Papa não ficava só: veja quem eram os médicos que o cercavam

Papa Francisco discursando na Assembleia Geral da ONU em 2015.Matt Campbell/Lusa

Em 2022, um enfermeiro italiano ganhou destaque silencioso nos bastidores do Vaticano. Massimiliano Strappetti, até então coordenador dos serviços de saúde da Santa Sé, foi nomeado “assistente médico pessoal” do Papa Francisco, que morreu na última segunda-feira (21). Ele e outros médicos, que atuam como assistentes, faziam parte do gupo de profissionais responsáveis pelos cuidados com a saúde do líder da Igreja Católica.

A nomeação de Massimiliano não foi apenas um reconhecimento. Era sinal de que a saúde do pontífice exigia atenção contínua.

Aos 86 anos à época, Francisco já apresentava um histórico de internações por bronquite, problemas respiratórios e limitação de mobilidade. O enfermeiro passou a acompanhá-lo de forma permanente.

Sem hospital próprio 

A saúde de um Papa é assunto de Estado. Mas, ao contrário do que se poderia imaginar, a Cidade do Vaticano — centro do catolicismo e lar de cerca de 800 pessoas — não possui hospital próprio.

O atendimento de maior complexidade é feito do lado de fora dos muros, principalmente no Hospital Gemelli, em Roma, que abriga uma ala exclusiva para pontífices. Foi ali que Francisco foi hospitalizado em 2025.

A estrutura interna da Santa Sé é enxuta. Há um pequeno serviço médico que atende moradores e funcionários com consultas, exames básicos e emergências.

O time inclui clínicos gerais, enfermeiros e profissionais de apoio. A equipe também é acionada para acompanhar o Papa em eventos públicos, audiências e viagens internacionais.

Equipe do Papa

No cotidiano, o cuidado com a saúde do pontífice é liderado por seu médico pessoal, apoiado por Strappetti e por médicos de referência em hospitais externos.

Durante o pontificado de Francisco, o geriatra do Gemelli atuava como referência clínica. Em casos de internação, forma-se uma equipe maior, composta por especialistas e cirurgiões de confiança da Santa Sé.

Esse modelo não é novidade. João Paulo II, que enfrentou Parkinson e foi baleado em 1981, também teve a saúde monitorada por equipes do Gemelli, hospital que ganhou o apelido informal de “hospital do Papa”.

A ala reservada aos pontífices, no décimo andar, tem quartos privativos, sala de estar, capela e equipamentos de alta complexidade. Em emergências, ambulâncias com UTI móvel fazem a transferência diretamente até o hospital.

Para os demais moradores do Vaticano — como cardeais, diplomatas, guardas suíços e funcionários civis — o atendimento segue a mesma lógica: primeiros cuidados são feitos internamente, e encaminhamentos hospitalares são feitos para unidades em Roma.

Medicamentos são adquiridos na farmácia vaticana, próxima à Porta Sant’Anna, que funciona com prescrição e também faz entregas para outras regiões da Itália.

Assistência aos mais necessitados

Embora os serviços internos atendam à demanda local, o Vaticano mantém uma política de cuidado voltada também aos mais vulneráveis.

Desde 2016, funciona sob a colunata da Praça São Pedro o Ambulatório “Mãe da Misericórdia”, espaço voltado ao atendimento gratuito de pessoas em situação de rua e imigrantes.

A unidade oferece consultas em especialidades como cardiologia, oftalmologia e ortopedia, com ajuda de médicos voluntários e estrutura da Esmolaria Apostólica.

Saúde dos papas e a opinião pública

Papa FranciscoDivulgação/Vatican Media

O hospital Bambino Gesù, outro braço da rede vaticana, é voltado para o público infantil e não está localizado dentro do território do Vaticano. Fundado no século 19 e administrado pela Santa Sé, o hospital atende famílias de baixa renda e é referência em pediatria na Itália.

Durante a pandemia de COVID-19, médicos do serviço de saúde da Santa Sé ganharam visibilidade ao acompanhar eventos religiosos adaptados, como a Via Crucis de 2020, realizada com restrições. Foi mais uma mostra de como a presença médica ao lado do Papa é discreta, mas constante.

Ao longo da história recente, a saúde dos pontífices se tornou tema cada vez mais público. Se em décadas anteriores as internações eram mantidas sob sigilo, hoje há boletins regulares e presença de médicos em eventos públicos.

A nomeação de um enfermeiro como braço direito na saúde do Papa, como foi o caso de Strappetti, reforça essa mudança de postura.

O número de médicos diretamente envolvidos com o Papa não é fixo, mas varia conforme a condição de saúde do pontífice e a agenda oficial.

O certo é que, apesar do simbolismo, o Vaticano mantém uma estrutura modesta — e, quando necessário, cruza os muros e recorre à medicina italiana para cuidar da saúde de seu líder máximo.

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