Governo Trump quer enfraquecer ajuda global a países que sofrem com mudanças climáticas, mostra documento


Documento obtido pela agência de notícias Reuters também mostra que governo quer que menções a “clima”, “igualdade de gênero” e “sustentabilidade” sejam retiradas de acordo global. Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Mike Stewart/ AP Photo
Os Estados Unidos estão tentando enfraquecer um acordo global destinado a ajudar países em desenvolvimento que enfrentam os impactos das mudanças climáticas e outras questões, mostrou um documento interno da Organização das Nações Unidas (ONU) visto pela Reuters.
A administração Trump se opõe a reformas preliminares do sistema financeiro mundial destinadas a ajudar os países em desenvolvimento, incluindo aquelas relacionadas à tributação, classificações de crédito e subsídios a combustíveis fósseis. O governo também quer que menções a “clima”, “igualdade de gênero” e “sustentabilidade” sejam retiradas.
O documento, ainda não havia sido divulgado, lança luz sobre como a administração Trump está tentando aplicar uma agenda “América Primeiro” nas instituições que estão no centro das soluções para crises sistêmicas globais, incluindo oposição a esforços para desacelerar as mudanças climáticas e promover a diversidade.
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A 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento (FFD4), que ocorre uma vez por década, em Sevilha, Espanha, em junho, tem como objetivo influenciar a direção estratégica das instituições financeiras de desenvolvimento do mundo.
Os países concordaram na FFD3, por exemplo, em ampliar os esforços de cooperação tributária para que os países em desenvolvimento possam ajudar a definir as regras e, até maio passado, mais de 140 países estavam envolvidos.
“Esta conferência é sobre reunir os líderes mundiais e definir as regras e prioridades fundamentais para financiar os objetivos de desenvolvimento na próxima década”, disse Tom Mitchell, diretor executivo do Instituto Internacional para Meio Ambiente e Desenvolvimento, à Reuters.
Compilado pelos representantes permanentes na ONU do México, Nepal, Noruega e Zâmbia, com a ajuda da secretaria da ONU, o rascunho de negociação de 11 de abril está anotado com as posições das 193 nações envolvidas nas discussões.
Com mudanças em andamento no Banco Mundial e no Fundo Monetário Internacional (FMI) na luta contra as mudanças climáticas já enfrentando resistência do Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, o documento mostrou que os EUA estão buscando enfraquecer ainda mais os esforços de reforma.
Entre os pontos específicos no texto que se referem à reforma sistêmica, o documento mostra que os EUA querem remover uma referência a um “pacote de reformas” para o desenvolvimento sustentável.
Especificamente, o governo quer substituir uma linha que prometia “comprometer-se a reformar a arquitetura financeira internacional” por um compromisso de “reconhecer a necessidade de melhorar sua resiliência e eficácia em responder a desafios e crises presentes e futuras”.
Tais mudanças na linguagem indicam o grau de compromisso compartilhado que pode então ser usado como apoio para ação ou inação em futuras negociações.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, reconheceu a necessidade de superar múltiplos desafios antes da conferência, mas pediu “que todos os países estejam à mesa em Sevilha focados em soluções”, disse a porta-voz Florencia Soto Niño em um e-mail à Reuters.
A Casa Branca e o Departamento do Tesouro não responderam aos pedidos de comentário. O Departamento de Estado recusou-se a comentar.
Embora a posição dos EUA sobre o desenvolvimento tenha se tornado mais rígida sob Trump, o documento de negociação mostra que continua apoiando esforços que incluem países em desenvolvimento trabalhando mais de perto com o setor privado, promovendo inovação e alfabetização financeira.
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Mudanças climáticas
Um objetivo-chave das reformas globais é ajudar melhor os países mais pobres a lidar com desastres climáticos, que estão piorando devido às mudanças climáticas, e impulsionar o desenvolvimento econômico usando energia de baixo carbono em vez de combustíveis fósseis tradicionais.
O presidente Donald Trump saiu do acordo climático de Paris da ONU, cortou a ajuda externa dos EUA ao desenvolvimento em mais de 80% como parte de uma reestruturação governamental liderada pelo bilionário Elon Musk e iniciou uma guerra comercial que está prejudicando muitos países mais pobres.
Entre as áreas do documento da FFD4 às quais os EUA se opõem está uma proposta para que os países explorem “contribuições globais de solidariedade”, que poderiam incluir impostos sobre atividades altamente poluentes ou sobre os super-ricos para financiar o desenvolvimento sustentável.
Se incluídas, essas contribuições poderiam ser levadas para negociações fiscais da ONU ainda este ano e reforçariam uma força-tarefa liderada por França, Quênia e Barbados que visa desenvolver esses impostos entre pequenos grupos de países.
Outros países que se opõem incluem Rússia, Arábia Saudita e China.
Os EUA também estão buscando excluir:
um parágrafo que pede que empresas paguem impostos aos países onde ocorre a atividade econômica;
um parágrafo sobre ajudar países em desenvolvimento a reforçar a transparência fiscal;
e outro sobre eliminar gradualmente os subsídios ineficientes a combustíveis fósseis, mostra o documento.
Muitos dos países mais pobres do mundo lutam com dívidas altas e os custos de reconstrução após tempestades desastrosas, mas o documento da FFD4 mostra que os EUA querem retirar um parágrafo sobre reformar o sistema de classificação de crédito.
Isso inclui uma proposta para que as agências classificadoras adotem uma abordagem mais tolerante com países mais pobres que voluntariamente reestruturam sua dívida para investir em projetos verdes, segundo o documento.
Os EUA também se opõem a um compromisso para garantir que os países recebam “financiamento adequado e ininterrupto, em termos apropriados, para proteção social e outros gastos sociais essenciais durante choques e crises”, mostra o documento.
Embora os EUA tenham influência considerável como maior acionista tanto do Banco Mundial, que fornece empréstimos e doações a países em desenvolvimento, quanto do FMI, e estejam atualmente revendo seu papel em ambos, o acordo preliminar provavelmente ainda mudará conforme os países continuem as negociações em maio, antes de se chegar a um consenso sobre o documento final em meados de junho.
A posição dos EUA pressiona outros países a aceitarem um acordo mais fraco, já que as negociações visam adotar um acordo por consenso.
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