Por que mulheres ainda não podem escolher um papa ou ter cargos de liderança na Igreja Católica


Mulheres constituem mais da metade do 1,3 bilhão de fiéis da igreja no mundo, mas ainda não podem votar para escolher o papa, ser cardeais nem rezar missa. Papa Francisco promoveu freiras a postos de segundo escalão. Em audiência em 2021, Papa cumprimenta a então governadora da Cidade do Vaticano, Rafaella Petrini
AP
As atenções do mundo estarão voltadas a partir desta quarta-feira (6) para 133 homens que elegerão o novo líder, também um homem, de uma religião na qual mais da metade dos fiéis são mulheres.
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Mesmo com avanços históricos de gênero promovidos pelo papa Francisco, ainda não há nenhuma participação feminina no comando e em postos de decisão da Igreja Católica onde, segundo o próprio Vaticano, mais da metade dos mais de 1,3 bilhão de fiéis são justamente mulheres.
Com exceção dos cargos da hierarquia eclesiástica, as mulheres também são maioria entre pessoas que trabalham na Igreja Católica no mundo: de acordo com dados do anuário da Santa Sé, em 2022 havia quase 600 mil funcionárias mulheres, contra menos de 50 mil homens.
Apesar disso, as católicas não têm poder de voto para escolher o novo papa. Isto porque a Igreja Católica proíbe até hoje mulheres em cargos da hierarquia, composta por diáconos, padres, bispos, arcebispos, cardeais e o papa.
Desde o início de seu papado, o papa Francisco indicou que uma maior participação das mulheres em cargos de comando na Igreja Católica seria uma de suas bandeiras. O pontífice nomeou sete mulheres para cargos de média ou alta importância dentro do Vaticano (veja mais abaixo) e criou duas comissões para analisar se mulheres poderiam ser ordenadas a postos de diaconisas, um cargo similar ao do padre —mas sem o poder de celebrar missas.
Mas Francisco também expressou apoio à proibição de mulheres no sacerdócio, imposta pelo papa João Paulo II em 1994.
“O legado do papa Francisco sobre o lugar das mulheres na Igreja… é complexo”, afirmou a professora da Universidade de Durham, no Reino Unido Anna Rowlands à agência de notícias Reuters.
“Ele fez mais do que qualquer outro pontífice para garantir que as mulheres fossem incluídas em maior número e em posições de maior autoridade. No entanto, a maior parte dessa mudança ocorreu precisamente dentro dos parâmetros existentes, flexibilizando o sistema um pouco”, disse Rowlands, também colaboradora eventual do Vaticano.
Em imagem de arquivo, a ativista Janice Sevre-Duszynska segura o cartaz com os dizeres ‘Mulheres sacerdotes estão aqui!’, em protesto no Vaticano.
Tiziana fabi/AFP
Seja por não querer choques com cardeais conservadores —com os quais Francisco travou embates ideológicos ao longo de seus 12 anos de papado— ou por não conseguir de fato ultrapassar as resistências das alas mais tradicionais, a avaliação é que os avanços foram insuficientes e pouco representativos.
“Francisco foi o primeiro papa a ter plena consciência de que a Igreja sofre de um desequilíbrio flagrante e profundamente injusto. Mas sua maneira de responder a essa injustiça foi fazer nomeações individuais e estabelecer comissões que se estendiam indefinidamente e não levavam a nada”, disse a católica italiana Paola Lazzarini, integrante do movimento de mulheres católicas que defendem reformas, algumas promovidas por elas próprias.
Pelo mundo, há pelo menos 200 católicas que foram “ordenadas” padres por outras mulheres e rezam missas, desafiando a Igreja Católica e arriscando processos de excomunhão.
Entre os favoritos a suceder Francisco, há três cardeais favoráveis à ordenação de mulheres: Joseph William Tobin, dos Estados Unidos, Juan José Omella Omella, da Espanha, e Mario Grech, de Malta.
Cardeais em missa de funeral do papa Francisco.
REUTERS/Nathan Howard
Mulheres nomeadas
Mulheres indicadas por Francisco têm funções importantes no Vaticano.
Helena Cunha/GloboNews
Ao longo de seus 12 anos, Francisco nomeou sete mulheres para cargos de média ou alta importância dentro do Vaticano, incluindo uma brasileira (veja quadro acima). Todos os cargos, no entanto, foram de gestão, e, em apenas um caso, com algum poder de voto:
A irmã Raffaella Petrini foi nomeada presidente do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano. Ela é a mulher com o cargo mais alto no Vaticano e se tornou a primeira a ocupar a função, que possui poderes de gestão da Santa Sé abaixo apenas do próprio papa.
A religiosa francesa Nathalie Becquart foi nomeada em fevereiro de 2021 ao posto de Subsecretária do Sínodo dos Bispos, o que a fez a primeira mulher com direito a voto em uma assembleia sinodal.
Também a mando de Francisco, Francesca Di Giovanni assumiu a função de subsecretária do Setor Multilateral da Seção para as Relações com os Estados e se tornou a primeira mulher a ocupar um cargo de responsabilidade na diplomacia do Vaticano.
A irmã Alessandra Smerilli foi nomeada secretária do Dicastério do Vaticano para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, um papel fundamental nas questões sociais e econômicas globais dentro do Vaticano.
Barbara Jatta se tornou diretora dos Museus do Vaticano também sob Francisco.
A brasileira Cristiane Murray foi nomeada pelo papa Francisco vice-diretora da Sala de Imprensa do Vaticano.
E a freira Simona Brambilla foi nomeada este ano prefeita do Dicastério para a Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, uma organização da Santa Sé.
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