Moradores denunciam alterações no Parque da Água Branca, feitas sem autorização do Conpresp, para receber evento privado


Evento de arquitetura foi autorizado para ocorrer em dois prédios, mas conselheiros do parque foram informados de que ele ocuparia mais de seis edificações. Além dos espaços adicionais, conselheiros e frequentadores também denunciaram alterações nos jardins do parque. Moradores denunciam irregularidades na concessão do Parque da Água Branca
Conselheiros do Parque da Água Branca, na Zona Oeste de São Paulo, alegam que áreas do local estão sendo alteradas pela concessionária responsável pela realização de um evento de arquitetura, sem autorização do Conpresp, órgão municipal que regula o patrimônio histórico da capital.
O evento é da Casacor e expõe objetos de design e decoração. Está oficialmente autorizado a acontecer apenas nos prédios 22 e 23, segundo decisão do Conpresp. No entanto, em reunião com o conselho gestor do parque, a Reserva Parques Urbanos – responsável pela concessão – informou que a estrutura do evento ocuparia outros espaços: os prédios 12, 13, 14 e 30, além da área 55 e dos jardins.
Justiça de SP manda paralisar obras de churrascaria no Parque da Água Branca, sob pena de multa
Na segunda-feira (13), a Justiça barrou as obras de construção de uma churrascaria no local. (veja abaixo).
Além dos espaços adicionais, conselheiros e frequentadores denunciaram mudanças nos jardins do parque.
O solo natural e a vegetação original foram substituídos por caminhos impermeáveis e plantas ornamentais exóticas, típicas de decoração de condomínios.
A vegetação do parque é protegida por lei desde a resolução de tombamento e teve sua proteção reforçada pelo Plano Diretor aprovado em 2021, que estabelece que toda a vegetação do parque é tombada e protegida permanentemente. Todos os exemplares são considerados patrimônio ambiental e imunes ao corte.
“Virou um canteiro de obras, com a destruição da natureza, das árvores e dos animais, né? Eles não encontram mais ambiente. As aves, a maioria, estão recolhidas. Me dá agonia, profunda tristeza e também raiva, porque não era para isso. Não foi para isso que nós lutamos para tombar o parque”, diz Yara de Abreu, professora.
O advogado Pedro Grzywacz, da associação de moradores do entorno, afirma que as intervenções em jardins, ruas internas e outras áreas não autorizadas tornam a situação ainda mais irregular. “Como eles não tiveram nem sequer processo de pedido de regularização ou pedido de intervenção nas ruas e na jardinagem do parque, junto ao Conpresp, a irregularidade é total, porque o parque é tombado inteiramente.”
O que dizem os envolvidos?
A Reserva Parques Urbanos respondeu à reportagem por meio de nota, afirmando que o evento foi autorizado pelos órgãos competentes para uso dos prédios 12, 22 e 23, além de parte dos jardins. A empresa alegou que as demais áreas estão sendo usadas apenas para apoio logístico e sob responsabilidade da produção do evento.
A Casacor, organizadora do evento no Parque da Água Branca, afirmou que tem autorização dos órgãos de patrimônio para três prédios e para os jardins. Disse ainda que os demais prédios citados na reportagem foram cedidos pela concessionária para uso operacional e que, nesse caso, não há necessidade de aprovação dos órgãos de patrimônio.
Já a Secretaria Estadual da Cultura e a Prefeitura informaram que aprovaram intervenções em apenas dois prédios: a Casa do Fazendeiro e o antigo Instituto da Pesca. Nos demais espaços citados, foi autorizado apenas o uso.
Obra de churrascaria
Conselheira denuncia obras ilegais de churrascaria dentro do Parque da Água Branca
Na segunda-feira (12), a Justiça de São Paulo determinou a paralisação imediata das obras para instalação de uma churrascaria no Parque Estadual da Água Branca, na Zona Oeste da capital paulista.
