‘Bomba de sódio’, anabolizantes e medicamentos: morte de fisiculturista abre alerta sobre riscos na saúde


Médico do esporte, Vitor Moreira, alerta que práticas extremas e uso de substâncias proibidas expõem os perigos por trás da busca pelo corpo perfeito no fisiculturismo. Organização do evento fala sobre preparação dos atletas antes de subirem no palco
A morte do fisiculturista Wanderson da Silva Moreira, de 30 anos, no sábado (10), em Campo Grande (MS), acendeu um alerta sobre os riscos envolvidos e os cuidados necessários à saúde dos atletas da modalidade.
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O fisiculturismo tem como objetivo a evolução e definição muscular de forma simétrica e proporcional. No entanto, em busca de um corpo ideal esteticamente, muitos atletas extrapolam os limites físicos e recorrem a substâncias proibidas, como anabolizantes, além de adotarem práticas potencialmente prejudiciais à saúde.
“Bomba de sódio”
Em um vídeo publicado nas redes sociais pela organização do evento, um dia antes da competição, um dos organizadores usa a expressão “bomba de sódio” para descrever uma etapa da preparação dos atletas antes de subirem ao palco. Veja o vídeo acima.
Nas imagens, o organizador pede pontualidade aos participantes para evitar atrasos e destaca a importância da preparação adequada:
“A gente não pode apresentar vocês com pintura mal feita, escorrendo, vocês na euforia, sem tempo para um belo aquecimento, uma bomba de sódio, um pump legal. Então precisa dar tempo de pintar, aquecer, fazer a bomba de sódio e entrar calmo no palco”, diz ele no vídeo.
Segundo o presidente da Federação de Culturismo e Fitness de Mato Grosso do Sul (IFBB-MS), Amado Moura, o termo “bomba de sódio” refere-se a uma técnica usada no fisiculturismo que consiste no aumento da ingestão de alimentos ricos em sódio combinado à redução do consumo de água.
O objetivo é melhorar, de forma temporária, a vascularização e a definição muscular. Na prática, os atletas consomem alimentos com alto teor de sódio para estimular a retenção hídrica nos tecidos, o que contribui para uma aparência mais “seca” e vascularizada no palco.
No entanto, o médico do esporte Vitor Moreira alerta que esse tipo de prática, quando realizada em excesso, pode representar sérios riscos à saúde.
“Esses métodos forçam os rins e podem alterar os eletrólitos — os minerais presentes no sangue. Alterações agudas, feitas de forma repentina, podem provocar arritmias e problemas cardíacos. Até pessoas sem doenças pré-existentes podem sofrer episódios graves nessas condições”, explica o médico.
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Anabolizantes e medicamentos
Outro ponto crítico levantado pelo especialista é o uso frequente de anabolizantes e medicamentos com finalidades diferentes das recomendadas. De acordo com Moreira, há atletas que utilizam substâncias hormonais que interferem na função erétil, bem como medicamentos de uso pulmonar, como bronco dilatadores, para aumentar a queima de gordura e acelerar o metabolismo, com foco na definição muscular.
“É muito raro, quase inexistente, um atleta profissional chegar nesse nível sem o uso dessas substâncias. Até existe uma categoria de fisiculturismo que prega o natural, com aplicação de testes antidoping, mas como praticamente nenhuma federação realiza esse controle, a maioria — para não dizer todos — faz uso de diversos tipos de esteroides anabolizantes e outras substâncias”, afirma.
O médico destaca que os principais riscos associados à morte súbita estão ligados ao sistema cardiovascular.
“O uso de anabolizantes e outras substâncias causa efeitos na pele, no cabelo e na voz. Mas os impactos mais graves envolvem o aumento da pressão arterial, alterações no perfil de colesterol — elevando o ruim e o bom —, além do risco de formação de trombos nas artérias e veias, o que pode levar a infartos e acidentes vasculares. Existe todo um processo inflamatório nos vasos que pode, sim, desencadear uma morte súbita”, conclui.
Entenda o caso
À polícia, um amigo de Wanderson contou que os dois vieram para a cidade participar do evento Pantanal Contest, realizado em um clube, no bairro Jardim Autonomista.
De acordo com o boletim de ocorrência, ele estava junto ao amigo quando teve uma parada cardiorrespiratória. Equipes de socorristas do evento fizeram o primeiro atendimento até a chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Segundo o amigo, o atleta tinha pressão alta.
Conforme um dos socorristas que atendeu Wanderson, que não quis se identificar, assim que chegou ao local a equipe fez cerca de 1h20 de massagem cardíaca, realizou seis choques, deu medicação, além de intubação, mas ele não resistiu. Mesmo diante da situação, o evento continuou.
Competição
O Pantanal Contest foi criado em 2021 em Cuiabá (MT) e é considerado o maior da modalidade no Centro-Oeste.
Nas redes sociais, a organização do evento publicou uma nota lamentando o ocorrido.
É com grande pesar que trazemos a notícia da perca do nosso grande atleta Wanderson , que no dia de ontem passou mal em sua 3º (terceira) competição seguida em Campo Grande Ms não resistindo e falecendo. Reforçamos nosso compromisso com a segurança dos nossos atletas onde em menos de 20 segundos nossa equipe de paramédicos e ambulância presente no local entrou em atendimento ao atleta e em menos de 5 minutos mais 2 unidade de SAMU com U T I também deram toda resposta rápida para o atendimento , foram feitos todos procedimentos necessários para sua recuperação . Importante : reforçamos aqui a IMPORTÂNCIA do atleta manter seus exames em dias e não ocultar nada do seu treinador / médico / Coach. Ele deixa esposa e filhos.
Wanderson Da Silva Moreira tinha 30 anos.
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Morte de atleta em competição abre alerta sobre cuidados de saúde no esporte
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