Antes de morrer, Papa revelou milagre que gostaria de realizar

Papa Francisco, em encontro com crianças no VaticanoReprodução

A morte do Papa Francisco, nesta segunda-feira (21), encerrou um dos pontificados mais marcantes de toda a história da Igreja Católica. Um dos motivos para isso era o fato do líder religioso fazer questão de estar próximo dos fiéis, especialmente as crianças. Tanto que foi a uma delas que ele revelou qual milagre gostaria de ser capaz de realizar.

A confissão está registrada no livro “Querido Papa Francisco: o Papa responde cartas de crianças ao redor do mundo”, um projeto especial em que o pontífice respondeu a perguntas enviadas por crianças de vários países.

William, de 7 anos, questionou: “Se o senhor pudesse fazer um milagre, qual seria?” e o pontífice respondeu: “Curaria crianças”.

“Nunca consegui entender porque crianças sofrem. É um mistério para mim. Não tenho uma explicação. Me pergunto sobre isso e rezo pela sua pergunta. Por que crianças sofrem? Meu coração pergunta isso. Jesus chorou, e ao chorar, compreendeu nossas tragédias. Eu também tento entender. Sim, se eu pudesse fazer um milagre, curaria todas as crianças”, explicou o líder religioso.

As cartas das crianças, escritas à mão, vinham acompanhadas de desenhos. No caso de William, há uma ilustração com uma cruz, um sol e um arco-íris, elementos que Papa fez questão de mencionar em sua resposta.

“Seu desenho me fez pensar: há uma grande cruz escura, um arco-íris e o sol por trás dela. Eu gosto disso. Minha resposta à dor das crianças é o silêncio, ou talvez uma palavra que surja das minhas lágrimas. Não tenho medo de chorar. Você também não deveria ter”, concluiu Francisco.

Veja a página do livro:

Tema sensível para o Papa

O sofrimento dos mais vulneráveis, sobretudo das crianças, foi uma pauta constante no pontificado de Francisco. Em diversas homilias e orações públicas, ele lembrou das crianças em contextos de guerra, pobreza e abandono, ressaltando que o sofrimento delas “é um grito que se eleva a Deus”.

Em 2015, durante um encontro com crianças com doenças e deficiências graves na Casa Santa Marta, Francisco lembrou com carinho das crianças que “agora estão no céu”. Visivelmente tocado, afirmou que o sofrimento infantil é um mistério sem explicação racional, e que considerava legítimo perguntar a Deus: “por quê?”.

Em 2021, durante uma internação no hospital Gemelli, em Roma, o Papa apareceu na sacada do quarto ao lado de crianças internadas. Na época, fez o mesmo questionamento do livro: “por que as crianças sofrem? Não consigo entender”, disse.

Pontificado voltado à proteção das crianças

Não era apenas o sofrimento das crianças relacionado às doenças e a contextos de guerra que preocupavam Francisco. O início do seu papado, em 2013, foi marcado por um contexto delicado de denúncias de pedofilia dentro da Igreja, sobre o qual ele adotou uma postura inédita de transparência e responsabilização.

Por exemplo, Francisco foi o primeiro pontífice a pedir desculpas públicas às vítimas, expulsou religiosos abusadores de cargos de liderança e promoveu mudanças estruturais, como a cúpula no Vaticano dedicada à proteção de crianças e adolescentes. Na ocasião, ele suspendeu a obrigatoriedade segredo pontifício para casos de abuso e determinou que os clérigos denunciem qualquer suspeita a seus superiores.

“Fique claro que a Igreja, perante esses abomínios, não poupará esforços, fazendo tudo o que for necessário para entregar à Justiça toda pessoa que tenha cometido tais delitos”, afirmou o pontífice. Também fez um alerta aos clérigos abusadores: “Convertei-vos, entregai-vos à justiça humana e preparai-vos para a justiça divina”, disse o Papa Francisco em discurso aos integrantes da Cúria Romana.

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