Pode beber água da torneira? Especialista aponta os riscos

Água mineral e filtrada são as indicadas para consumoReprodução Freepik

Abrir a torneira e saciar a sede é um gesto automático para milhões de brasileiros. Mas será que a água que chega às nossas casas é tão segura quanto parece? O especialista Rodolfo Bonafim, com 25 anos de experiência na ONG Amigos da Água, lança um alerta: a potabilidade teórica pode esconder perigos reais, desde contaminações no trajeto até a ameaça silenciosa dos disruptores endócrinos.

A jornada da água, desde a estação de tratamento (ETA) até o copo, é longa e suscetível a imprevistos. “Água da torneira, teoricamente falando, seria potável. Por quê? Porque ela passou por um processo de tratamento por meio de uma estação de tratamento de água antes de chegar a nossas torneiras”, explica Bonafim em entrevista ao Portal iG.

No entanto, ele pondera: “O problema é que durante o trajeto da água, desde o tratamento até nossas residências, ela passa por diversos encanamentos que podem estar enferrujados, com areia, pedrinhas, folhas, micro-organismos ou bactérias que podem causar Salmonelose, a salmonella.”

Essa contaminação intermediária é o principal motivo pelo qual Bonafim não recomenda o consumo direto. “Filtrar essa água é a solução para esse problema. Existem vários tipos de filtros, e uma boa fonte de informação sobre qual usar é o site do Inmetro”, afirma, acrescentando que alguns são focados em impurezas físicas e outros em micro-organismos.

A ameaça invisível dos disruptores endócrinos

Além dos contaminantes mais conhecidos, Bonafim destaca um perigo mais sutil e preocupante: os disruptores endócrinos. “São resíduos de remédios que nós tomamos, como por exemplo, anticoncepcionais, antidepressivos, que são eliminados pelas fezes, pela urina, e são jogados na rede pública que podem estar presentes, inclusive estão presentes em rios, lagos, nascentes, córregos, estuários, mares e manguezais”, detalha ao Portal iG.

O grande problema, segundo o especialista, é que os resíduos são pequenos e as membranas de filtração das estações de tratamento de água não conseguem reter as impurezas que podem afetar o nosso organismo.

“Esses disruptores endócrinos passam despercebidos pelo nosso sistema de defesa, e a gente não sabe o que pode causar de prejuízo ao corpo humano”, alerta Bonafim. Ele menciona os riscos particulares para mulheres grávidas ou na menopausa, devido à sensibilidade do sistema hormonal. A dimensão completa dos danos ainda é desconhecida.

Esses compostos também entram na cadeia alimentar, pois podem ser ingeridos por peixes que posteriormente serão consumidos pela população.

Mas afinal, qual água beber?

Diante desse cenário, quais seriam as fontes mais seguras de acordo com o especialista. “Fontes de águas potáveis confiáveis seriam aquelas águas minerais, aquelas que geralmente a gente toma, a gente compra no supermercado ou compra em bares e padarias,” indica Bonafim.

Ele adverte que mesmo águas de fontes naturais, colhidas diretamente, podem não ser seguras, pois não se sabe por onde passaram. A garantia vem de empresas certificadas por órgãos como a Agência Nacional de Águas (ANA).

Identificar a qualidade da água em casa, visualmente, tem seus limites. “A água boa para beber, a água potável, não pode nem ter cor, nem cheiro e nem gosto,” diz Bonafim. Qualquer alteração é um sinal de alerta. Testes mais precisos, como medição de pH e turbidez, requerem análises laboratoriais.

A importância vital da água e soluções complexas

Apesar dos desafios, a água é fundamental. “A água é importantíssima no nosso organismo, porque ela é o solvente universal,” ressalta o especialista, citando seu papel na digestão, circulação e função cerebral. “Beber água adequadamente, pelo menos oito copos de água por dia, é realmente muito saudável.”

Ele também menciona processos avançados de purificação, como a osmose reversa, capaz de remover sais e impurezas, mas ressalva. “Esse é um processo muito caro, que é muito usado em países árabes ricos e em locais com escassez ou contaminação severa da água”, complementa o especialista ao Portal iG.

A conclusão de Bonafim é um chamado à conscientização: ” Preservar os recursos hídricos e buscar formas mais eficazes de tratamento e monitoramento são cruciais, pois sem água não há vida. Simples assim.”

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