Túmulos no Egito mostram imagem mais antiga da Via Láctea

Imagem cosmológica de Nut na parte externa do caixão de Nesitaudjatakhet, na coleção de Odessa Museu Arqueológico. Mykola Tarasenko/Odessa Archaeological Museum

Imagem da Via Láctea é identificada em caixão de mais de 3 mil anos no Egito, segundo estudo que examinou 555 elementos em túmulos datados dos séculos XXI e XXII (1075–715 a.C.).

Na parte exterior do caixão de Nesitaudjatakhet, cantora do deus Amon-Rá, a imagem da deusa do céu na mitologia egípcia, nomeada Nut, surge arqueada e coberta de estrelas, com uma fenda negra espessa próxima que lembra a Grande Fenda da Via Láctea.

O túmulo foi descoberto num esconderijo de múmias egípcias chamado de Bab el-Gasus, em Deir Elbari, no Egito.

A imagem é interpretada como a mais antiga representação visual da Via Láctea, segundo o estudo.

Observações semelhantes aparecem no teto astronômico do túmulo de Seti I e nas tumbas de Ramsés IV, VI e IX, o que reforça a leitura dessa marca como a galáxia cortando o céu sagrado.

O trabalho do astrofísico Or Graur, da University of Portsmouth, foi publicado no Journal of Astronomical History and Heritage.

A deusa do céu

Nut, deusa do céu na mitologia egípcia, era retratada cobrindo a abóbada celeste, protegendo a Terra e engolindo o Sol ao anoitecer para dá-lo à luz ao amanhecer.

“Elas ficaram encantadas com a figura da deusa arqueada e pediram para ouvir histórias sobre ela”, relatou Graur sobre a curiosidade de suas filhas no museu, atitude que motivou a pesquisa.

Além da pintura, Graur retoma a hipótese de que o termo egípcio “Corredeira Ondulante” designava a nossa Galáxia, pois os textos funerários encontrados o mencionam como o local por onde o rei falecido navegaria junto ao Sol antes de seu “renascimento matinal”.

O traço retratando o céu reforça, porém, que Nut e a Via Láctea são fenômenos distintos mas associados no imaginário astronômico egípcio

O que é a Grande Fenda?

A Via Láctea sobre as dunas de areia do deserto ocidental egípcioOsama Fathi

A Grande Fenda é um conjunto de imensas nuvens de poeira e gás interestelar que formam uma faixa escura visível ao longo de cerca de um terço do comprimento aparente da Via Láctea.

Essas nuvens estão situadas entre o Sistema Solar e o braço de Sagitário, a poucos milhares de anos-luz de distância, e absorvem a maior parte da luz visível emitida pelas estrelas mais distantes, criando a impressão de um “rasgo” no céu noturno.

Apesar de ocultarem boa parte da radiação visível, essas regiões podem ser estudadas em comprimentos de onda mais longos, como o infravermelho e as ondas de rádio, que atravessam o material escuro e permitem aos astrônomos mapear estrelas e estruturas galácticas no interior da Via Láctea.

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