Quem é Fernando Collor de Mello: da ascensão à queda do primeiro presidente eleito pós-ditadura

Fernando Collor de Mello

Fernando Collor de Mello foi o primeiro presidente pós-ditadura – Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Fernando Collor de Mello entrou para a história do Brasil como o primeiro presidente eleito por voto direto após o fim da Ditadura Militar (1964–1985). Jovem e carismático, ele simbolizava, para muitos brasileiros, a esperança de um novo começo.

Sua trajetória política, no entanto, foi marcada por uma ascensão meteórica e uma queda igualmente rápida, culminando em um processo de impeachment que abalou a jovem democracia brasileira.

Mais de três décadas depois, Collor voltou ao noticiário: foi preso nesta sexta-feira (25), em Maceió (AL), após ser condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato.

Início da carreira e “Caçador de Marajás”

Fernando Affonso Collor de Mello nasceu em 12 de agosto de 1949, no Rio de Janeiro. Ele vem de uma tradicional família política de Alagoas.

O pai, Arnon de Mello, foi senador da República, e a origem contrastava com a imagem popular que Collor tentou construir nos anos 1980. A carreira política de Fernando Collor começou no estado de Alagoas, onde foi prefeito de Maceió e depois governador.

Conforme biografia do site do Senado Federal, foi nesse último cargo que ganhou notoriedade nacional ao se autoproclamar “Caçador de Marajás”, numa referência aos altos salários e privilégios de funcionários públicos considerados improdutivos, os chamados “marajás”.

O discurso anticorrupção e moralizador lhe rendeu apoio popular e abriu caminho para voos mais altos.

Campanha presidencial de 1989 e vitória sobre Lula

A eleição de 1989 foi histórica: a primeira votação direta para presidente desde 1960. Collor, com apenas 40 anos, apareceu como um outsider moderno, alinhado ao liberalismo econômico, em contraste com a proposta mais popular e trabalhista de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.

Na época, o Brasil estava com a economia abalada, com a inflação chegando aos 40% de juros ao mês. O próximo presidente da República tinha como responsabilidade recuperar o Brasil da crise, tanto econômica, quanto ideológica.

A quantidade recorde de candidatos mostrava a vontade da classe política de voltar ao poder com a redemocratização. No total, 22 se candidataram na disputa pela presidência, número que continua até hoje como o maior.

Fernando Collor de Mello (1990 – 1992) - Foto: Arquivo Nacional/Reprodução/ND

Fernando Collor de Mello (1990 – 1992) – Foto: Arquivo Nacional/Reprodução/ND

A campanha eleitoral de Fernando Collor de Mello foi marcada pela presença midiática, com o uso estratégico da televisão e uma série de ataques pessoais, especialmente no segundo turno.

Lula se atrelava aos ideais sindicalistas que pararam o bairro do ABC Paulista na década de 1970, trazendo para si uma imagem de “líder socialista”, apesar do mesmo afirmar que essa não era a sua intenção.

Collor, por outro lado, era um candidato que se baseava muito mais na imagem para atrair os votos. O Caçador de Marajás usava de frases de efeito e boa estampa nas televisões para conquistar o eleitorado.

Na reta final das eleições, os debates passaram a ter um peso massivo para os ambos. Os brasileiros consideraram Collor superior nos últimos embates políticos, e esse fator foi decisivo para ser empossado como presidente do Brasil.

Fernando Collor de Mello saiu vitorioso sobre Lula, conquistando 53% dos votos válidos, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Os votos foram impulsionados por promessas firmes de combater a inflação e a enfrentar a corrupção.

Governo Collor: Plano Collor, confisco da poupança e medidas neoliberais

Logo após assumir a presidência, em 1990, Fernando Collor de Mello implementou o chamado Plano Collor. A medida mais controversa foi o confisco das cadernetas de poupança e contas correntes com saldos acima de 50 mil cruzeiros, como tentativa de conter a hiperinflação.

A medida retinha os valores por 18 meses e previa a liberação então em doze parcelas, com correção monetária e juros de 6% ao ano. Na prática, a ideia do confisco do dinheiro era diminuir a liquidez da economia, tirar grande parte do dinheiro de circulação e, assim, fazer cair a demanda e os preços voltarem a ser controlados.

Fernando Collor de Mello venceu as eleições de 1993 - Foto: Reprodução/ND

Fernando Collor de Mello venceu as eleições de 1993 – Foto: Reprodução/ND

O dinheiro confiscado, em outras palavras, não estava nos bancos. O dinheiro das pessoas estava aplicado, emprestado para o governo e também para outros agentes. E essas pessoas não podiam sacar em função da regra do novo governo.

Fernando Collor de Mello também promoveu outras mudanças significativas, como a abertura econômica, a redução de tarifas de importação e a intensificação do programa de privatizações.

Embora essas ações tivessem como objetivo modernizar o país, elas encontraram forte resistência popular e enfrentaram sérios entraves políticos.

Em 1989, a inflação anual havia atingido quase 1.800%. Nos supermercados, os preços eram remarcados diariamente. Apesar da intenção de controlar esse cenário, o plano fracassou, já que a inflação brasileira não era impulsionada apenas pela demanda, mecanismos de indexação continuaram sendo utilizados, protegendo agentes econômicos e alimentando a alta de preços.