A decisão liminar (provisória) é do juiz Marcio Ferraz Nunes, da 16ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, que analisou uma Ação Popular movida pela vereadora Luna Zarattini (PT).
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Em 6 de maio, a Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp) também havia determinado a suspensão das obras.
As intervenções estavam sendo realizadas pela empresa Fazenda Churrascada, com aval da concessionária Reserva Parques, responsável pela gestão do espaço desde 2022.
Conforme o g1 revelou, o restaurante da Fazenda Churrascada começou a ser erguido dentro do antigo estábulo da Polícia Militar do parque com a aprovação da concessionária, mas sem a autorização dos órgãos de preservação histórica da cidade e do estado.
Inaugurado em 1929, o Parque da Água Branca é tombado pelo Condephaat desde 1996 e pelo Conpresp desde 2004. Qualquer obra em suas estruturas precisa de autorização prévia desses conselhos.
Porém, no pedido de uso do espaço feito pela Fazenda Churrascada ao Conpresp, não existe nenhuma menção a obras dentro ou fora do estábulo, apenas montagem e desmontagem de equipamentos e mobiliário de restaurante, incluindo uma tenda do lado de fora. Também não houve nenhuma autorização para esse tipo de alteração do espaço à concessionária.
Obras realizadas na área da antiga área de estábulos do Parque da Água Branca, na Zona Oeste, sem autorização do Conpresp.
Montagem/g1/Rodrigo Rodrigues
Críticas à nova administração
A Associação de Moradores de Perdizes criticou a gestão do Parque da Água Branca, que passou à iniciativa privada há quase três anos. Segundo a entidade, o espaço perdeu o caráter público e vem sendo descaracterizado, com o fechamento de áreas tradicionais como o Aquário, o Museu Geológico e os cursos voltados para idosos, enquanto eventos como a Casa Cor e a instalação de uma churrascaria ganharam destaque.
A feira de produtos orgânicos, presente no parque desde 1991, foi retirada do galpão original sob justificativa de reforma. No entanto, o espaço reformado foi cedido à churrascaria. A conselheira Regina Lima afirma que os agricultores não foram reintegrados e critica a ausência de explicações.
Outra queixa é sobre os animais, que antes circulavam soltos e agora estão confinados em viveiros coletivos. Segundo os moradores, a medida foi justificada pela gripe aviária, mas as aves continuam presas mesmo após a ameaça ter passado.
Em março de 2024, o g1 já havia mostrado que, um ano e meio após a concessão, o parque apresentava brinquedos quebrados, prédios históricos em ruínas e banheiros em más condições. atualmente, embora o local esteja mais limpo e com brinquedos infantis reformados, os principais banheiros continuam em estado precário e vários prédios permanecem interditados com fitas de isolamento.
A Reserva Parques, responsável pela gestão, afirma que as obras seguem o cronograma previsto no Plano de Intervenções, com prazo até 2028 para conclusão. A empresa disse ainda que pretende antecipar reformas em alguns banheiros e que a feira orgânica será transferida para outro espaço no parque, ainda em projeto.
A Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística confirmou que a concessionária está dentro dos prazos estabelecidos em contrato.
Prédios sem manutenção no Parque da Água Branca e isolados com fitas e cones, quase três depois da concessão à iniciativa privada.
Montagem/g1/Rodrigo Rodrigues
Situação dos banheiros principais do Parque da Água Branca, em registro feito no dia 26 de abril de 2025.
Rodrigo Rodrigues/g1
Feira de produtos orgânicos que funcionava desde 1991 dentro do Parque da Água Branca foi desalojada para dar lugar a um playground.
Montagem/g1/Reprodução/TV Globo/Rodrigo Rodrigues
Playground montado dentro do Parque da Água Branca pela Reserva Parques, no local onde era a feira de produtos orgânicos que funcionava desde 1991.
Rodrigo Rodrigues/g1
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