O riso que faz pensar: Denise Fraga bate um papo como GPS|Brasília sobre humor e empatia

O riso que faz pensar: Denise Fraga bate um papo como GPS|Brasília sobre humor e empatiaTiago Fernandes

Uma aula de sensatez. Assim pode ser diagnosticada a conversa com Denise Fraga, uma das mais respeitadas atrizes do País, que há décadas transita com maestria entre o teatro, o cinema e a televisão. Do sucesso estrondoso da série Retrato Falado às atuações marcantes em novelas, filmes e nos palcos, Denise sempre se destacou por personagens que dialogam com o cotidiano do brasileiro.

A atriz leva aos palcos do Brasil histórias reais enviadas pelo público, costuradas com trechos de literatura, música e poesia. Em um contexto que pode ser visto como um empobrecimento intelectual, a atriz acredita que vivemos uma diminuição da percepção da ironia e uma decadência da sutileza. No entanto, Brasília foi elogiada. “Brasília se mantém conectada a esse olhar mais sensível para a arte”, disse, em entrevista à GPS|Brasília.

Durante a entrevista, a atriz também comentou a boa fase do cinema nacional, com o premiado Ainda Estou Aqui e a continuação de O Auto da Compadecida, filme do qual fez parte. Longe dos holofotes, Denise continua exercendo sua missão de provocar o riso que faz pensar – um riso que, como ela mesma define, não é qualquer um, mas aquele que nasce do reconhecimento e da empatia.

Você fala com muito carinho sobre Brasília. Como é sua relação com o público e com a cidade?

Brasília é uma cidade que eu respeito muito. Muita gente não entende a cidade, associando-a apenas à política, e isso é uma pena. Existe uma vida cultural, um público interessado, atento. Tem conversas instigantes. E algo que observo viajando com o teatro é que há públicos que têm o “código poético” mais afinado, que entendem ironia, metáforas. Temos vivido um empobrecimento intelectual, subjetivo, muito pela vida digital. Vivemos realmente uma queda da percepção da metáfora, da percepção da ironia, uma decadência da sutileza. Mas Brasília ainda se mantém conectada a esse olhar mais sensível para a arte.

Em resumo, Brasília é uma cidade que entende a piada?

É isso. Aquele timing cômico que você fala ‘ih, não entenderam’ ou ‘ih, não funcionou’. Eu sinto que a ironia está sendo menos percebida no resto do País todo.

O que diferencia um riso qualquer de um riso que realmente importa?

Não é todo o riso que vale, não é todo o riso que determina qualidade, porque a risada é uma expressão. Quando fazia Trair e Coçar É Só Começar, eu tinha 24 anos, eu me lembro de sair de cena certa vez insatisfeita. Meu colega de elenco, Roberto Pirillo, estranhou e disse: “mas eles estão rindo!”. Se eu subo no palco e eu faço uma piada homofóbica pode ter gente na plateia que vai rir, mas esse riso não me interessa.

E qual é a risada que você mais gosta?

A risada que eu mais gosto é a risada que eu chamo de “pior que é que é”. Aquela risada que dá uma morridinha, porque o cara se reconhece e ele fala: “pior que é, a gente faz isso”. O que eu mais gosto da verdade é essa potência revolucionária que o humor tem de fazer a gente se reconhecer. A coisa que eu mais gosto é de fazer uma pessoa rir e ao mesmo tempo provocar um estado de reflexão.

Sobre o espetáculo: todas as histórias apresentadas são reais?

Sim, são histórias reais. Fizemos um anúncio convidando as pessoas a compartilharem relatos de vida. Disse algo como: “Quero subir no palco para contar suas histórias, para calçar seus sapatos e trilhar o que você trilhou. Eu quero olhar pelo seu olhar, eu quero vestir você, eu quero ser ‘Eu de Você’”. Recebemos quase 300 relatos e trabalhamos em torno de 25 deles. Uma moça que foi ver a peça falou algo tão bonito: “vocês fizeram uma colcha de retalhos que cobre todos nós”. E eu gosto muito dessa ideia.

Depois de tantos anos de palco, o que o teatro representa para você?

O teatro para mim é um templo em que você vai recuperar o gosto pela vida, é algo que te dá mais compreensão até da imperfeição humana. Se duas pessoas têm a mesma educação formal, mas uma delas consome teatro, literatura, música, cinema e a outra não, a diferença entre elas será enorme. A arte humaniza.

O cinema nacional está em evidência com O Auto da Compadecida 2. Você fez um personagem no primeiro filme. Como foi fazer parte desse clássico?

Foi incrível! Quando estamos trabalhando, nunca sabemos no que aquilo vai se transformar. Mas lembro que, ao ler o roteiro, já gargalhava – e isso era um ótimo sinal. Fico muito feliz de ter participado de algo que hoje é um clássico nacional do cinema.

Você chegou a ter esperança de estar na continuação?

(risos) Essa pergunta me fazem há dois anos. Mas gente, eu morri no primeiro filme.

Falando de Ainda Estou Aqui, como tem sido ver o sucesso do filme e o reconhecimento da Fernanda Torres?

A Nanda é uma mulher muito interessante e uma atriz extraordinária. Ver esse holofote sobre ela e sobre essa história é emocionante. Eu vi a Nanda falando por aí que os brasileiros não têm ideia da nossa cultura. Precisamos celebrar a cultura brasileira. Estamos em festa. Que lindo a gente ver um país torcer por artistas desse quilate como torcem para jogador de futebol.

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