O impacto foi severo. O Ibovespa, principal indicador da bolsa de valores brasileira, despencou 22,27% em 21 de março. O Plano Collor gerou uma profunda crise de confiança nos mercados, comprometendo a credibilidade dos investimentos financeiros.

A expectativa de uma recessão moderada e passageira deu lugar a uma queda acentuada do PIB (Produto Interno Bruto), que recuou 4,35%. A inflação até chegou a cair para 7,5% em maio daquele ano, mas rapidamente voltou a subir, retomando os níveis de dois dígitos mensais.

Escândalos: Casa da Dinda, PC Farias, Fiat Elba

A imagem de moralizador de Fernando Collor começou a cair em 1992, quando o próprio irmão, Pedro Collor, revelou um esquema de corrupção envolvendo Paulo César Farias. Conhecido como PC Farias, ele era tesoureiro da campanha e amigo próximo do presidente.

De acordo com as denúncias, PC Farias gerenciava um caixa paralelo destinado a enriquecer aliados políticos e financiar o estilo de vida luxuoso da família presidencial.

A residência de Fernando Collor de Mello, em Brasília, conhecida como “Casa da Dinda”, se tornou um dos principais símbolos das investigações, assim como a polêmica compra de um Fiat Elba com recursos de origem duvidosa.

Fernando Collor de Mello foi condenado pelo STF em um dos processos da Lava Jato - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Fernando Collor de Mello foi condenado pelo STF em um dos processos da Lava Jato – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Isso foi um detalhe aparentemente pequeno, mas que acabou sendo o estopim para o processo de impeachment de Fernando Collor de Mello.

O veículo teria sido adquirido com dinheiro proveniente de um esquema de “contribuições voluntárias” exigidas de empresários com contratos públicos, parte do que ficou conhecido como “esquema PC Farias”.

Essas acusações foram utilizadas como prova de corrupção passiva pela CPI que investigava as irregularidades no governo. Apesar de o STF ter absolvido Collor em 1994 por falta de provas materiais, o dano político já estava feito e a imagem saiu abalada do episódio.

Impeachment e renúncia em 1992

A pressão popular contra Collor cresceu de forma acelerada. O movimento dos “caras-pintadas”, liderado por estudantes que tomaram as ruas em protestos, se tornou símbolo da insatisfação nacional.

O descobrimento do Fiat Elba e a pressão popular levaram o Ministério Público a apresentar denúncia contra Fernando Collor de Mello, enquanto o Congresso decidiu abrir o processo de impeachment.

Em outubro de 1992, Fernando Collor de Mello foi afastado do cargo. Em uma tentativa de evitar o desfecho do processo e preservar os direitos políticos, ele renunciou em dezembro. Mas a estratégia não surtiu efeito. No dia seguinte à renúncia, o Senado deu continuidade ao julgamento e aprovou o impeachment, condenando-o à perda do mandato e à inelegibilidade por oito anos.

O marco decisivo foi em 29 de setembro de 1992, quando a Câmara dos Deputados aprovou o pedido de impeachment. Mesmo com a renúncia, o Senado optou por seguir com o processo e, ao final, declarou Collor inelegível por quase uma década.

Vida após o impeachment e retorno ao Senado

Após anos afastado da vida pública, Fernando Collor de Mello reapareceu na cena política no início dos anos 2000. Retornou a Alagoas, estado de origem e, em 2002, tentou se eleger governador, mas foi derrotado por Ronaldo Lessa.

Em 2006, conseguiu se eleger senador por Alagoas, cargo que ocupou até 2023. Durante esse período, buscou reconstruir a imagem política e chegou a apoiar governos do Partido dos Trabalhadores, inclusive o de Lula, seu antigo rival.

Em 2009, Fernando Collor de Mello chegou a ensaiar uma pré-candidatura à presidência da República, mas a iniciativa não avançou.

Mais tarde, em 2018, Collor apoiou Jair Bolsonaro (PL) na disputa pelo Palácio do Planalto. Em 2022, voltou a concorrer ao governo de Alagoas, alinhando-se à campanha de reeleição de Bolsonaro. No entanto, ambos saíram derrotados nas urnas.

Curiosidades e controvérsias recentes de Fernando Collor de Mello

Entre as curiosidades mais buscadas sobre Fernando Collor de Mello estão seu suposto envolvimento com a maçonaria, o interesse por esoterismo nos anos 1990 e o estilo de vida marcado pelo luxo.

Um dos episódios mais impactantes envolvendo a família, no entanto, não diz respeito diretamente a ele, mas ao pai, o ex-senador Arnon de Mello. Em dezembro de 1963, durante um discurso no plenário do Senado, Arnon sacou uma arma e disparou três vezes. Acabou atingindo o senador José Kairala, do Acre, que morreu. No entanto, o pai de Fernando Collor nunca foi cassado nem condenado, já que a Justiça considerou o ato um “crime acidental”.

Em 2014, como parte das investigações da Operação Lava Jato, a Polícia Federal apreendeu carros de luxo na casa de Collor: uma Ferrari vermelha avaliada em R$ 1,95 milhão, um Porsche preto de R$ 999 mil (em valores de 2015) e uma Lamborghini prata estimada em R$ 3,9 milhões.

Em 25 de abril de 2025, Fernando Collor de Mello voltou às manchetes ao ser preso após uma condenação do STF. Ele foi sentenciado a oito anos e 11 meses de prisão por envolvimento em um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro ligado à BR Distribuidora, atualmente conhecida como Vibra Energia.

 

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