Novo mapa-múndi invertido gera revolta em servidores do IBGE: ‘Em vez de informar, distorce’

Novo mapa-múndi invertido coloca o Brasil no centro e o sul no topo do mundo - Foto: Divulgação/IBGE/ND

Novo mapa-múndi invertido coloca o Brasil no centro e o sul no topo do mundo – Foto: Divulgação/IBGE/ND

Há meses, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) passa por uma crise interna entre os técnicos do órgão e o presidente da atual gestão, Marcio Pochmann. Em mais um capítulo dessa crise, os técnicos manifestaram repúdio à iniciativa de Pochmann de lançar um mapa-múndi invertido oficialmente através do IBGE.

A nova cartografia traz o Brasil no centro do mundo, mas com a perspectiva invertida: o sul figura no topo da imagem. Segundo parte dos trabalhadores, atos da atual direção configuram desvio institucional.

Mapa-múndi invertido não atende critérios técnicos, dizem servidores

Segundo a executiva nacional do sindicato de trabalhadores do instituto, o Assibge-SN, o mapa-múndi invertido não foi construída pelas áreas técnicas e parece atender à agenda pessoal de Pochmann.

“O mapa em si não apresenta nenhuma incorreção técnica, e poderia compor, em conjunto com outras representações, atlas e materiais didáticos, trazendo um debate bem-vindo sobre as representações cartográficas e sua expressão política. O que avaliamos como bastante problemático é o lançamento de um produto que não foi construído pelas áreas técnicas, não teve um lançamento adequado, e parece atender a agenda pessoal do presidente Marcio Pochmann”, manifestou a executiva nacional do sindicato.

Já o núcleo sindical dos servidores lotados no edifício alugado pelo IBGE na Avenida Chile, no centro do Rio de Janeiro, divulgou um manifesto em repúdio ao mapa-múndi invertido, que considera “um gesto sem respaldo técnico reconhecido pelas convenções cartográficas internacionais”.

A unidade Chile, que teve trabalhadores deslocados para um edifício no Horto, na zona sul da capital fluminense, é a maior do IBGE, concentrando cerca de 700 trabalhadores das principais diretorias do órgão: Diretoria de Pesquisas, Diretorias de Geociências e Diretoria de Informática. As diretorias abrigam os servidores responsáveis pela análise e divulgação dos principais indicadores macroeconômicos do País.

“Trata-se de uma iniciativa que, em vez de informar, distorce; em vez de representar a realidade com rigor, cria uma encenação simbólica que compromete a credibilidade construída pelo IBGE ao longo de décadas de trabalho sério, imparcial e respeitado globalmente”, declara o manifesto. “Também se fere o princípio da eficiência, pois a adoção de padrões gráficos não reconhecidos confunde a educação, prejudica comparações internacionais e deslegitima produtos oficiais”, acrescenta.

Servidores do IBGE acusam o presidente Marcio Pochmann de descredibilizar o trabalho do órgão com a publicação do mapa-múndi invertido - Foto: Elza Fiuza/Agência Brasil/ND

Servidores do IBGE acusam o presidente Marcio Pochmann de descredibilizar o trabalho do órgão com a publicação do mapa-múndi invertido – Foto: Elza Fiuza/Agência Brasil/ND

Presidente do IBGE é duramente criticado por servidores

O sindicato dos técnicos do IBGE critica a atual gestão do órgão e a acusa de não proteger a função pública do Instituto. “Não há desculpa técnica, jurídica ou pedagógica para esse tipo de prática. Nenhum país se torna mais respeitado por estar no centro de um papel. A grandeza internacional se conquista com políticas públicas consistentes, instituições confiáveis e dados transparentes – não com encenações visuais”, afirmou o núcleo sindical.

Segundo os servidores, os atos recentes teriam violado três princípios constitucionais da administração pública: finalidade administrativa, uma vez que o IBGE tem como função produzir informação técnica e objetiva, e não material simbólico ou político; impessoalidade, por servir à sociedade e não a narrativas de governantes ou gestões; e moralidade administrativa, porque os recursos públicos devem ser usados com integridade e respeito à função estatal.

“A gestão atual do IBGE vem falhando, repetidamente, em proteger o valor técnico e a integridade institucional do órgão. O IBGE não pertence a pessoas. Pertence ao Estado, à sociedade e ao futuro. O Brasil não precisa estar no centro do papel. Precisa estar no centro da honestidade técnica, da responsabilidade pública e do compromisso com a verdade. Por isso dizemos, com serenidade firme: não ao mapa da vaidade. Sim à ciência, à integridade e à maturidade institucional”, defendeu o núcleo sindical.

Mapa-múndi invertido do IBGE destaca o Brasil no centro e o sul no topo do mundo

Em nota divulgada à imprensa na última quinta-feira (8) o IBGE informou que “o lançamento inédito” do mapa-múndi invertido tinha versões em português e em inglês.

“Estamos lançando o novo mapa-múndi que tem o Brasil nesse centro do mundo, mas agora de uma forma invertida, estimulando a reflexão sobre como nos vemos neste novo mundo em que as transformações ocorrem mais rapidamente e exigem um protagonismo brasileiro ainda maior”, defendeu Pochmann, em vídeo postado no site do instituto.

Novo mapa-múndi invertido destaca não apenas o Brasil, mas também os outros países do Brics - Foto:Marcelo Camargo/Agência Brasil/ND

Novo mapa-múndi invertido destaca não apenas o Brasil, mas também os outros países do Brics – Foto:Marcelo Camargo/Agência Brasil/ND

O novo mapa-múndi invertido destaca os países que são membros do BRICS, do Mercosul, países de língua portuguesa e países que possuem o bioma amazônico, além das cidades do Rio de Janeiro, Belém e Ceará.

“Esse lançamento integra uma série de ações estratégicas para a reflexão e o debate sobre a importância do Sul Global, em meio à crescente importância do Brasil no cenário internacional e às mudanças geopolíticas mundiais”, declarou o IBGE na nota oficial.

“O lançamento é feito em ano que o Brasil tem ativa participação nos debates e perspectivas do Sul Global e do cenário mundial, em especial por presidir o BRICS e o Mercosul. E recebe a COP 30”, justificou o instituto, no comunicado.

*Com informações do Estadão Conteúdo

Bookmark the permalink.