma empresa de Porto Alegre.

Moradores do entorno do McDonald´s que abrigava a dupla disseram que a fama de mãe e filha era a de ter dado calote em dois imóveis ali na região. Elas alugavam, não pagavam e eram despejadas.

Assim, ambas teriam uma dívida gigante e, por isso, acabaram procurando abrigo no restaurante.

Dia do “despejo”

Após quase 7 meses no McDonald´s, a estadia acabou após um grupo de adolescentes denunciar a dupla por injúria racial.

As mulheres foram retiradas do restaurante pela polícia, após denúncia de racismoReprodução

As adolescentes teriam fotografado Susane e Bruna no MC Donald’s. Na sequência, mãe e filha começaram a discutir com as jovens e partiram para ofensas racistas.

As jovens chamaram a polícia e todos os envolvidos e testemunhas foram levados para a 14ª DP do Leblon. Após depoimentos, Susana foi presa em flagrante por injúria racial. A filha foi liberada.

No dia seguinte, a mãe foi solta provisoriamente e, por decisão judicial, está proibida de frequentar o estabelecimento por dois anos. Além disso, também ficou proibida de se aproximar ou comunicar com a adolescente que a denunciou e de comparecer mensalmente em juízo “para informar e justificar suas atividades” pelos próximos 2 anos.

Não foi a primeira vez que ambas teriam sido acusadas de injúria racial. Em 2017, elas já haviam sido condenadas e recorriam da condenação, no Rio Grande do Sul, por terem chamado de “empregadinha inútil, negra e suja” a auxiliar de serviços gerais do condomínio onde moravam, de acordo com a denúncia do Ministério Público gaúcho.

Novo despejo

Nesta semana, mais uma vez, mãe e filha voltaram à cena, porque foram despejadas do apartamento em que estavam morando, no bairro de Botafogo.

Antes, as duas estavam em um hostel na Rua São Clemente, no mesmo bairro, de onde foram expulsas por calote.

Após o episódio, um morador de um prédio vizinho ofereceu esse imóvel em Botafogo para elas passarem alguns dias, mas os dias viraram meses e ele teve que pedir a intervenção de uma amiga advogada para que as duas deixasse o apartamento.

Elas ainda tentaram se abrigar na garagem do prédio, conforme testemunhas. Mas, na noite da última terça-feira (15), elas foram vistas com malas entrando em um táxi sentido Copacabana.

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