Creatina zero? Até 50% dos suplementos têm problemas na composição, diz presidente da Abenutri

Creatina zero? Até 50% dos suplementos têm problemas na composição

Creatina zero? Até 50% dos suplementos têm problemas na composição – Foto: Divulgação/Freepik/ND

Com foco nos desafios na regulação e fiscalização de suplementos alimentares no Brasil, o Senado Federal recebeu nesta quarta-feira (23) uma audiência pública, realizada em conjunto pelas comissões de Ciência e Tecnologia e de Fiscalização e Controle.

O debate foi proposto pelos senadores Marcos Pontes (PL-SP) e Izalci Lucas (PL-DF) e reuniu especialistas em nutrição e suplementação. Um dos pontos levantados foi a necessidade de modernização das regras e da estrutura da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) quanto à fiscalização de alimentos.

Segurança dos suplementos

Para Pontes, o investimento em equipamentos laboratoriais, como o cromatógrafo líquido, essencial para a análise detalhada dos produtos, é indispensável para garantir a qualidade e a segurança dos suplementos.

“Essa é uma pauta importantíssima, afinal de contas a saúde da população está em risco”, afirmou o senador. Ele ainda criticou a ausência de representantes da Anvisa na audiência, considerada fundamental para o debate.

‘0% de creatina’

“50% dos suplementos têm problemas na composição”, alertou o presidente da Abenutri (Associação Brasileira das Empresas de Produtos Nutricionais), Marcelo Bella.

O dado reforçou os apelos de senadores e especialistas por mais rigor na fiscalização e por investimentos em tecnologia para garantir a segurança dos consumidores.

Bella, que também comanda a marca de suplementos Black Skull, defendeu a importância da suplementação baseada em evidências científicas, com destaque para produtos como creatina e whey protein.

Até 50% dos suplementos têm problemas na composição, diz Abenutri

Até 50% dos suplementos têm problemas na composição, diz presidente Abenutri – Foto: Reprodução/ND

No entanto, ele revelou um dado preocupante: “Entre 30% e 50% dos produtos analisados por nós [Abenutri], apresentaram problemas, alguns com 0% de creatina” relatou.

Bella defendeu a corresponsabilização de plataformas de venda online por produtos irregulares e a modernização do marco regulatório, com estímulos à inovação e ao acesso aos suplementos por públicos diversos, como idosos e crianças.

Riscos à saúde e desinformação

Representando o CFN (Conselho Federal de Nutrição), o nutricionista Caio Victor Coutinho de Oliveira alertou sobre os riscos do consumo de suplementos sem orientação profissional. Segundo ele, há possibilidades de efeitos cardiovasculares, neurológicos e interações medicamentosas sérias.

“Suplementos não são inofensivos”, afirmou Oliveira, que ainda destacou a carência de formação adequada sobre suplementação nos cursos da área da saúde. Ele citou, como exemplo, casos de efeitos adversos em jovens saudáveis, especialmente com o uso de pré-treinos.

Influenciadores nas redes sociais

O senador Izalci Lucas chamou atenção para a disseminação de suplementos sem comprovação científica, frequentemente promovidos nas redes sociais por influenciadores e até autoridades.

“É só entrar na internet e aparece propaganda de emagrecimento imediato, promovida até por artistas” disse, defendendo regras mais rígidas para publicidade desses produtos.

ntrada de produtos com formulações proibidas no Brasil

Um dos pontos críticos é a permissão de importação por pessoas físicas – Foto: Dolgachov/Getty Images

A senadora Dra. Eudócia (PL-AL) reforçou a importância de equipar os órgãos de controle com tecnologia moderna para detectar irregularidades.

Ela também apoiou a aquisição do cromatógrafo citado por Pontes: “Precisamos garantir que esses suplementos não contenham aditivos ou proteínas indesejáveis” destacou.

Conflito regulatório e concorrência desleal

Fernando Aith, diretor do Centro de Pesquisa em Direito Sanitário da USP, relembrou a reestruturação promovida em 2018 na regulação de suplementos pela Anvisa. Apesar dos avanços, ele afirmou que ainda há divergências entre o setor produtivo e a agência sobre ingredientes e concentrações permitidas.

Um dos pontos críticos é a permissão de importação por pessoas físicas, o que, segundo ele, favorece a entrada de produtos com formulações proibidas no Brasil.

“Isso gera concorrência desleal com a indústria nacional, desestimula a inovação e prejudica o desenvolvimento do setor”, argumentou.

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